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Conta- nos hoje a Lusa que a GNR se deslocou a casa de Vale e Azevedo em Colares, Sintra, para o deter no âmbito do caso "Dantas da Cunha", tendo o caseiro indicado que o ex-presidente do Benfica está em Londres em morada incerta. Diz mais, a notícia. Que a certidão desta diligência efectuada a 26 de Maio pela GNR de Colares, a que a Agencia Lusa teve hoje acesso, refere que o responsável pela Quinta de Cima, residência do antigo presidente do Benfica, garantiu à GNR que "João Vale e Azevedo há cerca de dois anos exerce actividade profissional em Londres, desconhecendo a morada", e que só "esporadicamente vem a Portugal".
Ou seja, trocado em miúdos, o ex-presidente do Benfica terá recusado liminarmente a generosa oferta, apresentada pela Justiça nacional, de alojamento em regime de pensão completa por um período de sete anos e meio, mais amnistia, menos precária. Ou, de forma talvez mais directa e no dizer popular, haverá por certo quem pense e diga que Vale e Azevedo se pirou para não ir de cana, deu ao solante e foi de frosques, enfim, isto já se sabe que há gente para tudo nestas coisas. Recordemos os factos, que o tempo passa a correr.
Um colectivo de juízes do Tribunal da Boa-Hora, presidido por Renato Barroso, condenou, em Outubro de 2006, o Dr.Vale e Azevedo a sete anos e meio de prisão pela prática dos crimes de falsificação e burla qualificada no chamado "caso Dantas da Cunha", após considerar que, em 1997, o então advogado falsificou procurações para obter, à revelia de Pedro Dantas da Cunha, poderes para hipotecar um imóvel da família deste, localizado no Areeiro, como garantia de um empréstimo de 1,5 milhões de contos contraído junto da Caixa Geral de Depósitos (CGD). E arrecadado pelo águia-mor, directo para o bolso esquerdo, ao tempo. Minudências, no fundo.
Bem, a braços com o que só pode tratar-se de um mal-entendido, com toda a certeza, Vale e Azevedo terá optado por não estar hoje ali, à porta da sua residência e de mochila pronta, para receber os agentes que lá iam buscá-lo com uma intenção tocante. Mesmo. Pois a mim só me custa a aceitar que ele não tivesse ao menos deixado um bilhetinho, isso é que eu acho que foi um nadita rude. Já não digo um manifesto, que diabo, mas uma carta ao Dantas, por exemplo, um bilhete ao Dantas, uma nota com o desabafo final: "Se o Dantas é português eu quero ser inglês! Fui. PIM"
«O presidente do FC Porto, Pinto da Costa, afirmou hoje que o clube "não se considera fora" da Liga dos Campeões de futebol e ameaçou "pedir responsabilidades e indemnizações a todos os que contribuiram" para a situação.»
Um, dois, três, quatro, cinco, zero. Estou na rua, estou em casa, estou no espaço, estou sem ele, estou na terra e estou aqui, estou ali, estou no mar. Estou de dia, estou de noite, estou à hora do meio-dia, até, que agora nem por isso é o 'meio' que era dantes, já nem isso está na mesma... tudo mudou menos eu, que insisto no absurdo de estar, estando assim. Mas que vou estando, enfim, e sempre que estou (ou desde que esteja, vai dar no mesmo) tenho-te comigo, instalado no pensamento, gravado a sangue (esquece o suor, pensa nas lágrimas). Sempre, a todas as horas, pois que cada segundo é um pretexto, um 'a propósito' que, junto aos outros mil, soma este despropósito em que vivo, de assim estar por tu não estares. Repara que é injusto tu não estares se eu estou, (uma vez ou outra, que seja). E algo perverso, também. Ou não vês? Pois se quando eu estou tu estás, por que diabo não poderás tu estar onde eu também esteja, comigo lá eu onde estiver? É que é tudo o que nos falta, aos dois e a cada um, neste momento e há tempo demais: deixar que o 'estou' passe a 'estamos' para estarmos juntos e um com o outro (coisas distintas, porém compatíveis). E é isto tudo e o que eu mais peço à vida, todos os dias, o meu desejo mais repetido, para dentro e para fora, desde a prece muda até ao murmúrio acanhado, daí para a voz alta, e a seguir mais alta um pouco, ou mesmo dois poucos, três poucos e um berro, dois, três, gritos aflitos da angústia de não te saber. Moral da história? A puta é surda que nem uma porta, fechada para mim por ti há tempo demais. Abre, por favor. Sou eu, lembras-te? Sou eu.
