Profissional
Às vezes sinto falta de re-embalar na blogosfera, há que assumir. Quem sabe compreende, os outros paciência, é o costume. Vem isto a propósito do prazer sempre repetido que é ler Fernando Venâncio, meu amigo de letras e que possui convite vitalício para postar cá na casa, sempre e quando lhe der na mona. O que foi o caso, louvem-se os deuses. Um dia vou ao mail e lá está o dito, talvez não dito mas digo agora, pronto: um textículo, como lhes chamo, salvo seja. Eu li e gostei, mas isso sou eu, que gosto de quaae tudo no Fernando Venâncio, os senhores que façam o favor de avaliar por vós. O material, por assim dizer. Coisa de profissional, bidentemete.
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Sete vidas mais uma: Fernando Venâncio
Ele estava de calções de verão, e isso foi um erro tremendo. Tinha um boné esbranquiçado (seria sujidade, ou uso?), o que era uma suplementar infelicidade. Levava um cão pela trela, nem pequeno nem grande, raça indistinta, muito dócil, se não mesmo tímido, criando – animal e dono – uma conjuntura simplesmente desventurada. Pusera uns óculos escuros («Ficam-lhe a matar», disse para si mesma uma vizinha, que lhe adorava a barba grisalha), e aqueles óculos eram, se possível, o mais atroz dos azares.
Tinha dado, como sempre, a volta ao bairro, naquela manhã soalheira. Caiu ali, já de chave na mão, em cima do canteiro que mais esmerava. Uma bala chegou e sobrou.
Para um assassino profissional, e caro, um quarteirão a mais ou a menos, tanto monta.