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Fev08
Bonnie & Clyde nos jardins proibidos
Rui Vasco Neto
Se Portugal é um quintal de regras, Lisboa é o pátio do absurdo. Hoje esteve um dia lindo, cheio de sol cá pela capital. Lisboa saiu à rua e eu cá não sou Algueirão nem Martins para deixar de ir na marcha deste sol de Inverno. Lá fui eu e o meu Gastão, este par de jarras floridas na grande toalha alfacinha. Corremos Alfama e descemos a Avenida, vimos Lisboa antiga e Lisboa moderna, espreitámos o Bairro Alto e visitámos os bairros altos, altos bairros que Lisboa viu nascer ontem e hoje há bocadinho. Fomos aqui e viemos dali, disfarçados, camuflados. Atrevemo-nos até a passar nos jardins proibidos, ninguém viu, vá lá, correu bem a aventura. Às escondidas, claro, chegámos até a pisar o verde, num assomo de ousadia rural. Clandestinos, chamámos nossa a esta cidade de todos. Safámo-nos sem ordem de prisão. Guardo os retratos de família e os nús, que não vejo vantagem em exibir intimidades. Mas deixo-vos uns postalinhos do que é público e nosso. Da cidade que somos. Do absurdo em que nos tornámos. E uma notinha de rodapé, já agora.
Aquele cartaz diz que o jardim é zona proibida a animais. E percebe-se porquê, ao ver as fotos. Os animais sujam os nossos jardins e a nossa cidade. Porque são uns animais, claro. Ainda bem que há leis para combater esse problema. Que estão a resolver a situação, como se pode ver. Por isso não podemos deixar os nossos cães pisarem a mesma relva que as nossas crianças. Para não estragarem a relva nem sujarem tudo. Tem lógica. Muita lógica. Eu, bandido e clandestino, confesso aqui e agora uma verdade de Lei: nesta sequência de fotos que vos deixo, o único proibido de ali estar é o Gastão. Meu companheiro de crime. Tudo o resto é legal. E é normal em Lisboa.