Uma confissão desdobrável
Por aqui segue a conversa sobre os Açores, hinos e bandeiras, Cavaco e Soares, comunicações do Presidente, bicadas no Presidente, enfim, é Agosto. Desses pequenos nadas para os pormenores sumarentos e por contar dos bastidores da política açoriana no agitado final da década de setenta do século passado, foi um pulinho. O meu amigo Daniel de Sá faz as honras da conversa, ele é que é desse tempo, não sendo velho já é antigo. É ele a dar, nada na manga, o trunfo é contar com verdade o que a memória guardou. Os parceiros aguardam, o povo é sereno. Parece querer puxar a Escola do Magistério, mas salta-lhe de repente uma confissão feminina com muitos pecados e pouca roupa. Os parceiros estão atónitos, eu próprio estou que nem posso. Ele, impávido, nem pestaneja. Cá para mim é certo: o homem tem jogo.
Em baixo: "Uma confissão desdobrável"
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá
A história da questão da Escola do Magistério, acontecida no ano de 1976, é algo entre o absurdo e o solenemente irritante. Sendo assunto fastidioso, embora cheio de interesse como análise psicológica de uma época estranha, terei de arranjar uma boa dose de paciência e de tempo para alinhavar as linhas essenciais. No entanto, avanço com um episódio marginal, tão divertido quanto estúpido, que servirá de aperitivo.
A certa altura da discussão de razões, o ponta-de-lança dos interesses do PPD (ele escrevia no “Açores”, e eu no “Correio dos Açores”) acusou-me de enviar de Espanha pornografia para o padre Agostinho Tavares, actual reitor do Santuário da Esperança. Foi o momento de maior imaginação do homem, que teve outros também notáveis. Eu estive em Espanha a estudar Filosofia e Teologia em Valência e Granada, e o padre Agostinho é um velho amigo, que nasceu na rua onde eu nasci e cuja casa fica a uns vinte metros da minha. A única carta que lhe mandei na vida foi há um par de anos, a acompanhar um artigo que ele me pediu para o boletim inter-paroquial de Ponta Delgada. Contra uma acusação daquelas nada mais se pode do que soltar uma boa gargalhada. Foi o que fiz, e faço ainda de vez em quando ao recordar o episódio com Monsenhor Agostinho ou com o Tomaz Vieira.
A imaginação, porém, ia muito mais longe, o que depois vim a saber. Ele explicou na escola onde trabalhava em que consistia o material pornográfico que eu teria enviado ao meu amigo sacerdote. Um colega que ouviu a narração contou-me. Vejam lá se não tive razão para mais uma gargalhada das boas. (E, Deus me perdoe, alguma pena também de não conhecer tão notável impresso.) Tratar-se-ia de um desdobrável sobre a confissão de uma rapariga. Por cada pecado que ela dizia ao confessor, tirava uma peça de roupa, acabando por confessar-se toda.