E se alguém lhe oferecer flores... olhe, sei lá, tenha paciência.
Já lá vão uns bons anitos desde que escrevi este poema. Cerca de vinte, creio, mais ano menos semana, mais dia menos mês. Recordo-me de o ter escrito por alguém que enfrentava uma profunda crise de desânimo e desalento nos seus dias, naquela altura, dias de tristeza e de infelicidade que eu acompanhei passo a passo, lado a lado, cumprindo não menos que os mínimos que é legítimo esperar de um Amigo. E lembro-me que a crise passou e levou com ela a tristeza e a infelicidade, toda aquela escuridão que não deixava ver o caminho que estava afinal logo ali, mesmo em frente do nariz. Pois mal a névoa se dissipou, na alma, o corpo seguiu viagem sem dificuldade e recuperou a vida que lhe pertencia, com passo seguro. Naturalmente. Porque toda a tristeza tem um fim se a gente quiser. Toda. E a gente só tem é que querer, certo? Certo.
Olha minha amiga a vida é boa
calma que a tormenta vai passar
espera pela manhã que o tempo voa
e há sempre um sol
por quem esperar
Olha-te no espelho da verdade
pára para pensar, pés bem no chão
força, muita força na vontade
e muita fé nos dias que virão.
Pisa com cautela este caminho
vais passar aqui só uma vez
trata cada erro com carinho
está para nascer
quem não os fez
Bebe até cair se te conforta
ganha e joga tudo até perder
grita, barafusta e bate a porta
mas não te canses nunca de viver
Olha minha amiga eu estou presente
para te dar a mão no que puder
e ao teu lado eu também sigo em frente
tal como tu,
sempre a aprender
E se a dor que hoje te magoa
escolher o meu peito para morar
diz-me "olha amigo a vida é boa
tem calma que a tormenta vai passar"
(tema original, incluído no CD 'Vidas', 2004, ed. Ovação)