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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

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Sete Vidas Como os gatos

02
Abr08

Pêquêpê o pêdêcê

Rui Vasco Neto
Jaime Silva soma e segue. Verdadeiramente imparável, este nosso ministro da Agricultura, aparentemente auto-investido nas altas funções de Provedor da Dentada Canina, ou coisa que o valha. Pois agora o PDC teve outra ideia, outro lampejo, mais um plim! Decidiu então o senhor ministro que agora a esterilização dos cães não é suficiente, há que criminalizar os donos sem perdão. Quero dizer 'punir, 'multar'? Não senhor, quero dizer criminalizar, mesmo, transformar em infracções criminais aquilo que hoje são meras contravenções, puníveis com coima no pior dos casos. Exactamente.

Não sou bem eu quem quer dizer, entenda-se, quem quis e disse foi o senhor ministro da Agricultura, para quem, a partir de agora, devem levar roda de criminoso todos os que tiverem cão que cague fora do penico ou rosne à vizinha errada. Nem mais. E falamos de qualquer cão, não mais apenas dos famigerados cães de raça perigosa. Qualquer dono de lulu rafeiro corre o mesmo risco de ser levado à barra de um tribunal criminal, se esta ideia luminosa de Jaime Silva (mais uma entre incontáveis ataques de igual brilhantismo) fôr avante tal como foi exposta. Deus nos proteja e guarde de mais estoutra investida do senhor ministro às canelas de quem tem cães.

Entretanto, que não fique aqui confusão ou mal entendido. Concordo em princípio e em primeira análise com a punição do 'incitamento' e 'negligência' dos donos destemperados de cães potencialmente perigosos, face às suas características de raça ou arraçamento. Dos uns e dos outros, diga-se, já agora. É urgente e peca por tardia. Mas daí até bater palmas a uma má lei, de génese rafeira, preguiçosa no descriminar, desleixada no critério e amante da estimativa a olho, fácil e barata, vai a enorme distância do meu repúdio pela intenção de tamanho absurdo legislativo.

Qual será o problema deste homem, pergunto-me. Jaime, Jaime Silva, como Rui, José ou Manuel. Até consigo perceber o ministro (há bons e maus), enfim, com esforço. Mas bolas: não terá gente lá dentro, o fatinho que carrega esta pasta agrícola no Portugal socrático?
02
Abr08

A brincar a brincar...

Rui Vasco Neto
Uma das partes gagas mais curiosas das polémicas que envolvem Alberto João Jardim é o delicioso pormenor de, muitas vezes, ele nem precisar de abrir a boca para se criarem enormes confusões em torno da sua pessoa. Será a consequência natural de uma vida a semear ventos ciclónicos? Talvez. O facto é que desta vez a polémica chegou pela voz da segunda figura do Estado português, nada menos, que entendeu prestar uma homenagem pública a Jardim para grande consternação dos seus colegas de partido e do próprio governo.

Jaime Gama foi à Madeira e disse, na sexta-feira passada, que o líder do governo regional é «um exemplo supremo na vida democrática do que é um político combativo», adiantando que a região é «a expressão de um vasto e notável progresso no País». Foi quanto bastou para deixar o Partido Socialista em polvorosa, cá e lá. Começou lá, com o PS local a emitir um comunicado de queixumes, bastante contido na expressão da revolta contra Jaime Gama, mas mesmo assim de inequívoca zanga regional. «O camarada Jaime Gama ofendeu todos os cidadãos deste país, particularmente aqueles que, na Região Autónoma da Madeira, têm sido severamente prejudicados, no seu corpo e na sua alma, pelo exercício autocrático do poder regional vigente, já lá vão trinta anos», lê-se no voto de protesto dos socialistas madeirenses, cansados de levar na cabeça.

E continua por cá, hoje com Ana Gomes a pegar na deixa de Edite Estrela. «Concordo com a deputada Edite Estrela, com certeza que foi dito num momento de humor, de humor negro», disse Ana Gomes, quando questionada pelos jornalistas sobre como reagia aos elogios de Jaime Gama a Alberto João Jardim. «Jaime Gama tem um apurado sentido de humor e foi certamente em tom irónico que fez as declarações», tinha dito Edite Estrela em Bruxelas, acrescentando ainda que se o presidente do Parlamento «estava a falar a sério, só posso lamentar».

Eu cá imagino a cara de Alberto João ao ler estas e outras reacções socialistas aos elogios de Jaime Gama, que de resto não é o primeiro Presidente da Assembleia da República a tecer-lhe loas públicas com estrondo, já Almeida Santos o fez, repetidamente, sempre que visitou a Região. Belas gargalhadas estará a merecer esta desorientação socialista a Jardim, pela certa. Justificadas, de resto. Afinal, tem razões de sobra a hilariedade deste caso único da vida política nacional que sempre teve ambições para lá da sua ilha. E que agora assiste de cadeira a uma manobra de requintado jogo político-partidário com a sua pessoa, executada por um nada inocente Jaime Gama com uma oportunidade e precisão dignas de nota. Estes fernicoques de Ana Gomes e Edite Estrela não são nada que Jaime Gama não tenha previsto e desvalorizado logo à partida, ao dizer o que disse com o seu olho clínico e matreiro posto em caça mais apetecível e vulnerável. Que não vota PS.

