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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

More than meets the eye

Sete Vidas Como os gatos

26
Abr08

Primeiro as calças, depois o gatilho.

Rui Vasco Neto
Fernando Silva tinha 53 anos e um hábito merdoso: gostava de espreitar, casais, carros estacionados em locais isolados e escuros. Como o parque de estacionamento do "Dunas Bar", por exemplo, na praia das Pedras Negras, um dos muitos 'pinódromos' da zona de Leiria. Por várias vezes tinha já sido visto a rondar carros com casais de namorados, repetidas vezes tinha sido "advertido" por militares da GNR. Mas o vício merdoso era mais forte. "Ele era conhecido. Gostava de espreitar os namorados dentro dos carros, em locais ermos e escuros", explicou fonte daquela força policial ao JN. Um vício que Fernando perdeu de vez (esse e os outros todos, de resto) ao ser baleado mortalmente, ontem de madrugada, por um agente da PSP de Leiria, fora de serviço, quando supostamente espreitava para dentro do carro onde este se encontrava acompanhado de uma mulher. Três tiros acabaram com a vida deste camionista voyeur, casado pela terceira vez, residente na Truta. Quanto ao polícia, de 35 anos, casado e com três filhos, trabalhava na Esquadra de Investigação Criminal do Comando Distrital da PSP de Leiria, mas não se encontrava de serviço naquela madrugada, obrigado a fazer cumprir a lei. Em bom rigor, ele estava mesmo era a infringir a lei, absorto naquelas brincadeiras que Fernando espiava do lado de fora. Quando deu pela presença do mirone, o agente não hesitou e fez fogo. Três vezes. Problema resolvido.

Tudo aconteceu cerca das duas da manhã, no parque de estacionamento do "Dunas Bar", na praia das Pedras Negras, cujo acesso é feito através de uma estrada de terra e pedra, junto ao pinhal de Leiria e sem iluminação. "É sossegado. Os casais podem estar à vontade", explica Cândida Bairrada, a gerente do bar. Fernando ainda foi assistido no local por médicos do INEM, mas acabaria por não resistir aos ferimentos provocados pelos três disparos que, segundo o comandante dos Bombeiros da Marinha Grande, Vítor Graça, o atingiram no pescoço, clavícula e omoplata. Os tais três tiros que o agente diz agora ter disparado por pensar 'que se tratava de um assalto', o que não deixa de ser uma teoria curiosa, para não dizer outra coisa. Mas foi essa a justificação que o polícia terá dado aos inspectores da PJ de Leiria, encarregues da investigação deste homicídio. Agora, só o futuro dirá se a desculpa pega, mesmo esfarrapada, ou se este agente vai ter que responder pela vida que fez terminar enquanto laureava a pevide na via pública.

Tudo depende de como venha a ser oficialmente vista a sua atitude, sendo que, nestas coisas de polícias, é por demais sabido que tudo pode acontecer. Ainda me lembro do caso do agente que matou pelas costas um ladrãozeco de rua, há poucos anos, e foi absolvido por 'legítima defesa', prodigiosamente dada como provada em tribunal. Pois este, com 35 anos de idade, casado, três filhos, em princípio de carreira, também dificilmente será alvo de condenação, estou capaz de apostar. Pode até ser que lhe dêem uma medalha pela proeza, que nem por isso foi de somenos: afinal não é qualquer um que, apanhado sem elas, consegue primeiro apertar as calças e só depois o gatilho, com igual destreza e resultado certeiro. E tudo nos seus momentos de lazer, nas folgas da sua consciência, nos pecadilhos da sua juventude plena de testosterona. Não há dúvida: a luta contra o crime não dá tréguas a quem nasce para ser herói.
26
Abr08

Bom dia. Hoje os abusos sobre idosos internados continuam a acontecer. Até quando?

Rui Vasco Neto
25
Abr08

Poema renascido

Rui Vasco Neto
Da escritora Soledade Martinho Costa recebo as palavras com que vos deixo, este 'Poema renascido', «escrito hoje, com a visão mais recente do meu Abril», diz-me em recado privado. Sigo na boleia desta autora, que hoje me honra com a sua presença e produção original, à descoberta desse dia inventado: um novo 25 de Abril no coração português. Os senhores ainda se recordam de 1974? Daquela onda imensa, transbordo de emoções levantadas do chão pisado que era a gente, por obra e graça do 'não aguento mais' de uns quantos que levou ao 'porra, já chega' geral? Pois passaram trinta e quatro anos, trinta e quatro. Tudo mudou, como manda a lógica inexorável do tempo. Mas então e se, imaginemos, Abril voltasse a percorrer as nossas ruas, hoje mesmo, que Portugal estaria à janela? E que vozes se ouviriam, que palavras de ordem chegariam aos ouvidos desta nação adormecida? Que país seríamos se hoje, Abril, fosse Abril outra vez? Só o talento literário para me emprestar esse milagre, por um minuto que seja. Soledade Martinho Costa faz as honras. A liberdade vai passar por aqui.

