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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

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Sete Vidas Como os gatos

31
Jan08

Vidago, mas vi mal.

Rui Vasco Neto
A família de Manuel Correia chega num vendaval de emoção ao IPO do Porto. O caso não era para menos, que o seu Manuel estava por lá na morgue, cadáver, a aguardar nada mas ali. Descem ao frio e pedem o seu morto, "é este?", terá perguntado o funcionário das gavetas, "é sim senhor", terá respondido a família a meio do desvio de olhos de quem tenta em vão escapar à verdade suprema da Vida. 'Siga, então!', terá sido o veredicto do entregador de corpos. E seguiu mesmo, foi para Vidago, onde já estava até a ser velado e chorado quando finalmente disseram àqueles vivos que aquele morto também estava morto, sim senhor, mas não era o morto que lhes tinha morrido, tenham paciência, desculpem e muito obrigado. E desculpas ao falecido, evidentemente, para a próxima vez correrá tudo melhor, muito obrigado e desculpe.

Com a família de Manuel Correia ainda a derramar lágrimas em Vidago no corpo presente do seu morto ausente, a família de Joaquim Moreira vai procurá-lo defunto ao mesmo IPO de onde saira Manuel Correia a caminho de Vidago. Conhece o mesmo funcionário generoso nos congelados, mas é mais atenta no enfrentar da morte cara a cara. E encontra quem, o seu Joaquim? Claro que não, conhece Manuel, o mesmo por quem os sinos dobram em Vidago. E pronto, lá vem o IPO dizer àqueles vivos que aquele morto também estava morto, sim, mas não era o morto que lhes tinha morrido, tenham paciência, desculpem e muito obrigado. E desculpas ao falecido, evidentemente, para a próxima vez correrá tudo melhor, muito obrigado e desculpe.

Confrontado com esta sua interpretação sui generis de eterno descanso, o IPO já mandou dizer que o funcionário terá sido culpado e que foi já transferido de funções. Que foi uma chatice, sim, sabem, coisas que acontecem a quem está vivo. Mas não deixa de apontar o dedo aos familiares de Manuel Correia, a quem o IPO atribui a culpa maior nesta situação, por terem sido demasiado emotivos. E por não terem sabido escolher o morto certo no self service da sua morgue. Tudo isto esta noite, no Jornal Nacional.
31
Jan08

Rebeldias anais

Rui Vasco Neto
Publica o Juventud Rebelde, diario de la juventud cubana, na sua edição de ontem, um extensíssimo artigo sobre sexo anal, o 'outro camino al placer'. Nele se explica detalhadamente como evitar 'la contracción de los músculos anales, que se comportan como si estuviesen combatiendo una invasión', nele se compreende o 'temor que generan tales prácticas y hace que el ano se tense automáticamente' e nele se ressalva até um inegável direito de escolha: 'Es lógico entonces que la pareja pasiva opte por decir «no»'. Está tudo bem explicadinho por lá, confiram e verão. E não foi escrito por Reinaldo Arenas.

Achei curioso, confesso. Não sei porquê tinha uma ideia errada dos cubanos. É que era capaz de jurar que quase cinquenta anos a levar com Fidel era profilaxia mais que suficiente para se aprender a levar no cu.
31
Jan08

Falta de óleo

Rui Vasco Neto
O esquema de corrupção nas inspecções automóveis desmontado pela PJ tem os pormenores de um clássico do crime organizado. Não sei se pelas importâncias em jogo (quem poderá dizer quanto, ao certo?) mas seguramente pelas técnicas usadas para manter alta a maré do sacanço à nota do incauto. A Polícia Judiciária fez ontem uma rusga ao Centro de Inspecção de Veículos (CIMA) de Oeiras, numa operação da qual resultou a constituição de 15 arguidos, dez dos quais inspectores daquele centro, tendo ainda sido sinalizadas um total de 30 oficinas e residências naquela zona. A operação, noticiada hoje pelo DN, insere-se no âmbito do combate à corrupção e foi uma acção conjunta entre a Direcção Central de Investigação de Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira da PJ e do Instituto de Mobilidade dos Transportes Terrestres (IMTT). Os arguidos são suspeitos do crime de corrupção passiva e acto ilícito.

A inspecção resultou de uma denúncia, ontem confirmada, in loco, pelos agentes da PJ e técnicos do IMTT, que naquele centro uma rede de técnicos fazia passar veículos, sem condições legais de circulação, a troco de dinheiro. O esquema abrangia tanto veículos propriedade de empresas como de particulares. Algum tempo após a chegada da equipa da PJ, os portões do Centro foram encerrados, continuando apenas a realizar-se a inspecção dos automóveis que já se encontravam em análise. À fiscalização dos equipamentos seguiu-se o interrogatório aos técnicos do centro e administrativos, que se prolongou por longas horas, no interior das instalações. De referir que na última semana foi tornada pública a denúncia de um esquema, também em centros de inspecção automóvel, que consistia no aluguer de peças para os veículos com o propósito exclusivo de passar nos exames de inspecção. No entanto, não foi possível confirmar se esta situação está ou não relacionada com a operação ontem levada a cabo.