Manuela Ferreira Leite é desde sábado passado o rosto da nova liderança do Partido Social Democrata, escolhida pelos militantes laranja em função dos seus atributos de sobriedade pessoal, dureza política e competência técnica. Foi Ministra da Educação do XII governo (93/95) e Ministra de Estado e das Finanças do XV Governo Constitucional, antes de se zangar com Pedro Santana Lopes e bater com a porta em 2004. É a senhora da foto da esquerda, para quem possa ter dúvidas. Nada mais natural, de resto, se considerarmos que a senhora da foto da direita é também uma mulher da vida política, por sinal uma Ministra, nada menos. Com efeito, a senhora de preto que está na foto da direita chama-se Maria Rosaria Carfagna e foi nomeada, no passado dia 6 de Maio, Ministra para a Igualdade de Oportunidades do IV Governo de Sílvio Berlusconni, uma pasta com particular responsabilidade social. E visibilidade, claro, coisa que não falta a la signora Carfagna. O primeiro ministro italiano, de resto, não tem sido nada parco nos elogios que faz à beleza da sua ministra e ex-modelo fotográfico. E de tal forma assim é que Berlusconi já deu mesmo origem a (mais) um escândalo com a sua própria mulher, ao afirmar que casaria com Maria Carfagna pela sua beleza. Nada que remotamente se pareça com o passado por cá das inúmeras vezes que o agora Presidente Cavaco Silva rendeu públicas, extensas e sentidas homenagens à competência técnica de Manuela Ferreira Leite e à sua própria personalidade e maneira de estar na vida, duas faces da uma mesma moeda-forte do cavaquismo: uma postura de coerência, pessoal e política, de austeridade e de rigor, até de contenção verbal que positivamente encanta Cavaco e ainda merece o entusiástico apoio da nossa Primeira-Maria, tão público e notório como só ela consegue que seja uma mímica de consorte presidencial.
Maria Rosaria Carfagna e Manuela Ferreira Leite são duas mulheres na primeiríssima linha da vida pública dos seus países, dois expoentes da política no feminino que não poderiam ser mais diferentes entre si, sem desprimor ou menosprezo de nenhuma perante a outra. Exibi-las a par, tanto como compará-las, tem o seu quê de obsceno se nos ficarmos pela caricatura grosseira de uma, ou pelo mamilo exposto da outra. Mas há muito mais a considerar no percurso individual de cada uma destas pessoas, por acaso mulheres, dos respectivos pontos de partida até às cadeiras do poder que hoje ocupam e mesmo na forma como desempenham os seus papéis. Eu cá teimo em que há por aqui uma moral da história para reter e guardar, uma lição a aprender. Qual? Não sei ainda, vou continuar à procura. Ela há-de estar por aqui algures.
Não é prática cá da casa a reprodução de posts de outros blogs, antes o link, claro. E salvo casos muito, muito pontuais, não vejo por regra grande interesse em fazê-lo, para além de raramente acontecer um post extraordinário ao ponto de justificar um tal arrobo. Ora eu sei que aqueles de entre vós que usam os chapéus maiores (para cérebros mais largos) já perceberam com certeza que se eu estou para aqui com este parlapié todo é porque este deve ser um dos tais casos muito muito muito especiais, será assim ou não? É pois, certíssimo, nem mais. Creio mesmo que este caso ilustra bem o que é de alguma forma a essência da blogosfera enquanto bloco-de-notas de luxo, arquivo da reflexão em estado puro e pelo puro prazer de viajar na memória, de referência em referência, em busca do sentido das coisas. Porquê? Ora, porque sim, claro. Pfff. Nuno Miguel Guedes num momento feliz.
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Este acordar da Charlotte trouxe-me memórias pessoais interessantes e inúteis, vontade de dizer coisas e sobretudo um belíssimo motivo para procrastinar gloriosamente.
Para começar, fico sempre com inveja de quem descobre autores numa altura supostamente «tardia», apenas porque normalmente tem-se muito maior gozo com isso. No caso da Carla, Nietzsche, que eu «descobri» aos 16 anos. Ler o Para Além Do Bem E Do Mal com as hormonas em modo milk shake é natural. O filósofo tem um estilo galvanizante, épico e que faz levantar das cadeiras e empunhar bandeiras. Como a Carla bem diz, oscila sem meias-tintas entre a demência e a pura genialidade. Mas isso só fui descobrir muitos anos mais tarde - muito depois de ter gasto toda a minha mesada e poupanças no pavilhão da Guimarães Editores,da Feira do Livro de 1980, onde comprei todos os livros traduzidos. Levei várias vezes o Also Sprach Zaratustra para a praia, onde lia as passagens mais misóginas às minhas amigas, apenas para causar indignação e o contacto físico que se seguia. Havia, nesse outro tempo, uma mistura de força, de triunfo da vontade que se misturava com ídolos e atitudes: Nietzsche, Morrison, Curtis, Baudelaire, Oscar Wilde, o dandismo, Tristan Tzara e Dada. Miraculosamente, tudo fazia sentido, sendo os pressupostos nietzscheanos o ponto comum para estes homens revoltados (o Camus veio explicar tudo a seguir).
Nietzsche, na sua errática obra, é um filósofo quase pop, abandonado a si próprio e muitas vezes mais romântico do que Byron. Com o ainda ligeiro peso dos meus anos, aprendi a separar o que dele prevalece (que é muitíssimo) e a admirar com outros olhos as fontes onde foi beber (Schopenhauer, por exemplo). Mas na altura significava revolta. O meu professor de Filosofia do 10º ano - que sabiamente nos obrigava a levantar sempre que entrava na sala, coisa então já pouco comum mesmo no Liceu Camões - odiava Nietzsche. Era um aristotélico inflexivel, que nos dava as notas em latim (ascendere superius se subiamos a nota, manterius auto-explicativo e um olhar gélido para quem tinha negativa) e desdenhava a ausência de sistema filosófico em Nietzsche. Para um adolescente, isto era uma tentação demasiado forte.
Voltei a pegar agora n'A Origem da Tragédia, como preâmbulo ao Crepúsculo dos Ídolos. O sangue voltou a correr como nessas horas de militância decadentista púbere. Mas com a vantagem de já carregar uma vida e poder reclinar-me num prazer solitário e desafiador.
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