Em baixo:
"Poema renascido"
Sete vidas mais uma: Soledade Martinho Costa

Se Abril voltasse
A percorrer as ruas
E com ele na mão
Um cravo rubro
Os anseios que nascessem
Nesse dia
Trariam a certeza
De que os homens
Nem sempre procuram
A magia
Que faz dormir em paz
As consciências.

Se o outro Abril
Não passou de um sonho
Se respiramos hoje
Esta amargura
E os cravos se tornaram
Cor de bruma
A seara continua
A oferecer ao vento
O dourado do manto
E a formosura.

A murmurar, talvez
Que o Norte anda à deriva
Sem rota, sem leme ou timoneiro
Mas que resiste em nós.

A segredar ao coração
A tempo inteiro
É urgente ir em busca da bonança
E deixar que o Sol rompa o nevoeiro.

A fé não está perdida
É urgente ir em busca do poema
Que se fez bandeira
E fez canção
Em nossa voz
Agora adormecida
À espera de a ouvirmos
Renascida
Cantada noutro tom
Em vez primeira.
24
Abr08

Dois sonetos à maneira de Natália Correia

Rui Vasco Neto
Eu cá sou como os malucos, conto tudo a toda a gente. Pois estava eu para aqui danadinho da vida por não ter com quem embirrar quando dei em escrever ao Daniel de Sá para arejar a neura: «De Sá, diz-me: é por causa daquele dinheirito que me emprestaste e eu não te paguei? Ou é porque as miúdas dizem que eu sou mais giro (muito mais, incomparavelmente) que tu? Por que raio estás tu chateado comigo, ó da Maia, tão zangado que nem um olazito te mereço?». Respondeu-me na hora, aposto que sem pestanejar: «Ó raio de um homem, claro que estou chateadíssimo contigo, com o teu cão, com as pulgas do teu cão, com os 4-1 do União de Leiria, com o tempo que anteontem foi frio depois de ter sido frígido, e ontem foi quente e já hoje está frio outra vez, e com o Fernando Cristóvão que nos quer lixar a língua, e com tudo o que quiseres.» Mandei-lhe 'um abraço' e ele em troca 'dois sonetos à maneira de Natália Correia'. Achei a coisa justa e despedi-me. Acho que ele também me despediu. Arre porra, como é linda a amizade!


Em baixo: "Dois sonetos à maneira de Natália Correia"
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá
AO AMOR


A ilha me perdeu, sou de nenhuma.
Saudade-amor de mim, pedra que móis
Meu trigo que ceifei por outros sóis
Onde o suor não se evapora em bruma.

Sou valquíria que escolhe os seus heróis.
Minha paixão sou eu. Não me consuma
Outra paixão, amor. Bebo uma a uma
As gotas do veneno com que dóis.

Se as ilhas fossem gente, eu era o Pico,
De coração só feito de mistérios
E os longes das paisagens onde fico.

Das arribas do ser, a vida tomba
E os amores do Amor a morte fere-os.
Não libertem por mim nenhuma pomba.

AUTO-RETRATO ALEXANDRINO

Eu nunca fui na vida, eu nunca fui menina:
Impura sim. Eu sou a imaculada impura.
Não vesti tafetás nem chitas de candura
Nem quis vencer jamais esta invencível sina.

Foi sã minha poesia, e foi também perjura
Como uma flor-de-lis entre ascos de latrina.
Cantei ainda cedo a loa vespertina.
Se há Deus, vou-Lhe a caminho, e sinto-me segura.

Por ódio ou por amor, chamem-me louca ou bela.
Sinto a inveja e o ciúme em modos de homenagem:
Se tenho de aceitá-la, eu não me nego a ela.

Fui rainha de mim, de versos e de prosas,
E só a mim também honrei em vassalagem.
Cada espinho que fere é um sinal de rosas.


23
Abr08

Serenamente, em Ladino

Rui Vasco Neto
Quinhentos anos passaram desde que se ouvia e falava esta língua em Portugal. Chama-se Ladino e era a língua sefardita dos judeus ibéricos, feita de mesclas de castelhano e português medievais com hebraico. O Ladino foi extinto na Península Ibérica há cinco séculos, mas estima-se que ainda é falado por cerca de cento e cinquenta mil indivíduos em comunidades sefarditas em Israel, nos Balcãs, Oriente Próximo e norte de Marrocos. Também é conhecido como espanhol sefardita e judeoespanhol, este Ladino agora cantado por Teresa Salgueiro no tema 'La Serena', canção que dá nome ao mais recente trabalho discográfico da ex-vocalista dos Madredeus, agora lançada numa prometedora carreira a solo. Recomendo vivamente a audição repetida desta lindíssima canção na voz ímpar de Teresa Salgueiro, acompanhada pelos Lusitânia Ensemble nesta 'La Serena', edição de 2007. Em sefardita.

23
Abr08

Bom dia. Hoje eu digo que ainda não foi desta, afinal.

Rui Vasco Neto
22
Abr08

Bom dia. Hoje eu vejo a caridade pelas ruas da amargura.

Rui Vasco Neto

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