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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

More than meets the eye

Sete Vidas Como os gatos

09
Out07

E por falar em prateleiras...

Rui Vasco Neto

José Rodrigues dos Santos foi hoje suspenso de funções e vai ser alvo de um processo disciplinar interno. A administração da RTP anunciou ainda que vai «iniciar procedimentos legais» contra o jornalista e apresentador na sequência das acusações deste sobre alegadas ingerências do conselho de administração em matéria editorial. Foi no domingo passado, na 'Pública'. Hoje mesmo deixou de apresentar o Telejornal.


09
Out07

Morrer é outra coisa

Rui Vasco Neto
Quando eu comecei a ver bem como se fazia televisão, quem fazia televisão era o Raul Durão. Ele e outros, claro. Mas nesse ponto exacto das minhas recordações o homem da altura era o Raul. Foi uma referência incontornável, para mim e para muitos como eu, que achavam ter jeitinho para a coisa. Tiques e trejeitos, colocação de voz e postura, rodapés de ironia fina ou notas de humor, tudo era muito ele, muito o retrato do tempo televisivo da altura. Quando anos depois entrei para a RTP, a primeira equipa que integrei foi a do Raul Durão, já nas tardes do Canal 1 mas activo e coordenador. Com o passar do tempo a sua imagem esfumou-se do écran e com toda a lógica. Com a lógica perversa do audiovisual, que o Raul conhecia de gingeira. É assim. Faz parte. A gente estrebucha mas habitua-se a qualquer prateleira se não quiser cair no chão e ficar por lá. Toda a gente, que o chão é duro para todos.
Raul Durão morreu hoje, diz o site da RTP e eu fiquei a saber há dois instantes. Um para me lembrar dele, sem estremeços de histeria. E o outro para arquivar a memória, com amizade e respeito, naquela galeria de figuras de sempre que encontro por aí, sempre iguais, pelas esquinas da minha televisão. Morrer é outra coisa.

RVN

09
Out07

Eles lá sabem?

Rui Vasco Neto
Qual é a diferença entre uma opinião de peso e um palpite bem ou mal intencionado? A primeira tem elevadas probabilidades de acerto e assenta em bases sólidas de ciência e conhecimento, enquanto que o palpite tem andaimes de aparência, cargo, simpatia, tom de voz ou cor de gravata e pode até acertar uma vez por outra, tudo pode acontecer. Ou seja: um tolo fashion bate aos pontos um perito andrajoso, é a moral da história. Mas eu aposto que até qualquer benfiquista, se em risco de vida, quer é que o médico seja competente seja ele sócio do Porto ou não (embora ás vezes chegue a duvidar do inverso. acreditam?!). Enfim.


Vem esta arenga a propósito desta história das linhas de muito alta tensão (MAT) que anda a deixar o país em estado de choque. Hoje mesmo o DN dá voz a mais um coro de meias explicações titubeadas pela segunda linha de responsáveis da Rede Eléctrica Nacional (REN) que se queixam, coitados, que enterrar as linhas MAT «custaria pelo menos o dobro», sendo que não existe em Portugal o enquadramento legal que defina as condições legais e técnicas a que teria de obedecer um eventual enterramento de linhas. E mais: ao contrário do que acontece com as redes de gás ou telecomunicações, não há uma lei que estabeleça as características da servidão do terreno, compensações ao proprietários privados e eventuais restrições ao uso da área. Cá está. Isto é uma opinião de peso. Técnicos de uma empresa investigaram os custos de um novo projecto empresarial e opinaram enquanto peritos. Eles lá sabem. Eu acredito. Enterrar as linhas custa comprovadamente mais caro que deixá-las como estão. Só que o assunto é outro. Quer-me parecer que os portugueses vizinhos da linhas MAT se estão bem nas tintas para as despesas da REN, quando o que está na mesa é um possível risco sério para a saúde pública. Eles, lá, sabem?


Bem, o senhor Ministro do Ambiente já veio dizer coisas sobre o assunto. Nunes Correia foi lapidar. Defendeu ser «claramente maioritária» a opinião dos especialistas que «recusam o impacto na saúde» das linhas MAT, mas avisou que o Governo «tem de estar atento» às opiniões contrárias. E assim deixou todos contentes e lá foi governar Portugal. Quem lhe ouviu a voz firme e viu o olhar decidido na televisão não teve dúvidas. Eles lá sabem. Alguma vez era possível uma coisa dessas ser perigosa e o governo deixar? O povo é sereno, ainda e sempre. E eles lá sabem.


Estava a coisa neste pé, opinião para cá, palpite para lá, mais disparate menos asneira, o Supremo Tribunal Administrativo a proibir e eles lá sabem, a linha Fanhões/Trajouce a continuar a funcionar e eles, lá, a saberem, enfim, tudo e todos na expectativa de um parecer credível, quando eis que surge a peça que faltava. José Penedos, o presidente da empresa dos 'eles' que disseram que custava o dobro enterrar os cabos, vem a público dizer que não faz mal tê-los no ar. Dizer não, garantir. O presidente da REN foi taxativo: «Não há prova científica que fundamente o pavor generalizado» em relação aos postes MAT colocados um pouco por todo o país. Diz ele que «nenhum estudo conseguiu, ao fim de anos de investigação, estabelecer a relação causa-efeito» e aponta a prática internacional para desfazer as dúvidas.



