Cântico da mãe escrava ao filho morto
Em baixo: "Cântico da mãe escrava ao filho morto".
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá.
fechava, pelos teus, estes meus olhos
que a dor cega, e de novo tu verias.
Ai meu filho, ai meu filho, tens escritas
a ferro e fogo as marcas do destino,
na pele que era seda tão macia
e os olhos orvalharam de tristeza,
Ai meu filho, ai meu filho, estes que choram
lembrando que de ti eu sempre soube
que meu seria só teu sofrimento.
Como doía, ai Deus, e dói ainda,
o tronco, o viramundo, a gargalheira,
ou a peia, a gonilha e os mais tormentos
com que viveste a morte em cada dia!
Mas eu devia rir, que já não sofres!
Ai meu filho, ai meu filho, eu cantarei
“Aleluia! Aleluia!” Finalmente
és ave libertada, és anjo, és tudo
o que eu mais desejava que tu fosses,
porque menos que a morte não podia
da própria morte em vida libertar-te.
(Nota: Mais Daniel de Sá no sítio próprio, aqui.)