Irratêpê!!!
Numa jogada de finíssimo recorte estratégico, o Canal Um da RTP transmitiu esta noite o espectáculo comemorativo do 90º aniversário de Nelson Mandela, em Hyde Park, Londres. 46664 pessoas, diz a organização, em absoluto delírio com o desfile non-stop de grandes vedetas, inspiradas, que foram prestar homenagem a um dos grandes nomes da História mundial deste século misto, vinte/vinte e um. Uma noite de luxo, para qualquer programador.
São neste momento duas e pouco da manhã e 'Amy Winehouse vem fazer o grand finale', avisa o comentador de serviço, apesar da cantora ter acabado de sair de cena neste preciso instante e de estar anunciado ainda Bono Vox, entre muitos outros. Há um momento de expectativa e eis que entra em palco um nêgão enorme, de bigode. Não é Amy, aparentemente. Eu juro que já não acho estranho. É que tenho estado a ver a transmissão do espectáculo, quase desde o princípio. E, lamentavelmente, a ouvir uma das maiores colecções de disparates que o mundo alguma vez já ouviu na história das transmissões em directo, seja daquilo que for, futebol incluído (o que torna a coisa mesmo grave). A tradução simultânea do discurso de Mandela, por exemplo, (que o próprio não reconheceria se assistisse à RTP), ficará seguramente para a posteridade como um dos momentos altos do anedotário da radiotelevisão portuguesa, que esta noite bateu todos os recordes da asneira numa só transmissão televisiva.
Só para dar uma pequena ideia a quem não viu, a actuação de Amy Winehouse, que foi repetidamente anunciada como o grande momento da noite, foi preenchida na sua quase totalidade pela RTP com um lindíssimo intervalo publicitário (igual a uma série interminável de intervalos comerciais metidos 'a martelo' neste directo, no maior desrespeito pelo espectáculo em si, com promoções ao 'Dança Comigo' e ao 'Terminator', domingo à tarde...) que começou logo a seguir a 'Rehab' e só terminou quando Amy, ela própria, estava também a terminar a sua actuação. Fomos todos, no entanto, ainda a tempo de assistir à sua saída de palco, logo contrariada pelo tal aviso da sua eminente reentrada, adivinhada pelo comentador RTP. «E aí vem então Amy Winehouse para o grand finale desta noite» Foi quando chegou o tal nêgão de bigode, e depois dele o resto da transmissão, que ainda dura. Abençoada RTP. Que seria de Portugal, de todos nós, sem ela? Um enorme, imenso bocejo, por certo.