O ministro da satisfação interna
Já cá se esperava, isto ou algo parecido. Não perdoa, a tentação parola do populismo, demasiado forte para quem está no poder e tanto mais forte quanto mais fraco fôr o político em causa, como pessoa e como profissional de serviço público. Será o caso ou talvez não. Mas uma borla destas não se desperdiça, terá pensado Rui Pereira, obviamente feliz e realizado nesta pele de ministro bang-bang. A coisa correu bem, muito bem, não podia ter corrido melhor, parabéns, podem vir, quantos são? E vá de dizer coisas e coisas, perdendo de vista o recato e mesmo algum sentido do ridículo no vasto horizonte das suas declarações. Ou seja, babando, sem necessidade.
Sejamos claros. Por mais eficaz, acertada até, que possa ter sido a actuação policial em Campolide, enviar "uma palavra de vivas felicitações" com mortos incluídos é pedagogia de gosto duvidoso e resultados perigosamente incertos a médio e longo prazo. Não se trata de questionar a competência ou acerto das decisões tomadas, mas sim o não haver lugar a um único lamento em tanta festa. De circunstância, que fosse. Pseudo-educativo-cultural. Digam lá o que disserem, eu cá acho as vivas felicitações pela "competência, dedicação e heroísmo" mais adequadas à defesa da vida que ao seu abate. Dirão que neste caso se tirou vidas para salvar vidas e eu aceito, sendo assim. Mas não é por isso que vejo dignidade na dança da vitória sobre uma campa aberta, nem nisso vejo pedagogia que se aproveite. E menos ainda nesta fanfarra de caçador com que se confundem as declarações de Rui Pereira, posando satisfeito para a posteridade com o pé sobre a presa abatida. Justificar a violência extrema é uma coisa, vulgarizá-la é outra. Ódio traz ódio, é certo e sabido. E suspeito que a estupidez também se multiplica assim.