Em prol dos patos
Em medida recente, o governo proibiu os "call centers" de fazerem o consumidor esperar em linha mais do que 60 segundos, tentando desta forma uma intervenção reguladora que só pecará por tardia, nesta matéria. É certo que ainda não se sabe exactamente que tipo de eficácia se pode esperar desta decisão governamental, até por serem desconhecidos os meios de fiscalização que irão ser empregues para a fazer cumprir (um décimo do empenho posto na sanha anti-tabaco já chegava, e o Nunes está aí para as curvas, era só dar-lhe ordem de busca..).
A minha esperança é que, à boleia desta intervenção específica na área dos call centers, alguém faça finalmente alguma coisa para pôr um ponto final neste roubo descarado que é praticado diariamente em inúmeros serviços telefónicos para os quais se liga e se paga por esperar, tempos sem fim, euros sem fim, a bondade de um atendimento. Sejamos por isso claros, por uma vez, neste assunto que mais parece tabu, de tal forma é escamoteado da actualidade informativa por força dos interesses em jogo por parte das operadoras, cúmplices nesta lucrativa marosca: o atendimento automático de chamadas, na esmagadora maioria dos casos, é um embuste grosseiro que é lançado nas contas dessas empresas, nas suas previsões e nos seus balanços, como se fosse uma entrada legítima por serviço prestado. Mas com a enorme diferença de não ter sido prestado qualquer serviço, naquela maioria dos casos em que o pato, perdão, o cliente, farto de esperar ao som das mais irritantes bandas sonoras, em muitos casos obrigado a ouvir spots de publicidade ao próprio serviço a que não está a conseguir aceder, desiste e desliga sem obter qualquer contrapartida pelo dinheiro que pagou, durante aquele tempo que perdeu. Pois eu tenho cá para mim que uma breve consulta aos anais de jurisprudência nacional revelaria, sem esforço, inúmeros exemplos clássicos de burla e abuso de confiança, com gente condenada a pesadas penas de cadeia, por muito, mas mesmo muito menos do que isto. Vale a aposta?