O julgamento de Isaltino Morais contado às crianças (2)
O julgamento de Isaltino Morais soma e segue no tribunal de Sintra. Enquanto se multiplicam as dúvidas e as opiniões se dividem, o tribunal soma provas e segue em recta de colisão com a presunção de inocência que ainda pudesse sobreviver em alguém, sei lá, nas crianças, por exemplo, talvez. Só que fica difícil, até para essas que acreditam que o Shrek até pode um dia casar com a princesa Ariel, acreditarem também que Isaltino não encheu o bolso à custa da sua função pública, governando-se enquanto governava. Razões não faltam para o cepticismo. Hoje foi a vez de um antigo adjunto da presidência da Câmara de Oeiras dizer em tribunal que a casa de Isaltino Morais em Altura, Algarve, foi uma contrapartida do empresário João Algarvio por um licenciamento de um projecto imobiliário. E Isaltino, negou? Não, não exactamente, longe disso, até. «Ele disse que eu lhe disse e isso vale zero», disse o autarca à agência Lusa, num sonoro nim. Ora aqui está um homem prático, pensei eu cá para comigo, ciente que ninguém neste mundo acreditará algum dia no oposto das evidências e, por isso, preocupado apenas com aquilo que ainda pode resolver, por entre as entrelinhas da lei. Resolver ou não, como suspeito, cá estaremos todos para ver. Mas também convenhamos que é preciso ser muito ingénuo para acreditar que o Shrek conseguia ultrapassar o problema da cauda da Ariel e viver feliz para sempre.