Eu, pombinha.
Face à real probabilidade de chumbo do Orçamento de Estado, Portugal entra em 2013 com o Governo nas mãos do Tribunal Constitucional, com os portugueses nas mãos do Governo e com todos nós, governados e governantes, crentes e ateus, honestos e políticos, todos juntos nas mãos de Deus, de quem se espera (por manifesta ausência de eficácia alternativa) o milagre do conserto das finanças públicas.
Ora eu, confesso, estou já farto e cansado desta sina de pombinha da catrina a que fui aparentemente condenado por esta matula de habilidosos em cujas mãos jaz a esperança de um país inteiro (enfim, talvez só numa delas, já que a outra passa a vida nos meus bolsos). E agora, dizem, está tudo nas mãos do Tribunal Constitucional, assim o possível próximo culpado de serviço ao balcão da desgraça nacional. Dizem os jornais que PSD e CDS temem a ingovernabilidade, caso o Tribunal Constitucional chumbe o essencial deste Orçamento de Estado 2013. Dizem as televisões que vêem o risco subir com a assinatura do Presidente da República num pedido de fiscalização. E dizem e sabem todos que são 4 mil milhões de euros que estão em causa, embora Passos Coelho tenha pedido silêncio, dizem que para evitar conflito institucional. Afinal há quem fale de um cenário «apocalíptico» em cima desse corte previsto de quatro mil milhões na despesa. Enfim, aos meus ouvidos o que soa é já o refrão do meu destino, por este andar infalível: "Sem ter beira nem patrão, o voar é nossa sina, vão andar de mão em mão, as pombinhas da Catrina".
A questão é só uma, bem vistas as coisas: será que ninguém tem mão nisto?