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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

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Sete Vidas Como os gatos

27
Jul08

Um prémio sonhado aqui

Rui Vasco Neto

Ontem foi noticia a atribuição do Prémio Camões a João Ubaldo Ribeiro. Antes, muito antes desta homenagem, uma outra tinha já sido aqui prestada ao mesmo escritor por Daniel de Sá, que em Dezembro do ano passado publicava no 7Vidas esta magnífica chapelada inter-pares. Um texto com sotaque, cuja publicação eu não resisto a repetir hoje, neste dia em que a festa da Língua Portugesa tem esse mesmo sotaque que desta vez até limitou a selecção dos candidatos ao prémio. «Marcolino Candeias criou uma personagem magnífica, o Joe Cannoa, um contador de histórias fantásticas, capaz até de ressuscitar Lázaro uma segunda vez. João Ubaldo Ribeiro deu vida a muitas personagens tão deliciosas como as do Marcolino. Esta é uma tentativa de homenagear um e outro, através de um emigrante açoriano em terras brasileiras, vagamente primo do Joe Cannoa, que para lá foi em criança e que, do que diz, pouco soa à linguagem de pai e mãe.»

 

Em baixo: "Um sítio chamado aqui"

Sete vidas mais uma: Daniel de Sá

 

 

Baiano tem famas bem ruins. Todo mundo o desconsidera como sujo e vagal, e mais ainda que, tendo esse tanto de porco e preguiçoso, é também a vergonha do Brasil na hora de falar. Mas seu Ubaldo escreve direito nossas falas, e faz literatura que não há quem não dê aplauso ou bote defeito, inclusive portugueses de Portugal, e sendo que eles dão lustro na prosápia, dedicando à gente a desgraceira da ignorância. E se vosmecê ouvisse Julinho Calçagatos, principalmente depois de feitas suas devoções de cachaça, então ficava sabendo o que é biblioteca mesmo. É certo que na hora de contar mentira não há quem ganhe ele, o que aumenta até a imensidão de literaturas que ele fala, e que o descarado chegou mesmo a dizer que os americanos já tiveram na Lua. Mas a gente desculpa, e põe as culpas na cachaça de Adínton, que é mais forte que álcool de sarar infectos. Teve uma vez um concurso de mentiras – ideia de Adínton para ganhar dinheiro nas apostas de aguardente – e o danado derrotou todo mundo num instantezinho. Nem deu hipótese. Não vou contar as mentiras da concorrência, uns excessos que ninguém pode imaginar, e eu não quero ser chamado de excessivo. Julinho Calçagatos, que era o último a botar palavra, falou só isto: “Esse pessoal aí estão fora do concurso. Tudo o que eles disse é verdade.”

Por essa razão das ilustres letras de seu Ubaldo me dá até vontade de chorar, eu que nem sou homem de chorar por cacarecos. Bem que minha santa mãe me azucrinava todo dia com a obstinação dos estudos, mas eu só tinha paixão de escola na hora de sair. Se escola fosse só sair dela eu tinha chegado a doutor. Tia Gertrudes era mais compadecida, e por isso era quem mais me aceitava em casa dela deixando meu banco esperar por mim em vão até quase ser hora de murucututu sair caçando. Chegadas as convenientes indagações, ela se justificava dizendo a mamãe que eu tinha ajudado no acarajé, competência de veterano, especialista mesmo, e não deixava aguar, não dava pausa enquanto titia fritava. Então aí mamãe exigia uns bolinhos como prova das alegações, e isso depois que eu levava uma porrada das retorcidas. Assim que a consequência era que só eu comia grosso das mãos dela, enquanto que todo mundo se babava com os bolos de titia, mais ainda porque o feijão dela era o muito melhor daqui.

 

Papai se abstinha nas justiças, e só deu sentença em meu proveito quando eu fiz queixa, provada e comprovada por tudo quanto era aluno de professor Jacó. Professor Jacó não é de sabedorias seguras, não. Os meninos juraram em minha jura que ele ensinou isso de alfabeto dando um nome à terceira letra, e logo estava chamando ela de outra maneira. Num dia era cê e no outro era quê. “Mudou de opinião, e a gente sabe que professor não pode ter opinião”, falou meu pai. “O povo devia era tirar os filhos da escola, que para aprender errado não é preciso professor com diploma. Errado a gente sabe.” Com tudo isso, não aprendi mais que umas sete ou doze letras, e até essas esqueci para todo sempre, veja a inglória. É isso aí que me dá vontade de chorar, já falei, que eu nem queria ser doutor, só presumia ser capaz de ler a Bíblia e nossas histórias de seu Ubaldo.

