Não vás as mar, Tòino... Não vás ao mar, Tereskov Yadyslav...
Em Caxinas a morte foi hoje batida por seis a zero, num desafio emocionante transmitido em direto pela televisão. Primeiro um naufrágio, depois sessenta horas perdidos no mar, seis vidas à deriva no capricho das àguas, numa pequena balsa, nas mãos de Deus. E depois o fim, mas feliz. Desta vez feliz. «'O Senhor chamou todos para irem para a beira d'Ele', foi logo o que pensámos», diz uma das mulheres de Caxinas na hora do milagre. a fazer recordar outras mulheres nas palavras de Chico Buarque... 'mirem e sigam o exemplo dessas mulheres de Atenas, sofrem pelos seus maridos, bravos guerreiros de Atenas'... Com voz tremida diz outra, já no autocarro de regresso a casa e com o marido ao lado: «Obrigado nosso Senhor que me destes o meu homem de volta, querido Senhor..» É Portugal profundo, o tal país, o nosso país que ajoelha para celebrar a gratidão e vai tangendo o seu fado mais alegre, tocado numa das suas cordas mais sensíveis: a alma de homens do mar. Nada mais nosso, marinheiro, nada mais português.
Portugal acompanhou pela televisão a tragédia que podia ter acontecido. Foi assim que fomos aos poucos tomando consciência da imensa dádiva destas seis vidas, que fomos passando de leve pela noção da possibilidade milagrosa. De como poderia não ter sido assim, como podia ter acabado diferente, mais igual ao que é costume, esta história tantas vezes já ouvida e cantada em português. Não vás ao mar, Toino... Foi um barco de pesca que naufragou e desapareceu nas águas, e com ele desapareceram os seus pescadores, seis homens... um dia e nada, dois dias e nada, três dias e de repente, hoje a meio da manhã, depois de sessenta horas à deriva, no mar e na esperança, os seis homens foram encontrados e resgatados com vida. Fim. E um final feliz, para variar.
Portugal tem por isso razões para sorrir, hoje. Para rir e para chorar de alegria e para cantar o seu fado, agora de esperança renovada nessa benção divina que nos protege quando partimos para o mar, queremos muito acreditar. Hoje a coisa correu bem, muito bem mesmo. É que foi um dia e nada, dois dias e nada, três dias e de repente, hoje a meio da manhã, depois de sessenta horas à deriva, no mar e na esperança, os nossos seis pescadores foram encontrados e resgatados com vida, o país acompanhou pela televisão a tragédia que podia ter acontecido e teve a prova de vida dos nossos homens em direto e pela voz de um deles, o primeiro pescador a ser ouvido sobre o que aconteceu. 'Estamos todos vivinhos', disse ele, emocionado. E eu ouvi com igual emoção, senti o alívio genuíno na voz daquele homem resgatado à morte dos homens do mar, fixei a expressão do seu rosto que era o rosto do naufrágio do 'Virgem do Sameiro', pescadores de Caxinas, gente da minha terra. Este chamava-se Tereskov Yadyslav, os outros não fixei. Ligo pouco a nomes se há vidas em risco, mas sinceramente prefiro Tòinos. São mais fado.