Mas a suprema garantia de José Penedos é outra. Ele que sabe, jura a pés juntos que não se importaria nadinha de viver perto de uma linha MAT. Não, não senhor: ele, que sabe, não vive perto de nenhuma, Deus nos livre, por acaso até não. Mas diz que não se importava nada de lá viver. «Não me sentiria ameaçado. Digo-o com a ciência de quem vive no ambiente da electricidade há muitos anos. Não há perigo», garante o presidente da REN. Eles lá, sabem. Nós é que não. Mas queremos saber, precisamos desesperadamente saber. O que nos remete para a tal questão da diferença entre opinião de peso e palpite, tolos e peritos, Benfica e Porto. Este senhor deve saber o que diz. Saberá mesmo? É normal que eles lá saibam. A proximidade de linhas de muito alta tensão pode originar cancro? Ele diz que não, garante que não, jura que não. Ele lá sabe. É um parecer científico? Tem 'a ciência de quem vive no ambiente da electricidade há muitos anos'. Ah, bom, assim é outra coisa. Não se fala mais nisso.



RVN




08
Out07

Maresia com fartura

Rui Vasco Neto
Hoje é dia de regiões autónomas na primeira página da informação nacional. Por razões diferentes, Açores e Madeira são hoje notícia. Da Ilha do Faial veio a lágrima espontânea do Presidente da República que, de visita ao arquipélago e ao pôr o pé nas cinzas frias, se recordou das imagens da erupção do Vulcão dos Capelinhos, transmitidas ao tempo na recém inaugurada RTP e não se fez rogado à comoção. Já da Ilha da Madeira as lágrimas vieram dos presididos. Mais uma vez. O secretário-geral do PS/Madeira, Jaime Leandro, vem a Lisboa com um "dossier de casos que indiciam corrupção na Madeira", uma compilação que será entregue ao procurador-geral da República. O encontro com o conselheiro Fernando Pinto Monteiro está agendado para quinta-feira, às 15.30. O funcionamento da fundação social-democrata, situações de licenciamentos que levantam dúvidas, a auditoria à Câmara Municipal do Funchal e o processo relativo a uma acção popular contra a construção de um megacentro comercial e residências na baixa funchalense, são algumas das referências constantes no dossier. O PS defende uma "investigação profunda às contas bancárias e ao património pessoal de determinados cidadãos" e o líder local do partido, João Carlos Gouveia, acrescentou ainda que nos últimos dias tem recebido "documentos e fotografias" que indiciam irregularidades. "Como não sou polícia vou remeter tudo para o MP", disse.

Nos Açores Carlos César também disse coisas e algumas delas indiciaram igualmente preocupações administrativas. No final de uma audiência com o Presidente da República em Angra do Heroísmo, o Presidente do Governo Regional projectou essas preocupações para o próximo processo de revisão do Estatuto Político-Administrativo dos Açores. “Espero que este Estatuto possa ser um elemento clarificador, no sentido de se pacificar e de se fazer uma pausa na polémica constitucional à volta das autonomias. Nós precisamos de, com clareza, conhecer as nossas competências e as competências dos órgãos da República, para que cada um possa fazer o melhor dentro do seu núcleo de competências suficientemente clarificado”, disse Carlos César.


Entre as duas notícias, ambas destaques de abertura na comunicação nacional, jaz todo o oceano de indiferença que separa Portugal Continental do Portugal Insular. Onde todas as esperanças morrem na praia. Acreditar que São Bento passa os dias a matutar nas tropelias de Alberto João ou que Belém não dorme de noite com as imagens da lava incandescente derramada sobre as vidas dos Picarotos, é o primeiro passo para derramar também una furtiva lacrima por conta da crença que amanhã tudo vai mudar no dia a dia dos não-eleitos que vão sobrevivendo nas Regiões Autónomas de César e Jardim. Os tais cujas esperanças, todas elas, morrem na praia dos olhares perdidos no horizonte da normalidade que os separa das vidas de Portugal e dos Portugueses."Somos herdeiros da maresia/que salga os olhos de olhar o mar /e temos rios de lava fria /que se recusam a desaguar", leu Victor Hugo Forjaz no mesmo chão e no mesmo instante da lágrima de Cavaco. Palavras açorianas, do poeta Emanuel Félix. O seu eco estará há muito esquecido quando amanhã, para a semana ou no mês que vem, o Presidente da República estiver a congratular o Rio Ave pela conquista de uma Taça, a comentar a intervenção da GNR na sexta demolição das barracas no Bairro da Miséria ou a congregar esforços político-partidários para qualquer uma das grandes questões nacionais. Que, reconheça-se, não passam pela realidade dos herdeiros da maresia, sejam os de César sejam os do jardim.