O número de centros de inspecção em funcionamento estimava-se em 2004 em 170, pertencentes a 76 entidades autorizadas pela Direcção--Geral de Viação. Credenciados estavam, na mesma altura, cerca de 850 inspectores a exercerem actividade diária em centros de inspecção, que realizam anualmente perto de cinco milhões de inspecções a veículos, com uma taxa de reprovação que era superior a 20%, ligeiramente superior à registada em alguns países da UE. O que remete para o grande pormenor deste esquema fraudulento agora desmontado pela PJ, já que esta suspeita ainda que, para legitimar as passagens fraudulentas nos exames, alguns centros chumbem indevidamente um determinado número de veículos para não chamarem demasiado as atenções aquando do apuramento das estatísticas nacionais de reprovações. Ou seja, qualquer pessoa que tenha cometido o erro de não olear a máquina que lhe deveria verificar o óleo.
30
Jan08

Carta aberta ao Zero

Rui Vasco Neto
Meu amigo, meu bom, querido e quase único amigo: peço-lhe calma, reflexão e serenidade. Julgo que posso falar por todos os criativos deste país quando lhe imponho esta súplica. Por todos os jornalistas, humoristas, piadistas, polemistas, caricaturistas, outros artistas e até turistas e pessoal da São Caetano à Lapa no geral. Não pense em abandonar-nos a todos. Se lhe passou pela cabeça escrever uma carta igual ou parecida com a que o nosso António mandou ao chefe, depois do chefe supremo lhe ter puxado as orelhas em discurso de Ano Novo (imperdoável o timming, eu sei) eu cá sugiro ponderação e reflexão profunda. Homem, é a sobrevivência da crítica portuguesa quem lho implora, nesta hora de perda de uma figura de topo, segundo lugar destacado, do anedotário nacional. Teremos sempre (aparentemente, pelo andar da coisa) o grande Alberto João, lá isso parece certo, temos também Mendes Bota, agora remix, e aqui e ali vão despontando novas promessas, sim, mas o amigo Zero não conquistou com tanto afinco esse lugar de cromo difícil na imensa colecção lusitana para agora atirar, pela janela da demissão, uma promissora carreira de pushing bag dos punhos de renda editoriais. Seja forte, carago! Vá-se a nós.

Aceite o conselho desta ruim cabeça e não desista da sua cruzada, missão, obessão, paixão, compulsão ou peregrinação à senhora da asneira que Portugal se habituou a acompanhar como um morango sem açucar que é diariamente servido com o café e sem cigarrinho para rebater, por cada vez que o amigo abre a boca. Faça o amigo muitos mais daqueles brilharetes de autoritarismo e palermice com que conseguiu o feito notável de piorar o que já era mau, pese necessário. Insista o caríssimo em ser odioso que o papel fica-lhe uma segunda pele, tem até a indispensável bigodaça. Seja sempre um arauto das más novas, ao invés de as insinuar no nosso viver com a vaselina dos espertos. Seja mau, se não conseguir manter o péssimo com que se notabilizou. Sempre ganha o Portugal dos pobres que na falta do pão assim enchem a barriguinha de riso com a rábula revisteira do seu trabalho. Sempre dá alma e coragem ao país dos tristes que somos sem si. Mas não desista, por favor, por mim, por todos, pelo PSD, pelo Dr. Portas, pelo Bloco e por todos os tijolos nacionais, não cruze os braços, não se apague por mais que eu sopre. O que diria Menezes na sua ausência, deixado a sós com uma obrigação de competência e acerto? E sobre que escreveria eu, não me diz? Não vacile, não hesite, não transija. Pesa nos seus ombros uma responsabilidade de igual quilate à do Bond, o agora casadoiro James. O amigo é único, precioso, é o zero da ambição lusitana. Não é um zero qualquer. É o nosso zero.
30
Jan08

Bom dia. Hoje eu bato palmas...

Rui Vasco Neto
...à subida de António Pinto Ribeiro a ministro do reino. Tenho duas dúvidas e uma certeza. Não sei se a Cultura portuguesa ganhará com isso, nem sei se a cadeira do poder vai conseguir estragar tão ilustre figura. Mas sei que é dos homens mais capazes, rectos e inteligentes que o meu país tem para fazer seja o que for que lhe peçam.

...às palavras do Presidente da República, ao proclamar, na abertura do Ano Judicial, que "o Estado de direito não pode ser refém daqueles que dispõem de maiores recursos"

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