Só pode ser! Não há outra explicação.
Desta vez Fernanda Câncio terá ido longe demais, extravasou. Só pode ser. Leiam esta sua crónica, 'O segredo dos jornalistas', hoje publicada no DN e digam-me se aqui não se aplica o tal direito à indignação que um dia o Dr.Mário Soares foi desencantar à fímbria de um qualquer subentendimento optimista da nossa Constituição. O caso é sério, diga-se.
Então não quer aquela jornalista fazer-nos acreditar que aquele episódio que nos relata aconteceu de facto, que aquilo é real quando só pode ser ficção? Vejamos, quero acreditar que a entidade que superintende a minha cédula profissional não pode fazer aquelas figuras, que a Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas significa outra realidade, que é suposto haver por ali vapores da noção do que é jornalismo, do que são jornalistas. Tratar-se-á por isso de um mal-entendido, seguramente. Ou então la Câncio terá extravasado, vulgo 'passou-se', enfim, também é uma hipótese, seja remota. Afinal, se "nestes oito anos de funcionamento da Comissão nunca um jornalista questionou o seu modo de funcionamento", porquê então começar agora e estar a incomodar os senhores com perguntas, para mais se é segredo e tudo? Enfim, também terá a sua lógica, dirão de lá alguns.
Pois bem, não fôra o caso de ter entrado em vigor há pouco mais de dois meses o novo estatuto disciplinar dos jornalistas, novas regras da classe, e eu cá tossicava e seguia, cofiando pontas e ronronando a minha perplexidade num suave Hum e nada mais. Seria tudo. Não me esticaria assim sobre esta impossibilidade prática, porque sim, d''o segredo dos jornalistas' narrar um episódio real que realmente mostre a realidade desta Comissão, se é que me faço cacoentender. Uma Comissão que agora dispõe de novas competências de foro disciplinar, que podem, em extremo, decretar a suspensão da actividade profissional de um jornalista até doze meses, recordo, já que falamos no assunto. Ora é por demais evidente que um organismo destes só pode ser transparente e pronto na resposta quando legitimamente questionado, mesmo se posto perante 'a perplexidade algo irritada da jornalista, que lhe lembra que a Comissão é um organismo público e que é normal um jornalista poder saber onde podem ser contactados os seus membros'.
Daí aquele meu alvitre inicial, fechando esta pescadinha de conversa: desta vez Fernanda Câncio terá ido longe demais, destemperou, destampou-se. Só pode ser visto assim. Ou digam-me os senhores, público em geral, jornalistas em particular: acham possível que tenha sido o contrário?