Aqui tem pouco pessoal capaz de ler direito, mas a velha Mariana sabe mais que uma universidade tudo junto, mesmo que ela é mais sábia que Julinho. Porém não admira, que foi o Espírito Santo que ensinou, tanto que até pode falar as línguas principais do Mundo, inclusive português, e só por humildade não fala e porque ninguém ia entender. A velha Mariana é daquelas mulheres que a gente pensa que já nasce velha e casa viúva, mas também foi novinha como Ernestina, pode ser mesmo que bonita como ela, que todo mundo quer ver passar quando ela passa e ficar olhando a roda da saia e esperando o vento. Foi ela que escolheu nome para quase o pessoal todo, porque sabe o nome de tudo quanto é santo, e praticou no montão de filhos que teve, que era metade do povo daqui se não tivessem ido para outras partes. Quando olhavam no espelho e viam cara de homem, pensavam que era tempo de abrir o gás, e pronto, abriam mesmo, só parando a mil léguas daqui, no mínimo.

Julinho Calçagatos é caso mais de espantar, mormente que não aprendeu de Deus, foi só ouvindo e falando a vida toda. Se todo mundo tem seu acarajé, o dele foi fazer laço a passarinho, e ali logo se perdeu homem capaz de ganhar Nobel naquilo que fosse preciso, pode crer. Era só dizer “Julinho, vai aí no concurso e vence esses camaradas todos.” Nem que fosse alemão ou americano ele vencia mesmo. Julinho podia até ter estudado para santo, o que parece ideia de jerico mas só antes de ouvir suas razões, mas ele não quis, diz que dá uma trabalheira medonha que mesmo só santo é que pode. Se não fosse, Julinho chegava a santo, com velas, flores e tudo lá no altar, só que ele queria isso era para fazer umas vinganças, não esconde. Rico que fosse na igreja pedir abundância, ele dava só de piolhos e de bexigas, e se não lhe dava uma bicuda na testa era porque santo não mexe, o que é outra amolação que Julinho não aguenta, por isso ser santo é difícil mais que subir pau de sebo. E de carne não havia de consentir na mesa do rico mais que mocotó em dias de festa, Carnaval inclusive, e isso caso o rico não gostasse. Mas menina boa e feia ficava logo ali boa e boa, ora veja, não sei se entendeu.

Uma vez teve aqui dois fulanos para arrolar o povo de testemunhas de Jeová, que é o Nosso Senhor deles, e foi Julinho quem resolveu a questão. Bem que a velha Mariana tentou, mas embatucou, com respeito a essas coisas que eles mostravam na Bíblia, e o povo olhando e ouvindo sem saber que dizer. Os fulanos falavam que o Mundo ia acabar mais dia menos dia, mas davam garantia do Céu, e mais não sei o quê. Se eles acrescentassem setenta virgens, como os outros, a gente até que fazia negócio sem mais considerandos, que a coisa estava ficando meio chata. O pior foi na hora de explicar o que era proibido lá na religião deles. Houve coisas que a gente ia dando acordo – não bater na mulher, tava certo. E a mulher pode bater no homem? – Não pode, tá mais certo ainda, duas vezes certo, com isenção para a mulher de Junípero, todo mundo sabe. Pagar um dinheirão para as gravatas deles e mais os ternos e as pastas e as viagens, que o mundo é grande, maior que o sertão todo e cheio de granfinagem que a gente nem sonha. Eles não falaram isso, mas o pessoal percebeu logo. Pior foi na hora de proibir cachaça. Julinho foi mandando “bota aí outra cachaça, seu Adínton”. Os da pasta deitaram fogo pelos quatro olhos e falaram que ele ia direito para o Inferno. Julinho encheu de ar, tossiu quatro vezes (aquela era especialíssima ocasião, que nas vulgares só tossia três), e emborcou o resto da cachaça. Nem cuspiu, que ele não cospe depois de beber para não botar fora o gosto. Puxou as calças, esfregou com o dedão do pé direito o calcanhar canhoto, e deu sentença. “Vosmecês falam que nessa especialidade de Céu só cabe cento quarenta e quatro mil.” Depois, descendo no respeito, acabou a argumentação. “Vocês o melhor mesmo é não procurar mais fregueses que tire seus lugares." Morreu aí. Tinham entrado rezando e saíram xingando todo mundo. Pelos modos, aqueles fregueses não vão fazer parte dos cento e quarenta e quatro mil. Não merecem. E a culpa é toda de Julinho Calçagatos. Já dizia a mãe dele que ele botava as almas dos outros nos Infernos.

