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Sete Vidas Como os gatos

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Sete Vidas Como os gatos

09
Jun09

Coitadinhos dos analfabetos

Rui Vasco Neto

Ontem pensei na tristeza que deve ser alguém não saber ler, na imensidade de informação de que essas pessoas ficam privadas à conta dessa insuficiência. Tudo isso porque de repente olhei para a televisão onde passava mais uma manifestação de gente exaltada, espumando e vociferando, de cabeça perdida e aos empurrões, punhos no ar, soltando gritos e ofensas, chamando ‘aldrabão’ e ‘mentiroso’ ao primeiro-ministro José Sócrates, a quem tratavam por tu e atiravam chapéus.

 

E eu fiquei ali a ver toda aquela rotina do insulto, aquela multidão descontrolada e em fúria, as expressões congestionadas de ódio, todo aquele vómito de raiva contida a custo e à força pela polícia, quando finalmente apareceu a bendita legenda a explicar que aqueles também eram polícias, estavam era a protestar na rua enquanto classe profissional. Foi quando eu me lembrei dos analfabetos, coitadinhos, que não podiam ler aquela legenda e assim ficavam para sempre a pensar que se tratava de mais uma manifestação de energúmenos capazes de destruir tudo à sua passagem e incendiar carros e partir montras e saquear cidades e agredir pessoas só porque estão com raiva e zangados com o governo. Porque normalmente os polícias são os outros, as forças da ordem, os do outro lado, é compreensível o equívoco. Mas a legenda ali estava para pôr tudo no seu lugar, os bons e os maus, explicando quem era quem naquelas imagens de desordem. Daí a minha angústia, esta minha preocupação com os analfabetos. Pois se eu próprio tive cá as minhas dificuldades em perceber a diferença, quem não leu não ficou a saber com toda a certeza.

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