17
Dez07
Hibernanços
Rui Vasco Neto
Nem toda a hibernação será pecado, estou certo. Nem todo o parar será empurrão e apito, falta e cartão amarelo, penalty passível de desconto de tempo ou terminal desclassificação. Afinal que porra de corrida é esta, se me é permitida a questão? Eu cá até fiz os mínimos, ultrapassei, pontuei, classifiquei, embasbaquei, improvisei e até hilariei, se é que existe o verbo. Depois acabei. Pronto. E então?
Sou um rapaz completo, insurrecto, sem tecto, ambirecto, neto, não anacleto, predilecto e um prodígio de incumprimento na exacta medida do rigor pré programado com milénios de antecedência. Sou uma coisa e o contrário dessa coisa, outro prodígio ou nem tanto, já que todo o universo é feito de equilíbrio entre contrários, bem e mal, macho e fêmea, certo e errado, Yin e Yang ou o branco e preto de um esforço inglório de perfeição que se acaba em si próprio no limitado parir do cinza eterno que é a entediante existência humana. Eu cá sou isso e o resto, sou o aquilo e o aqueloutro, o outrossim e o no entanto, um enfim, sempre um encanto, um portento e um portanto, só talvez e sem porquês. Não vês? Como é que não vês, nem só uma vez, só uma vez? Eu sou assim e sou assado, sou frito ao sol de todas as primaveras passadas, cozido no banho maria das minhas perdidas convicções, fatiado com requintes e servido às postas finas, sem tempero nem acompanhamento, para evitar riscos de manifesta indigestão nos indígenas que se chegam sorrateiros ao cheiro do repasto.
Lembra-te. Eu sou eu e sou tu se o eu te quiser muito e o tu se distrair na passada ou se o tu tanto me quiser que o eu não tenha palavrinha a piar neste gorjeio agora a dois. Eu sou raio e sou trovão, luz e barulho, mostly, incêndio e fogo fátuo, tragédia e incidente sem perigosidade de maior. Mas sempre um risco, sempre, permanente e manifesto, de queimadura do quinto grau elevado à décima potência de toda a nossa infinita impotência para lidar com esta coisa estranha e merdosa a que tão pomposa e despropositadamente chamam vida. Por isso hiberno, de vez em quando.
Sobretudo no Natal.
Sou um rapaz completo, insurrecto, sem tecto, ambirecto, neto, não anacleto, predilecto e um prodígio de incumprimento na exacta medida do rigor pré programado com milénios de antecedência. Sou uma coisa e o contrário dessa coisa, outro prodígio ou nem tanto, já que todo o universo é feito de equilíbrio entre contrários, bem e mal, macho e fêmea, certo e errado, Yin e Yang ou o branco e preto de um esforço inglório de perfeição que se acaba em si próprio no limitado parir do cinza eterno que é a entediante existência humana. Eu cá sou isso e o resto, sou o aquilo e o aqueloutro, o outrossim e o no entanto, um enfim, sempre um encanto, um portento e um portanto, só talvez e sem porquês. Não vês? Como é que não vês, nem só uma vez, só uma vez? Eu sou assim e sou assado, sou frito ao sol de todas as primaveras passadas, cozido no banho maria das minhas perdidas convicções, fatiado com requintes e servido às postas finas, sem tempero nem acompanhamento, para evitar riscos de manifesta indigestão nos indígenas que se chegam sorrateiros ao cheiro do repasto.
Lembra-te. Eu sou eu e sou tu se o eu te quiser muito e o tu se distrair na passada ou se o tu tanto me quiser que o eu não tenha palavrinha a piar neste gorjeio agora a dois. Eu sou raio e sou trovão, luz e barulho, mostly, incêndio e fogo fátuo, tragédia e incidente sem perigosidade de maior. Mas sempre um risco, sempre, permanente e manifesto, de queimadura do quinto grau elevado à décima potência de toda a nossa infinita impotência para lidar com esta coisa estranha e merdosa a que tão pomposa e despropositadamente chamam vida. Por isso hiberno, de vez em quando.
Sobretudo no Natal.