Seu Adínton também não sabe ler, mas tem livros com tudo quanto é fiado. Em vez de nome ele faz um desenho das aparências de cada qual, assim que bigode quer dizer Jorginho Filho, sobrancelha grossa é seu Antenor, e os mais consequentemente. Julinho não precisa desenho, Adínton tem um livro só para ele. Pior é o desenho de Raimundo, a quem a mulher planta na testa até doer a alma só de ouvir suas histórias escondidas, que eu nunca vi nem quero ver para não ter assombrações. E diz quem já viu o desenho dele que Adínton capricha nos pormenores da armação. Raimundo disfarça, mas a gente vê na cara que está sempre virado no cão, chateado mais que lagosta apanhada no jereré, e não é para menos, que ninguém gosta. Dívidas de cachaça são lembradas com um copo cada vez, e quando chega no quinze ele faz uma moringa. Sendo caso que o camarada bebe mais quinze sem pagamento, Adínton não desenha outra moringa, faz um dedo espetado com seu dedo do meio servindo de modelo, veja o desaforo, e não dá nem mais uma pinga ao coitado.
 

Televisão nunca apareceu aqui para filmar o povo e essas coisas assim, que o único crime mortal que teve aqui foi quando Formosinho degolou Dalberto. Formosinho é um cara sem vergonha, mas houve até quem risse da façanha dele, que isso não é tudo alma lavada. Mas a gente ri sempre quando lhe chama esse nome, que o pobre é tão feio que só explicar mete medo. E até deu risada universal quando ele ficou com os olhos quase saindo pelo carão fora, por causa do aperto que Zé Cão lhe deu no gargalo. Zé Cão é o dono das cabras viúvas do bode defunto, e só não esganou mesmo Formosinho para todo o sempre porque não era dono do bode. Se fosse, esganava, e o crime ficava mais feio ainda. O dono era Formosinho mesmo, mas Zé Cão queria o bode dele para fazer ofício nas cabras, e estava no tempo das núpcias delas. Foi isso que ele não perdoou, porque para achar outro bode capaz de tais proezas, inclusive que Dalberto nem sequer era de preliminares demorados, precisava ir até ao finzinho do Recôndito, e mesmo assim não sei. Mas o verdadeiro dono do bode até que tinha razão, que bode não dá leite e ele já vinha aguentando o bicho vivo há muito tempo só para emprenhar as cabras de Zé Cão, que não pagava dote nem nada. Era só despesa, que bode depois de crescido não rende na engorda, e Dalberto levava seis meses recuperando-se dos obséquios. Aliás o coitado de Formosinho jurou que não tencionava matar, apenas queria cortar um chifre para uns enfeites lá dele, só que o cabrão do bode não deixou ele cortar rente, e então Formosinho teve de cortar na goela, veja a desgraça. Dalberto morreu logo ali, e o desnaturado aproveitou o óbito do chifrudo para fazer jantar de bode assado.

 

Aqui tem igreja, mas é tão pequenina que Nosso Senhor tem de sair para o povo entrar. E botaram nela um santo que não há quem conheça, nem padre, nem bispo, nem papa mesmo, inclusive a velha Mariana. Imagine só: São Cucufate! Mais esta no desprestígio! Cristão não leva nome assim, mas pode que na língua dele até fosse grande importância. A velha Mariana, que sabe de santos e santas e Nossas Senhoras que nem doutor da Igreja, leva um ano inteirinho de catecismo só treinando os meninos para não rir quando ouvem o nome dele, e não é para menos.

