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Sete Vidas Como os gatos

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Sete Vidas Como os gatos

06
Ago08

Soares e o xeque ao rei

Rui Vasco Neto

Concordar com o Dr. Mário Soares é uma daquelas coisas que me preocupam, um sintoma que me faz tirar a roupa e procurar borbulhame nos recantos mais escondidos. É um hábito que eu não gostaria de ter, confesso. Mas hoje tem que ser, que eu não sou de fugir da raia quando o braço é para dar ao torno, e o homem disse o que eu já pensava antes de o ler. Eu e o resto do país, acredito sem esforço. Se não, vejam: «Não parece ter sido muito feliz a intervenção, feita com pompa e circunstância, através das televisões, pelo sr. Presidente da República, no último dia de Julho passado, quando a maioria dos portugueses se preparava para ir de férias, procurando esquecer, por um mês, os problemas graves e complexos que os esperam no regresso.», começa, cirúrgico, o ex-Presidente num extenso artigo de opinião no DN, onde se mostra convicto que a maior parte das pessoas não terá sequer percebido a declaração ao país sobre a tentativa de uma lei ordinária mexer nos poderes presidenciais.

 

«Os portugueses comuns estão angustiados com outras questões, bem mais importantes: o custo de vida, a subir de forma exponencial; a crise energética e os seus efeitos nas bolsas de todos nós e nas empresas; a crise financeira; o desemprego, que está a crescer não só em Portugal como na nossa vizinha Espanha; o escândalo da corrupção», atira, certeiro. E mais: Soares frisa que, sobre estes problemas, Cavaco tem sempre falado «de fugida» e «muito discretamente». No fundo ninguém conhece «o seu pensamento» sobre as questões que mais preocupam os portugueses, queixa-se. E tem mais que razão, o ex-Presidente: tem razões, várias, nem todas públicas, mas algumas sim. E tem, sobretudo, um sentido de oportunidade oposto àquele revelado por Cavaco nesta sua comunicação infeliz.

 

Soares sabe que os portugueses vivem orfãos, no que toca à classe política. Querem um pai, desesperadamente, que lhes dê segurança num beijo na testa ao deitar e não uma prédica sobre o estatuto de autonomia. Que os leve ao parque e lhes garanta que tudo vai correr bem, mesmo que o faça com a boca cheia de folar da Páscoa. Desde que cumpra de forma activa. Que lhes dê a segurança da competência e os sirva, não que os segure com as competências que serve. Agora, sentado no cadeirão do seu observatório situado na secção 'reformados' do Olimpo nacional, Soares provou que estava 'à coca' (o que poucos terá admirado, eu e mais meia dúzia, se tanto) e que continua predador e habilidoso. E politicamente perigoso, ainda e sempre. Um erro do adversário foi quanto bastou. Caiu-lhe em cima com a força de mil verdades que não precisou de gritar. É quando Soares é mais eficaz, quando não precisa de se impor na voz porque o discurso se impõe sozinho. Onde ele perde é quando se sente à vontade e solto, rei dos reis, imperador. Aí é excessivo e malcriado, é Valentim e Alberto João. Hoje, com as palavras que escreveu e com o tapete que puxou, Soares foi Soares e pôs o dedo na ferida, (aliás, dada a circunstância, terá sido mais enfiar do que pôr, mas enfim) com o que escreveu. E conseguiu ser, por uma vez, o Presidente que faltava ao gritar que o Rei vai nu.

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