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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

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Sete Vidas Como os gatos

13
Jan13

Crónica do Brufen

Rui Vasco Neto

Um espírito sofrido é como um corpo doente, atacado de forte e incapacitante virose (como esta que por aí anda este inverno, por exemplo). Para um e outro, na circunstância, a maior e mais decisiva força curativa estará no passar dos dias, na famosa pomada do tempo que tudo cura, há tempos sem fim. Assim sendo há que confiar nesse trunfo maior: o poder regenerador dos dias que passam, cada um deles mais um passo seguro dado na direcção certa, a caminho da cura que é sabido morar no final de muitos e longos dias de sofrimento, cada instante uma batalha, uma busca contínua por todo e qualquer resquício de força que possa ser puxado e repuxado (Deus, como é poderoso o desespero dos aflitos) até ficar chão, firme e pronto para o instante seguinte e assim sucessivamente, qual maratona de caracol.

 

Tem uma questão, no entanto. É que não obstante ser real a possibilidade de um sucesso culminar todo este esforço de regeneração, a verdade é que a cura não vai aguardar indefinidamente pela reacção das nossas defesas, antes se trata de uma eventualidade com limite no prazo de espera, a partir do qual tudo se fica pela perspectiva, nunca além. É mais uma das muitas ironias do Divino, sempre pródigo em surpresas do género. Com a hora passada ou simplesmente não alcançada, a oportunidade morre na praia e na prática, com todo o capital de esforço e dedicação a esvair-se em cada uma das incontáveis fórmulas do ‘podia ter sido’, nas infinitas variações desse mágico ‘se’ que tudo pode, tudo serve e tudo permite, desde que no cercado da imaginação e não cá fora, no piso duro e áspero da realidade. E assim se escoam os dias, daí para a frente e para lado algum, deambulando sem direcção e sem sentido, numa ida sem volta e sem futuro. E sem cura possível, já, definitivamente.

 

Quando e se chegado a esse ponto o tempo é de rendição, sabemos todos, mais ou menos no fundo de cada um. Assim descobrimos o limite de todos os limites e, na passada, assim somos descobertos pela nossa maior limitação enquanto seres humanos. Depois é uma questão de tempo e de feitio, varia muito de pessoa para pessoa. Por mim entendo que será hora de preparar um adeus de jeito e encomendar uma despedida decente, mais à medida do que gostaríamos de ter sido do que propriamente fazendo jus ao que fomos de facto, o derradeiro luxo de qualquer miserável que se preze. E logo deitar pés ao caminho sem o carrego inútil de culpas, arrependimentos tardios ou ervinhas milagrosas que já nada podem fazer... pois que mesmo sendo certo que um espírito sofrido é como um corpo doente, atacado de forte e incapacitante virose, a verdade é que pouca ou nenhuma utilidade prevejo numa mesma terapêutica anti-inflamatória aplicada ao tratamento de tosse e dor-de-corno, em simultâneo.

 

Sugestões, alguém?

04
Jan13

Eu, pombinha.

Rui Vasco Neto

Face à real probabilidade de chumbo do Orçamento de Estado, Portugal entra em 2013 com o Governo nas mãos do Tribunal Constitucional, com os portugueses nas mãos do Governo e com todos nós, governados e governantes, crentes e ateus, honestos e políticos, todos juntos nas mãos de Deus, de quem se espera (por manifesta ausência de eficácia alternativa) o milagre do conserto das finanças públicas.

 

Ora eu, confesso, estou já farto e cansado desta sina de pombinha da catrina a que fui aparentemente condenado por esta matula de habilidosos em cujas mãos jaz a esperança de um país inteiro (enfim, talvez só numa delas, já que a outra passa a vida nos meus bolsos). E agora, dizem, está tudo nas mãos do Tribunal Constitucional, assim o possível próximo culpado de serviço ao balcão da desgraça nacional. Dizem os jornais que PSD e CDS temem a ingovernabilidade, caso o Tribunal Constitucional chumbe o essencial deste Orçamento de Estado 2013. Dizem as televisões que vêem o risco subir com a assinatura do Presidente da República num pedido de fiscalização. E dizem e sabem todos que são 4 mil milhões de euros que estão em causa, embora Passos Coelho tenha pedido silêncio, dizem que para evitar conflito institucional. Afinal há quem fale de um cenário «apocalíptico» em cima desse corte previsto de quatro mil milhões na despesa. Enfim, aos meus ouvidos o que soa é já o refrão do meu destino, por este andar infalível: "Sem ter beira nem patrão, o voar é nossa sina, vão andar de mão em mão, as pombinhas da Catrina".

 

A questão é só uma, bem vistas as coisas: será que ninguém tem mão nisto?

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