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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

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Sete Vidas Como os gatos

16
Jul09

Piadinhas matinais

Rui Vasco Neto

É coisa antiga em mim, já topo à distância quando chega, é um daqueles sinais mesmo-mesmo inconfundíveis, pronto. É como o algodão, que não engana, só para dar uma ideia. Passo a explicar. Quando me começa a dar para contar aquelas piadinhas curtas, tipo estocada cirúrgica, humor à gota, o toca-e-foge da gargalhada poupadinha, como  "O que é que a massa diz ao queijo?" "Que massada..." , ou o queijo que responde? "Pfff, e eu ralado..." , ou então a impressora que diz para a outra impressora: "Olha lá, essa folha é tua ou é impressão minha?"... Pois é, quando eu começo assim é porque não sei mais o que raio dizer desta vida que me troca as voltas, é porque já estou assim para o meio taralhouco ou a caminho, digo eu... Ou então é porque ando outra vez a ouvir o Café da Manhã na RFM, uma coisa ou outra. Ou uma coisa ou outra.

09
Jul09

O tele-orijornal da RTP

Rui Vasco Neto

Sempre que posso faço questão de espreitar os telejornais da hora do almoço nos três canais, essa referência informativa que serve as peças requentadas da noite com alguma novidade do dia se não puder deixar de ser, devidamente tratada mais tarde, quando fôr noite. Essa é a tradição, que é o que era ainda e sempre, em televisão. Hoje as honras de abertura foram para a Gripe A, sessenta e dois casos confirmados em Portugal, com os meus Açores a reforçarem a sua presença no mapa desta pandemia, de forma tão significativa como preocupante.

 

A TVI abriu com a notícia, a SIC abriu com a notícia, a RTP abriu com Carlos Daniel a falar de um acidente de viação que tinha dois mortos e muitas imagens captadas por algum carro de reportagem que ia a passar, talvez, uns dois minutinhos de chapa retorcida e muitas manchas de sangue, só para abrir o apetite. Depois veio a gripe, claro, tudo igual aos outros daí para a frente, uma autêntica fotocópia editorial, que a imaginação continua muito, muito escassa. Mas a tradição, essa continua a ser o que era, definitivamente.

02
Jul09

Profissional

Rui Vasco Neto

Às vezes sinto falta de re-embalar na blogosfera, há que assumir. Quem sabe compreende, os outros paciência, é o costume. Vem isto a propósito do prazer sempre repetido que é ler Fernando Venâncio, meu amigo de letras e que possui convite vitalício para postar cá na casa, sempre e quando lhe der na mona. O que foi o caso, louvem-se os deuses. Um dia vou ao mail e lá está o dito, talvez não dito mas digo agora, pronto: um textículo, como lhes chamo, salvo seja. Eu li e gostei, mas isso sou eu, que gosto de quaae tudo no Fernando Venâncio, os senhores que façam o favor de avaliar por vós. O material, por assim dizer. Coisa de profissional, bidentemete. 

 

Em baixo: «Profissional»

Sete vidas mais umaFernando Venâncio 

 

Ele estava de calções de verão, e isso foi um erro tremendo. Tinha um boné esbranquiçado (seria sujidade, ou uso?), o que era uma suplementar infelicidade. Levava um cão pela trela, nem pequeno nem grande, raça indistinta, muito dócil, se não mesmo tímido, criando – animal e dono – uma conjuntura simplesmente desventurada. Pusera uns óculos escuros («Ficam-lhe a matar», disse para si mesma uma vizinha, que lhe adorava a barba grisalha), e aqueles óculos eram, se possível, o mais atroz dos azares.
 
Tinha dado, como sempre, a volta ao bairro, naquela manhã soalheira. Caiu ali, já de chave na mão, em cima do canteiro que mais esmerava. Uma bala chegou e sobrou.
 
Para um assassino profissional, e caro, um quarteirão a mais ou a menos, tanto monta.

02
Jul09

Verdades em directo

Rui Vasco Neto

Manifestação de polícias, mais uma, hoje, em directo nos telejornais do almoço. A repórter ouve vários manifestantes, revoltados. «Olhe, eu não posso dizer aqui porque é que há criminalidade, que o país ficava aterrorizado», diz um dos agentes. A repórter insiste, claro. «Mas nao quer dizer, diga lá...», e o agente acede com gosto: «Olhe, há criminalidade porque não nos pagam, essa é que é essa, agora as pessoas que pensem o que quiserem».

Eu, que sou pessoa, fiquei a pensar.

Porra!

