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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

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Sete Vidas Como os gatos

12
Fev08

Auto da Mazurca

Rui Vasco Neto
Caí no disparate de me confessar chateado com a existência, em conversa com o meu amigo Daniel de Sá. Juro que esperava umas queijadinhas da Vila, uma garrafita de verdelho dos Biscoitos, um litro do meu mar ou um frasco com ar da Maia, o bastante para me fazer feliz. Respondeu-me logo. «Meu caro, se estás aborrecido talvez um texto humorístico te ajude. Este que te mando, e fora os amigos do costume, está inédito. Escrevi-o a propósito da entrada do Paulo Coelho na Academia Brasileira. A cena narrada é verdadeira. Aquela tal Mazurca (nome autêntico) faz colecção de autógrafos de escritores na própria capa. Não sei se não a lava para não apagar as recordações das celebridades, ou se se limita a fazer daquilo o que em arte moderna se chama arte do efémero, ou algo assim, de que só pode ficar memória em fotografias.» E pronto, aceitei e agradeci. Agora publico. E amanhã queixo-me outra vez.

Em baixo: "Auto da Mazurca"
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá

Personagens:

Gaúcho

Caipira


Gaúcho – Os sábios da Academia

Escolhem mui bem seus pares.

Caipira – Pois quem melhor poderia

Escolher

Os doutores que poria

Nos nichos dos seus altares?

G – A saber:

São todos da mesma escola.

C – Talvez não... há diferenças...

G – Mas muito fortes par’cenças...

E deram esta de esmola:

Lá conseguiram tirar

Um Coelho da cartola.

C – Tens inveja do proveito?

G – Nem pensar!

À noite, quando me deito,

Dou voltas na minha cama,

Mas nunca perdi o sono

Por um trono,

Quinze minutos de fama,

Ou mais que pão p’ra comer

E roupa para vestir.

C – E que mais querias ter?

G – Querer mais é ter motivos

De carpir.

O que importa é sermos vivos.

C – Cada qual tem o seu teto,

Só nele deve chupar,

Mas não chupe até secar.

G – Pois... e a Mazurca Barreto

Pôs os seus dois bem à vista.

C – Como foi? Conta-me a história.

G – Tinha uma capa assinada,

Por gente muito afamada,

Que quer ficar na memória

De umas quantas gerações.

Com um simples gesto apenas

Despiu-a,

Entre tantos figurões

Ciosos de suas penas.

C – E aquela gente viu-a?

G – De calcinhas transparentes.

C – Mais nada?

Era o mesmo que ver tudo...

Oh! que almas impenitentes!

Oh! que mulher descarada!

(Mas eu gostava de ver...)

G – Olha que um corpo desnudo

No meio da multidão

Nunca é de apetecer.

C – Não vejo a dif’renciação...

G – Todo o sentido se muda

Na mulher que se desnuda

Ante mil olhos ou dois.

C – Por quem sois...

G – Não há qualquer semelhança.

C – Não percebo onde a mudança...

Não é como estarmos sós?

G – Quem parece nu então,

Numa tal ocasião,

Não é o nu, somos nós!

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