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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

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Sete Vidas Como os gatos

01
Abr08

Diário de um April's Fool

Rui Vasco Neto
Hoje fiz uma visita rápida aos estúdios de televisão da Valentim de Carvalho. Aparentemente escolhi o dia das mentiras para o fazer, nem pensei na data. Fiz o caminho de sempre, pela força do hábito. Entrei pela porta do estúdio 2, o 'meu' estúdio, onde hoje se fazem 'As tardes de Júlia'. E com tanta pontaria o fiz que encalhei na porta estreita em direcção contrária à maré vazante do público que faz a figuração de plateau, umas dezenas de pessoas cuja maioria trabalhou também comigo durante os anos do 'Vidas Reais', naquele mesmo estúdio. Juro que a cena valia um Óscar, nem que fosse Acúrcio! A cara daquela gente que me conhece e que eu conheço, a expressão de incredulidade, o não saberem o que fazer, se andar, se parar, se falar, se acreditar ou não no que os olhos lhes diziam!! O episódio vai ficar como mais uma das minhas (muitas) estorietas de vida. Eu, pelo meu lado, estava dividido entre o sorriso algo divertido e o embasbacanço algo constrangido de quem se vê assim visto, qual Lázaro depois do túmulo, levantado e a andar pela graça divina.

A situação tinha alguma piada no ar e toda a gente estava sem saber muito bem o que dizer ou fazer, quando uma senhora de repente estaca na minha frente e começa a passar de azul pálido a verde-roxo e daí para uma brancura de face que quase nos matou de susto a todos, a começar por mim. Lá segurei a senhora, dois beijinhos, sente-se aqui, sente-se melhor? Lá recuperou o fôlego, pobre criatura, que com genuína emoção me explicou o baque que o seu coração já gasto tinha sentido ao ver ali, vivinho da costa e "a sorrir para mim, veja só!" o mesmo tal que o jornal tinha dito estar morto e enterrado, "meu Deus, como eu chorei, o senhor Rui não imagina, ai que feliz que eu estou de o ver...". Nas palavras de uma entroncaram as dos outros, todos com uma história para contar, o que faziam naquele dia em que souberam a notícia, quantos ais soltaram e quantas orações rezaram, o que se tinha dito e comentado, o que disse este e aquele e o outro... e tudo nos dias seguintes à famigerada publicação, pelo 24Horas, da notícia do meu passamento, dada por esse ícone chonchudo do jornalismo nacional que dá pelo nome de Castro, o Carlos.

Ali ficámos um nadita à conversa, entupindo a saída do estúdio onde ainda se gravavam as promos para o dia seguinte. O espectáculo tem que continuar, todos o sabemos. Banhei a alma naquelas beijocas repenicadas e retirei-me devidamente apalpado pelos apertões necessários e suficientes para o pessoal saber que estou vivo e quente, ainda a mexer. Vim consolado de afectos genuínos e desinteressados, mas a pensar no peso que tem a informação. E também no nosso Nunes, António, o tal que devia zelar pelo bem estar de todos nós. Vejamos: em cada maço de tabaco, por exemplo, consta a inscrição "Fumar prejudica gravemente a sua saúde e a de todos os que o rodeiam". É lá posta para prevenir os danos que o consumo daquele produto pode causar. Lembrei-me mais uma vez do rosto lívido daquela senhora que desmaiava nos meus braços de fantasma defunto, intoxicada por uma informação estragada, à venda ao público por um jornal diário. E não resisto a perguntar, mais uma e outra vez: então e um aviso luminoso, sonoro, bilingue, em cada exemplar daquele pasquim merdoso, não seria uma medida higiénica, to say the least? Nunes, António, pá: para quando, caraças?

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