Simplesmente Genial!
Cá para mim eu vejo assim: há o 'normal', que nivela a zeros, depois há para baixo e para cima, certo? Se é para baixo desce do 'quase aceitável mas mauzito' para o 'mau mesmo', 'péssimo', 'execrável', 'merdoso' e por aí fora, quer dizer, por aí abaixo. Se é para cima é bem melhor e mais agradável a gradação. Começa no 'bom' da palmada nas costas e pronto, tá a andar, passa ao 'óptimo', já cá sem palmadas, antes um mirar de interesse e respeito, e daí para cima é um verdadeiro consolo seguir e descobrir o que é 'genial' ou mesmo o raro 'sublime', apenas por exemplo, que lá tão no alto nem o céu é limite para o genuíno talento de um artista.
Vem esta conversa toda a propósito destes dez minutos de puro talento, genial e sublime e por aí fora, quer dizer, por aí acima, sem limite que eu consiga vislumbrar depois de ver três vezes e ainda querer mais e mais. A história de "Achmed, the dead terrorist" é do humor mais requintado e conseguido que eu já vi, mesmo considerando que a minha referência natural de ventriloquismo é o José Freixo a fazer o Donaldinho nos programas do Júlio Isidro. "Bom dia Donaldeeee!!", diza o Zé, "Bom dia Zéééééé!!" dizia o Donald, cinco vezes, seis, sete e a gente ria-se muito e silabava ven-trí-lo-quo para aprender a dizer bem e depressa. Pois bem, Achmed, the dead terrorist, ou antes "Premature detonation & 72 virgins", título original desta prestação hilariante, é um outro assunto completamente diferente e sem qualquer comparação possível. Isto embora o humor boçal pudesse dizer que "é como comparar o cú com a feira de Castro", uma alusão que eu nunca atingi na totalidade mas que aqui se aplicaria na perfeição.
Achmed, the dead terrorist é um raro prodígio de gargalhada. O que é logo surpreendente à partida, se pensarmos no tema escolhido para fazer rir o mesmo público-alvo do terror. Mas Jeff Dunham conquista a plateia logo à chegada com este seu Achmed, que começa por ser um boneco brilhante na sua concepção estética e linguagem visual. A imagem de um vulgar e estafado esqueleto, em tosco, ganha vida e uma personalidade carismática com a animação de apenas dois pequenos adereços: olhos e sobrancelhas. O resto é história, ou melhor, a história, os textos perfeitos, com uma surpreendente margem de manobra e salvaguarda da ténue linha que demarca e define o bom gosto ao brincar com terrorismo. As vozes, perfeitas também, os movimentos da mão que anima, idem. O timming exacto, impecável, nem de mais nem de menos, o difícil equilíbrio do riso e do siso no conseguido ponto G.
De 'Genial', claro.