 

A igreja quem mais usa é a velha Mariana, mais ainda nos dias que Brasil joga copa. A gente põe ela rezando lá para Deus Nosso Senhor ajudar o escrete, ou para desajudar os outros, o que faz os mesmos devidos efeitos. Quando o jogo é com os pançudos da Argentina ou com os delicadinhos ingleses, ela vai de véspera. Nesses dias o boteco fica tão empesteado que não cabe nem mosca, mas está tudo de acordo. O pior é no resto do ano, que isto aqui o futebol é muito dividido. Metade do pessoal é Bahia, outra metade é Vitória, e a terceira metade é uns sem-vergonha de clubes que eu nem sei o nome direito. O mais peguento é Chico Come-Água, que é Fluminense, acha que pode? Mas não é Fluminense de Feira Futebol Clube, se fosse, pelo menos era time baiano, ele é Fluminense carioca, por raiva que tem do outro, porque queria ser goleiro lá deles, e o míster disse a ele que não servia nem para gandula pois não agarrava nem bola parada. E quem viu ele pensar que estava jogando confirma.

 

Aqui é tudo doutor de bola, se duvida pergunte, e se quer provas aqui tem a alinhação do time que deu despacho de 5-2 na Suécia: Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Nilton Santos, Zito, Didi, Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Este pessoal só não ganhou três copas seguidas porque perdeu em Inglaterra com os moçambicanos, que os portugueses só sabiam jogar futebol quando eram moçambicanos, e mais porque contra eles só alinhou metade do escrete, que o beque direito deles completou nas pernas do Rei a ousadia que um comunista tinha começado. Mas o futebol de hoje é outro sentimento que dá vontade de chorar. Antigamente tinha pontas que driblavam tudo quanto era zaga, e ficavam esperando os meias para driblar antes de fazer gol. E tinha chute que era mais que tiro de canhão e até assustava os anjos. Nos treinamentos de Jairzinho não botavam véu de noiva na baliza que ele chutava, para não rasgar. Mas desde que apareceu a televisão dando importância neles, jogador de futebol mais parece estar fazendo concurso de misse, um desconsolo. E mais ainda que agora todo mundo se divide na opinião, que cada um vê penálti e ofissaide quando quer que seja penálti e offisaide, e quando não quer não vê. Antigamente o pessoal acreditava no espíquer sem mais quê nem pra quê, não dava encrenca, ele falava tava falado, quem era a gente para negar?

 

Que me desculpe seu Ubaldo, mas isso de saber ler eu acho que não ia dar, não. Eu gostei de ser menino, mesmo daquele modo sem jeito que já contei. Quando fiz doze anos só passava de metro e meio porque tinha calos nos pés como jegue sem ferraduras. E agora veja se tem jeito eu usar sapato fino. Futebol tinha cheiro de suor dos pontas que passavam correndo na linha e perfume de couro da bola. O povo comia pó e aguentava firme na chuva, no sol e no vento. O povo fazia parte do jogo. A televisão meteu o jogo em nossa casa, mostra tudo direito, a verdade que não tinha antigamente e por isso é que era tudo tão lindo. E dá repetição até. Mas vida não tem repetição, não. Não dá para ver como foi para aprender como devia ter sido. Se eu fosse capaz de ler os livros de seu Ubaldo, ia poder ficar lendo tudo quanto é livro. E pode que aí fosse como isso de televisão. Acabava o encantamento e a inocência.

 

27
Jul08

João Ubaldo é Camões 2008

Rui Vasco Neto
27
Jul08

Bôm diã. Hoje a gente tamêm abana, porra!

Rui Vasco Neto
26
Jul08

A imagem do Bom Juiz de Braga

Rui Vasco Neto

E afinal, é cada homem que escreve o seu próprio destino ou há um Destino que escreve cada um de nós com todas as letras, pontos e vírgulas que bem entende? Vejamos, hoje é sábado e está sol; por isso, se está a pensar em ir até à praia ou assim, por favor não se prenda à espera de uma verdade única, resposta cabal a esta pergunta. É coisa para demorar um nadita, talvez mesmo dois naditas. E depois eu próprio não sei se seria ou não capaz de tal proeza, sequer. Afinal é cada homem que escreve o seu próprio destino ou há um Destino que escreve cada um de nós com todos os érres e éfes que bem entende? E a sorte e o azar, existem? Ou é a gente que os constrói, a pulso ou por não o ter? Já falámos da praia, depois não digam que eu não avisei. Agora vamos então ao assunto, que se faz tarde.

