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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

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Sete Vidas Como os gatos

24
Ago08

O meu Brasil português

Rui Vasco Neto

O estatuto editorial cá da casa permite e encoraja estas leviandades, pequenas tropelias. Não havendo malandrice ou sexo (Deus nos livre) , fecha-se os olhos, já se sabe, ficam na conta da criatividade dos amanuenses, fundamental para esfolar a freguesia. É que dia de prosa que agrade é um consolo ver a sacola a transbordar tostões, a cada solavanco da carrinha da Prosegur que nos leva a massa (achei melhor assim, mais seguro do que ser eu a levar ao banco ou o Daniel a ir depositar ao Corvo, por ficar mais à mão) Eh, lá! Por falar em Daniel, já quase me esquecia, caramba, esta minha cabeça! Mandou-me ele uma nota que dizia assim: «Já que se tem vindo a falar do Brasil, envio-te este textozinho que escrevi para uma revista do Pico que no número mais recente foi feita no Brasil, pelos meus amigos Assis Brasil e Lélia Nunes. (Não percebeste como é que uma revista do Pico foi feita no Brasil? Então é porque não percebes nada de ilhas nem do Brasil.)» E pronto. Toma lá que já almoçaste. Por isso eu me lembrei do estatuto, e da criatividade dos escribas, e das tais leviandades, tropelias, para não lhes chamar outra coisa, pois foi, está certo, foi isso... Então está bem, pronto. Vá lá.

 

Em baixo: "O meu Brasil português"

Sete vidas mais uma: Daniel de Sá

 

 

O Brasil da minha infância era: “Amazonas, Manaus; Pará, Belém; Maranhão, São Luís; Piauí, Teresina; Ceará, Fortaleza...” A voz de minha mãe recitando como um poema. Ensinara-lhe a escola, mais de um século depois do “Fico”. Remorsos do colonialismo ou saudades do Império?

 

O Brasil da minha infância tinha Oscar Niemeyer plantando uma cidade no mato. Millôr Fernandes e o Amigo da Onça. Rachel de Queiroz na última página. Vasco da Gama campeão. Fla-Flu, e Palmeiras, 1 – Corinthians, 1. Seu Mané Garrincha que ainda era do Botafogo antes que o Botafogo fosse de Garrincha. O Brasil da minha infância não era dos coronéis. Depois foi e ficou mais triste. E “O Cruzeiro” também. Só o Zé Carioca continuou feliz e fazendo felicidade. E eu sempre escrevi o ditado escapando ao castigo da D. Úrsula. Porque não me esquecia do “c” dos “factos”. Hoje é que os doutores pensam que a gente é burra e querem mudar as “ortoleis” da “heterografia”, para não errar. Se a D. Úrsula fosse viva, iria ao ministério e corria todos à reguada. Cinco vezes por cada palavra trocada, duas por cada acento em falta.

 

O Brasil da minha infância cresceu comigo. Continuou a ter o povo dos cafezais de Portinari, mas também o povo de Zumblick porta-bandeira do Divino. Porque foi ficando cada vez mais a sul. Até ao pampa que a gente por cá diz “as pampas”. Com castelos do Assis Brasil e rios que têm as margens imóveis. Com o vento da Lélia Nunes. Aquele vento Sul que fazia travessuras nas saias das meninas. E os rapazes à espreita, à espera de revelações.

 

O Sul onde há saudades da ilha. Da ilha dos Açores, que são nove. E Santa Catarina imagina-se também ilha, só para ser mais parecida à Terceira ou a São Jorge.

 

Ficaram por aqueles fundos do Brasil o Espírito Santo e falas da ilha que são nove. Um Divino com sotaque tropical e vozes com requebros de tons rubros. E a gente pasma: como Deus é grande! Bem disse Eça de Queirós que o “Brasil brasileiro” tinha tudo de bom e tudo de menos bom que os nossos avós levaram consigo. Só não sabia que Deus é brasileiro também. Mas Eça não podia saber tudo.

 

Ficou-nos esta sina de permanecermos unidos. De termos a mesma lágrima quando o escrete perde ou quando o Brasil ganha. Porque somos irmãos. Até pusemos no dicionário palavras antes só ouvidas nos matagais guaranis ou nos sertões tupis.

 

Continuamos por cá. Entre mar e céu, entre marés e montanhas. Divinos, quase. As coisas ou nós? Tudo. Uma espécie de panteísmo pressentido. Desde o “cagarro” de Santa Maria ao “manezinho” da Ilha. Até à ilha outra, e até quase ao sul de todo o Sul, em Porto Alegre, cidade do Rio Grande.

 

Vocês continuam por cá. E nós estamos aí.

 

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