Que somos todos portugueses é um facto. Mas a cada um a sua herança, é outro facto sem discussão. E na verdade, alguns de nós têm avós que moram longe para burro, lá no meio do mar e fora de mão todos os dias, menos nos daquelas férias para mais tarde recordar. Ou quando é dia de Regiões Autónomas na primeira página da informação nacional, por abuso de poder ou visita do casal presidencial. Aí o país alastra de orgulho pátrio e o Telejornal abre das ilhas em directo. Que lindo, meu Deus, aquilo dos 'herdeiros da maresia'. Que salga os olhos de olhar o mar.


RVN





08
Out07

Injustiças e Especialistas

Rui Vasco Neto
A coisa é séria. Vejo uma tremenda injustiça nas recentes críticas feitas ao senhor Presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT) a propósito da espantosa descoberta do jornal ‘Público’ do passado dia 30 de Setembro: «Quase todos os equipamentos que dão apoio a toxicodependentes marginalizados na cidade de Lisboa são geridos por uma associação particular, a Ares do Pinhal, cujo presidente é desde há muitos anos um alto-quadro em organismos públicos na área da droga, actualmente no Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), o psiquiatra Nuno Silva Miguel». Ou seja: na prática, um dos maiores e mais directamente beneficiados pelas decisões do IDT também ajuda a tomá-las, no âmbito das suas funções de Assessor do Conselho de Administração do mesmo IDT. O jornal acrescenta ainda que «as valências e os valores envolvidos foram aumentando sem haver pareceres técnicos nem estudos das necessidades da população toxicodependente na capital» e refere ‘irregularidades contabilísticas’ e ‘acumulação de funções com múltiplos ordenados’ entre outras coisitas de somenos. Serão questões de pormenor, ele merece, é tudo legal, diz o senhor Presidente do IDT. Só que estas minudências têm muitos zeros e nenhum concurso público, diz o senhor Presidente da Câmara do Porto. De acordo com os valores constantes no seu próprio protocolo de 2006, a Ares do Pinhal gasta em média até 1,7 milhões de euros por ano só na rubrica "honorários, remunerações e remunerações adicionais", cerca de 75 por cento das verbas que lhe são atribuídas, sendo que já em 2005 os valores máximos andavam em torno de 1,5 milhões de euros por ano. É obra. Veja-se o exemplo do Projecto Gabinete de Apoio Móvel, 3 pessoas, 3 dias por semana (um deles só à tarde), que o IDT subsidia. O Dr. Nuno Miguel aconselha o IDT e preside à Ares do Pinhal, a associação particular responsável pelo projecto que o mesmo IDT financia com verbas semestrais de 92.184 euros para o apoio a toxicodependentes. Depois o mesmo Dr. Nuno Miguel divide os mesmos 92.184 euros em 79% para o apoio e 21% para os toxicodependentes, números da própria associação. A coisa só complicou agora, quando o Presidente da Câmara do Porto resolveu reclamar do dinheiro gasto por querer uma fatia maior para o seu ‘Porto Feliz’. E exigiu a demissão do Presidente do IDT. Eu cá, sinceramente, vejo aí uma grande injustiça. Passo a explicar.
Tal como está, a toxicodependência permite que a classe política mantenha o equilíbrio, sentada na tampa da ordem pública que faz o mundo cheirar bem e ser bonito e separa os uns dos outros. Lá em baixo, para fazer o trabalho sujo, estão os especialistas em evitar transbordos. Da tampa para baixo é o mundo deles. São os homens da droga, os especializados que vão sempre à televisão explicar como se faz para acabar com a toxicodependência. Que todos os anos aumenta, diga-se. E eles todos os anos lá vão, sempre os mesmos e a dizer o mesmo, João Goulão, Luís Patrício, Rodrigo Coutinho, Nuno Miguel e uma selecção criteriosa de colegas e afins, todos eles nomes fixos na escala de serviço ao balcão da drogaria nacional. Nas últimas duas décadas trocaram entre si quase todos os cargos que apareceram, ora tu, ora eu, ora tu mais eu. E hoje continuam onde quer que haja dinheiro, droga e drogados. Nas direcções gerais de todos os governos. Em todas as presidências e direcções de todos os Institutos e afins. Nas consultadorias dos Governos Regionais dos Açores e Madeira. Nas direcções dos principais CAT’s e em todas as comissões, sub-comissões e sub-sub-comissões que mastigam o erário público, em grossos nacos, há anos sem fim e sem proveito. Nas Direcções Clínicas das Comunidades Terapêuticas. E, claro, no proveitoso recato dos seus consultórios particulares. Em toda a parte podemos encontrar esta nata de especialistas da droga, verdadeiros toxicodependentes, já que as suas vidas e carreiras dependem do consumo de drogas. Mas não são os únicos. A toxicodependência faz vender jornais, eleger políticos, aprovar orçamentos milionários, construir carreiras, vender medicamentos, lavar receitas, abrir clínicas de tratamentos miraculosos e mais, muito, muito mais. Por isso me parece uma enorme injustiça assacar ao actual senhor Presidente do IDT as culpas de uma dona de bordel. Afinal, tal como os seus especializados colegas especialistas, há anos e anos que ele vem provando ser apenas mais uma das raparigas.

RVN

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