 

A história de Oleksandr Panasenko é daquelas que se contam à lareira, em noites da mais dura invernia, com o claro objectivo de nos fazer saborear e valorizar, mais e melhor, todo o conforto e segurança desse momento que é nosso privilégio, por oposição e contraste com a aventura deste cidadão ucraniano no nosso país, por exemplo. E de muitos outros desgraçados da sorte, em qualquer tempo e lugar. Mas não é a sua história aquela que hoje quero aqui destacar, já que essa tem o condão de se destacar por si própria, tal é o enorme absurdo que contém. Falo sim de uma outra história, que veio mudar o rumo desta e nos revela a fibra de uma mulher, advogada, membro do Conselho Geral da Ordem dos Advogados de Portugal e também, porque assim entendeu ser, mandatária deste cidadão ucraniano num processo enviado para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem contra o Estado português. Processo esse que agora conheceu sentença favorável à pretensão apresentada pela jurista, dando continuidade às aventuras e desventuras de Oleksandr Panasenko no país das maravilhas judiciais que é este Portugal de estigma casapiano.

 

Ana Costa de Almeida é o nome dessa senhora, que nesta história veste o original adereço dos óculos da Justiça, a lady cegueta que de vez em quando faz merda por ver mal ao longe e ao perto. E é sobre ela, para ela, este texto. Talvez no cruzar das histórias das vidas destas duas pessoas, nascidas em mundos díspares para se encontrarem no ponto para onde foram levadas pela atracção dos respectivos destinos, se possa então encontrar algo que se pareça com a tal resposta à grande questão que está hoje a atrasar a sua praia. E afinal, é cada homem que escreve o seu próprio destino ou há um Destino que escreve cada um de nós com todas as letras, pontos e vírgulas que bem entende?

 

Oleksandr Panasenko foi condenado a 21 anos de prisão por co-autoria de homicídio e roubo de um taxista, o que já é obra como princípio de conversa. Mas se ainda vos disser que já o homem estava preso e sentenciado e preso há um ano e meio quando finalmente alguém lhe disse de que era acusado, aí já os senhores começarão a compreender a pecularidade da aventura de Panasenko no país porreiropá. O homem foi preso e condenado em 2002 aos tais 21 anos e, numa reviravolta espectacular do processo, (protagonizada por Ana Costa de Almeida), viria a ser solto em 2005 com a medida de coação de pagamento de uma caução e posteriormente de proibição de ausência do domicílio. E agora, num acórdão divulgado no passado dia 22, o Tribunal Europeu entende que o julgamento no Tribunal de Braga que condenou M. Oleksandr Panasenko a 21 anos de prisão violou o artigo 6, números 1 e 3, da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Os juízes entenderam que a Justiça portuguesa não garantiu os princípios da equidade e imparcialidade em processo penal, nem assegurou ao arguido o direito a ser informado em língua que entendesse, nem a assistência efectiva de um advogado. Atribuiram-lhe 3000 euros de indemnização e mandaram-no de volta para a cadeia para cumprir o resto da sentença original que entretanto já tinha transitado em julgado, com o passar do tempo. Mas Panasenko não se mostrou disponível para o efeito e ausentou-se para parte incerta, vá lá perceber-se porquê. Até agora, ainda não foi encontrado.
 

«O que mais me surpreende aqui, como mandatária, advogada e jurista, é uma actuação judicial que é desconforme de tudo o que são princípios do Estado de Direito. Aconteceu e pode acontecer a qualquer um de nós» disse, à Lusa, Ana Costa de Almeida. Ao assumir o caso, em que representou M. Oleksandr Panasenko a título gracioso, e chamou a si as próprias custas judiciais das diligências que encetou, Ana Costa de Almeida travou «uma batalha» na defesa dos direitos do arguido, com vários recursos para o Supremo Tribunal de Justiça e para o Tribunal Constitucional, suscitando até o envolvimento do então Presidente da República, Jorge Sampaio. Do estudo do processo concluiu que «não houve assistência jurídica efectiva» pelas colegas que a precederam, estando em curso na Ordem dos Advogados processos disciplinares contra duas advogadas nomeadas para representar o arguido.

