Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

More than meets the eye

Sete Vidas Como os gatos

27
Abr08

A Ópera em Portugal - As origens da Ópera (I)

Rui Vasco Neto
É meu privilégio dar hoje início à publicação de um estudo composto por um conjunto de textos originais de Daniel de Sá sobre o aparecimento e evolução da Ópera em Portugal. Organizado em oito grandes capítulos, resultado de um trabalho de pesquisa notável e escrito com a qualidade a que este autor já nos habituou, este estudo leva-nos numa viagem histórica de visita aos palcos e bastidores desse espectáculo que alguém descreveu como "o mais sumptuoso e dispendioso divertimento que o engenho humano pode conceber". Um trabalho absolutamente imperdível, com publicação diária a partir de hoje e deste primeiro capítulo que nos dá a conhecer "As Origens da Ópera", com assintaura de Daniel de Sá, aqui no 'SeteVidas'. Boa leitura.


Em baixo:
"A Ópera em Portugal - As origens da Ópera"
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá


A ópera, como normalmente todas as formas de arte ou de outras actividades humanas, resulta de uma longa evolução, com raízes milenares, apesar de o seu conceito e a forma como a conhecemos ter apenas cerca de quatro séculos. Aliás, no caso da ópera não se pode falar de uma arte apenas, mas de um conjunto delas, pois que inclui a música, o teatro e a poesia, e até, por vezes, a própria dança, o que a transforma numa forma de representação mais complexa do que qualquer outra.

No teatro grego, o mais antigo de que se tem conhecimento abundantemente documentado, a música fazia parte do espectáculo e contribuía para o desenrolar do drama ou da comédia, através dos coros e mesmo música instrumental.
De certo modo pode dizer-se que o Homem sempre teve tendência para transformar em espectáculo coreografado e, com frequência, musicado, manifestações colectivas, sobretudo nos rituais religiosos, quer nas religiões politeístas quer nas judaico-cristãs. Basta pensar na grandiosidade das celebrações da Páscoa da Igreja Ortodoxa russa ou na missa do rito arménio, sendo nesta tão importante a função da música que ninguém pode ser ordenado presbítero se não for um bom cantor, ficando condenado a ser diácono toda a vida se não possuir boa voz e capacidade de interpretação.

A evolução, pois, das diversas formas de teatro para o espectáculo que deveria passar a ser conhecido como ópera (da palavra latina opus, que se aplica a qualquer peça – ou obra – musical) parece ser, assim, uma consequência natural da evolução da música e do teatro. A ópera acabaria por surgir na Itália precisamente como consequência do Renascimento, a partir da intenção do conjunto de artistas da Camerata Fiorentina de retornar ao teatro grego. A primeira tentativa do género foi apresentada no palácio de Jacopo Corsi, em 1594, Dafne, com libreto de Ottavio Rinuccini e música de Jacopo Peri, que três anos depois compuseram Euridice, havendo nesta já a participação do músico Giulio Caccini. Tendo-se perdido a partitura de Dafne, felizmente não aconteceu o mesmo com a de Euridice (estreada em 30 de Outubro de 1600, com o próprio Peri a desempenhar o papel de Orfeu).

As formas que precederam imediatamente este género musical, e de certa maneira o inspiraram, foram várias, com destaque para as peças musicais litúrgicas (sacre rappresentazioni) que se cantavam nas igrejas ou nas praças em frente delas, incluindo cenários, guarda-roupa e efeitos cénicos. Também em Portugal era costume organizar este tipo de autos religiosos, os “mistérios”, sem esquecer que no teatro de Gil Vicente a música desempenhava um importante papel. Outra influência terá sido a dos interlúdios (intermezzi ou intermedi), apresentados entre os dramas falados, normalmente para honrar algum momento especial na vida da nobreza, bem como a pastoral (pastorale), que era um longo poema recitado em palco e acompanhado de canções a solo e de peças corais. Também os madrigais, reunidos em grupos sob a designação de comédias madrigais, se podem considerar antecessores da ópera, apesar de, muitas vezes, os cantores estarem atrás do cenário enquanto os actores representavam em pantomima.

De Florença a ópera passa a Roma (com Emilio de Cavalieri, Domenico Mazzocchi e Stefano Landi) e depois a Veneza, onde se distingue um dos mais geniais compositores de sempre, Claudio Monteverdi, com a primeira das suas dezoito óperas, La Favola d’Orfeo, sob encomenda, em 1607, do duque de Mântua, tendo sido o seu próprio secretário de Estado, Alessandro Striggio, o autor do libreto. Estava assim definitivamente consolidado um novo género musical e dramático que maravilhava os espectadores, como ficou bem expresso por John Evelyn, um inglês que, a propósito de uma representação a que assistiu em Veneza, escreveu no seu diário: “Trata-se, no seu conjunto, do mais sumptuoso e dispendioso divertimento que o engenho humano pode conceber.”

(Amanhã: "Parte II - A introdução da Ópera em Portugal")

3 comentários

Comentar post

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Sete vidas mais uma: Pedro Bicudo

RTP, Açores

Sete vidas mais uma: Soledade Martinho Costa

Poema renascido

Arquivo

  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2012
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2011
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2010
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2009
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2008
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2007
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D