02
Jul09

Faro dá bandeira

Rui Vasco Neto

É o mistério estival do momento, o último grito da incógnita. Os factos, esses, são claros e estão à vista. A praia de Faro, coração da Ria Formosa, cumpre todos os critérios e requisitos para ter Bandeira Azul. E tem. Quero dizer, tem mas está guardada, arriada por ordem da autarquia, como explica à Lusa Catarina Gonçalves, a coordenadora nacional do programa Bandeira Azul, único galardão oficial de qualidade nas praias que existe a nível europeu. «Apesar de a praia Faro-Ria cumprir todos os outros critérios para ter o galardão, a autarquia optou por cancelar o galardão da Bandeira Azul», tenta explicar Catarina Gonçalves. A Câmara confirma, diz que mandou arriar a bandeira porque «a Capitania do Porto de Faro emitiu um parecer desfavorável à utilização simultânea balnear e desportiva na praia de Faro-Ria, baseado num alegado conflito de usos». Vai daí, apesar do parecer em nada alterar o legítimo direito da praia ostentar a Bandeira Azul, a autarquia mandou arriar a bandeira porque sim.

 

A questão está toda no Centro Náutico da Praia de Faro, um complexo desportivo que tem gestão camarária, por sinal, e que se destina à prática desportiva de modalidades náuticas não motorizadas. Cuja actividade a Capitania vem então contestar com este parecer desfavorável, embora reconheça que estas actividades não são “consideradas incompatíveis com o ecossistema do Parque Natural da Ria Formosa”. Ou seja: ‘sim, está tudo legal, é tudo compatível, pode continuar, a gente é que não gosta’, parece ser o recado. Nada mais eficaz, na circunstância. Numa decisão que roça o absurdo, a Câmara mandou arriar a bandeira que todos querem ver içada na sua praia. Com ou sem parecer, não se vislumbra uma razão plausível para esta espécie de suicídio estival da autarquia, uma vez que nunca foi posta em causa a legitimidade da Bandeira Azul nem equacionada a sua remoção compulsiva, como já aconteceu em dez praias de norte a sul, só neste mês de Junho. Mas não em Faro, onde o coração da Ria Formosa apenas sofre esta estranha arritmia. Às vezes, palavra de honra, até parece que não bate bem.

 

01
Jul09

Portugal atchim

Rui Vasco Neto

Esta coisa da gripe incomoda-me, confesso. O meu país incomoda-me, confesso. Esta coisa da gripe no meu país deixa-me à toa com o que pode vir por aí. Claro que a gente não pode nem deve ser pessimista, concordo. Mas a gente não pode nem deve ser parva, concordarão também, e para morrer de amor já basta a SIDA, não vejo necessidade de morrermos agora todos de estupidez. Vejamos.
Imagine que vive em Portalegre. Ou em Bordalheira de Orjais, tanto faz para o raciocínio, imagine só que vive algures nos 70% de país que não tem um bairro onde exista um hospital central num raio de uma hora, por exemplo. Depois estique a hora para duas, três, acelere até lhe apetecer na reflexão, nunca será demais porque vai haver sempre um português qualquer a viver num cu escondido deste mundinho pequenino, de cartão e faz de conta que é Portugal. Certo? Bom, agora imagine que apanha a gripe da moda. Sim, eu sei que você é gente séria, nem tem comportamentos de risco nem nada, não é maricas e não foi ao México, mas pronto, será feitio meu mas faça-me a gentileza de imaginar o que lhe peço. Suponha por um instante que a gripe chega a Portugal a sério. Estamos todos fodidos, é o termo, convenhamos. Ainda por cima nesta época de campanha pré-eleitoral, com toda a gente a atrapalhar, autarcas presentes, putativos e futuros, governantes presentes, putativos e futuros, tudo a querer aparecer na fotografia e dar o seu palpite em que nádega se deve dar a injecção, mais a classe médica que é fresca como se sabe, e mais o turismo porque é Verão e está sol, há sardinhas e Algarve, tudo very tipical e mais tudo o que faz esta gripe ser classificada de pandemia e estar no grau seis e último da escala de aviso mundial e a gente a fazer de conta que não ouve porque não quer ouvir, quer ir para a praia ou tem mais que fazer.
Mas claro, os gajos não sabem como são as coisas aqui na terra, aqui sabemos nós, os máióres. E o nosso Serviço Nacional de Saúde pode até ser uma grande merda e não há ministro que entre ou que saia que não diga isso mesmo à nação em palavras bonitas daquelas que os ministros usam para não dizer merda, evidentemente. Mas mesmo que eles não dissessem o país sabia-o na pele, e nos ossos, e na oncologia e na oftalmologia e em todas as outras especialidades, que diabo, sempre morremos disso por cá. Mas se viesse a gripe tudo era diferente, eles não conhecem Portugal, eles não sabem que a gente quando quer somos muita bons, nem sonham do que somos capazes quando é mesmo preciso...
Esta coisa da gripe incomoda-me, confesso. O meu país incomoda-me, confesso. Esta coisa da gripe no meu país assusta-me mais do que sou capaz de vos dizer aqui. Estamos mal, suspeito.

 

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