Ou os senhores também acham, como a Dra. Ana Gomes, que Jaime Gama estava a brincar ou pior, que se enganou?

01
Abr08

Às portas de Santo Antão

Rui Vasco Neto
Foi um verdadeiro prazer assistir hoje ao lançamento do 'Último Minuete em Lisboa', de Fernando Venâncio, na Casa do Alentejo. Mesa de luxo, nesta iniciativa da Assírio&Alvim. Francisco José Viegas fez, bem como sempre, a apresentação da obra de Fernando Venâncio. A Henrique Granadeiro e Manuel Rosa couberam as palavras introdutórias da obra de José Cutileiro/A.B.Kotter, também hoje apresentada, 'Bilhetes de Colares'. Foram assim vários os motivos de interesse deste fim de tarde às Portas de Santo Antão, regado com um excelente tinto de edição Granadeiro, com rótulo dedicado a A.B.Kotter e uns generosos 14,5º num corpo robusto e deliciosamente frutado.
Melhor que tudo isto só o longo e saboroso naco de conversa de pé de orelha de um trio inesperado, composto por Fernando Venâncio, José do Carmo Francisco e eu próprio, os três correndo com entusiasmo os cantos de conversas atrasadas e saboreando o falar de quem por hábito só comunica pela escrita. Se falámos da saída recentíssima do professor do Aspirina? Sim, talvez não, não sei, não interessa. Sei que foi um belíssimo momento, isso eu sei. E que Fernando Venâncio corresponde e supera, em pessoa, o muito que dele se imagina pela sua escrita.
01
Abr08

Diário de um April's Fool

Rui Vasco Neto
Hoje fiz uma visita rápida aos estúdios de televisão da Valentim de Carvalho. Aparentemente escolhi o dia das mentiras para o fazer, nem pensei na data. Fiz o caminho de sempre, pela força do hábito. Entrei pela porta do estúdio 2, o 'meu' estúdio, onde hoje se fazem 'As tardes de Júlia'. E com tanta pontaria o fiz que encalhei na porta estreita em direcção contrária à maré vazante do público que faz a figuração de plateau, umas dezenas de pessoas cuja maioria trabalhou também comigo durante os anos do 'Vidas Reais', naquele mesmo estúdio. Juro que a cena valia um Óscar, nem que fosse Acúrcio! A cara daquela gente que me conhece e que eu conheço, a expressão de incredulidade, o não saberem o que fazer, se andar, se parar, se falar, se acreditar ou não no que os olhos lhes diziam!! O episódio vai ficar como mais uma das minhas (muitas) estorietas de vida. Eu, pelo meu lado, estava dividido entre o sorriso algo divertido e o embasbacanço algo constrangido de quem se vê assim visto, qual Lázaro depois do túmulo, levantado e a andar pela graça divina.

A situação tinha alguma piada no ar e toda a gente estava sem saber muito bem o que dizer ou fazer, quando uma senhora de repente estaca na minha frente e começa a passar de azul pálido a verde-roxo e daí para uma brancura de face que quase nos matou de susto a todos, a começar por mim. Lá segurei a senhora, dois beijinhos, sente-se aqui, sente-se melhor? Lá recuperou o fôlego, pobre criatura, que com genuína emoção me explicou o baque que o seu coração já gasto tinha sentido ao ver ali, vivinho da costa e "a sorrir para mim, veja só!" o mesmo tal que o jornal tinha dito estar morto e enterrado, "meu Deus, como eu chorei, o senhor Rui não imagina, ai que feliz que eu estou de o ver...". Nas palavras de uma entroncaram as dos outros, todos com uma história para contar, o que faziam naquele dia em que souberam a notícia, quantos ais soltaram e quantas orações rezaram, o que se tinha dito e comentado, o que disse este e aquele e o outro... e tudo nos dias seguintes à famigerada publicação, pelo 24Horas, da notícia do meu passamento, dada por esse ícone chonchudo do jornalismo nacional que dá pelo nome de Castro, o Carlos.

Ali ficámos um nadita à conversa, entupindo a saída do estúdio onde ainda se gravavam as promos para o dia seguinte. O espectáculo tem que continuar, todos o sabemos. Banhei a alma naquelas beijocas repenicadas e retirei-me devidamente apalpado pelos apertões necessários e suficientes para o pessoal saber que estou vivo e quente, ainda a mexer. Vim consolado de afectos genuínos e desinteressados, mas a pensar no peso que tem a informação. E também no nosso Nunes, António, o tal que devia zelar pelo bem estar de todos nós. Vejamos: em cada maço de tabaco, por exemplo, consta a inscrição "Fumar prejudica gravemente a sua saúde e a de todos os que o rodeiam". É lá posta para prevenir os danos que o consumo daquele produto pode causar. Lembrei-me mais uma vez do rosto lívido daquela senhora que desmaiava nos meus braços de fantasma defunto, intoxicada por uma informação estragada, à venda ao público por um jornal diário. E não resisto a perguntar, mais uma e outra vez: então e um aviso luminoso, sonoro, bilingue, em cada exemplar daquele pasquim merdoso, não seria uma medida higiénica, to say the least? Nunes, António, pá: para quando, caraças?

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