 

Quando o caso chegou ao seu conhecimento, M. Oleksandr Panasenko estava preso na penitenciária de Coimbra sem saber porquê, como alega. A notificação tinha sido feita para a sua advogada de Braga e esta não aparecia. A notificação pessoal foi endereçada em língua portuguesa, que não entendia. «Comecei a intervir e a pugnar para que ele fosse devidamente notificado em língua para ele perceptível», referiu Ana Costa de Almeida, acrescentando que isso aconteceu um ano e meio após o julgamento. A partir daí, abre-se uma nova contagem de prazo para recurso, que é aproveitada para interpor recursos para o Supremo Tribunal de Justiça e Tribunal Constitucional. Com esse incidente, a decisão, que na prática tinha transitado em julgado, deixa de o estar, com a interposição de recursos, e a 2 de Fevereiro de 2005 M. Oleksandr Panasenko é libertado por ter excedido o prazo de prisão preventiva.

 

M. Oleksandr Panasenko passa a acompanhar os subsequentes recursos interpostos, para o Supremo e Constitucional, com algumas interpretações favoráveis e desfavoráveis às suas pretensões, por vezes contraditórias de secção para secção, mas esgotando-se as possibilidades de recurso a condenação a 21 anos transita em julgado. Então o cidadão ucraniano desaparece, para se furtar ao cumprimento da pena. «Como não se pôde defender, não se sabe se era culpado ou inocente, mas com uma condenação às costas de 21 anos, o que é dramático», observa a advogada, seguindo o mesmo raciocínio do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. No seu entendimento, «se se tivesse dado hipóteses de defesa ao rapaz talvez a própria decisão do Tribunal Colectivo fosse outra», em alusão à intervenção dos juízes de Braga, frisando que a convicção que formou ao longo do tempo que lidou com o arguido e estudou o processo foi a de que M. Oleksandr Panasenko «era inocente». Realça que ele «não teve direito a defesa, não foi requerida a abertura de instrução, não houve garantias de defesa com testemunhas que poderiam ser apresentadas, e não o foram, e nem foi apresentada prova de defesa». Recorda que no julgamento a advogada, que representava os dois arguidos condenados, em colisão de interesses entre ambos na estratégia de defesa, apenas fez uma pergunta - «se andava muito de táxi». E que a audiência que os condenou apenas demorou umas horas, durante um dia.

 

Pelas diligências que encetou em representação de M. Oleksandr Panasenko, e às quais o Tribunal Europeu deu provimento, Ana Costa de Almeida viu recentemente interposto por um dos juízes de Braga que condenou o cidadão ucraniano um processo judicial, por se se sentir afectado na sua imagem profissional. E todos sabemos como a imagem de um juíz é bem mais importante que a justeza das suas decisões. Ou quase todos, já que Ana Costa de Almeida obviamente não o sabia, ou não teria feito o que fez e salvo a vida de Panasenko, para não falar na imagem (já agora) da Justiça nacional. E Oleksandr Panasenko também não me parece que o soubesse, embora no caso ele possa sempre alegar que a imagem do bom juiz de Braga também estava em português e não tinha tradução em ucraniano. E, aqui entre nós, digam lá se alguém lhe podia levar a mal a gracinha.

 

25
Jul08

Bom dia. Hoje a GNR acabava com o crime se as máquinas de lavar loiça soubessem montar a cavalo.

Rui Vasco Neto
24
Jul08

Ali Baba faz novos amigos

Rui Vasco Neto

João Vale e Azevedo foi hoje representado no tribunal de magistrados de Westminster por Owen Davies, um reputado advogado britânico que argumentou pela extradição do ex-presidente chileno Augusto Pinochet para Espanha em 1998. Na altura, Owen Davies integrou a equipa jurídica da organização não-governamental Amnistia Internacional, que se juntou à acusação para executar o mandado de captura emitido em Espanha para que Pinochet enfrentasse a Justiça pela morte de cidadãos espanhóis.

 

Hoje, foi graças à intervenção de Owen Davies que o tribunal aceitou protelar a audiência por dois meses, para 25 de Setembro, para avaliar o pedido de extradição de Vale e Azevedo pelas autoridades portuguesas. O causídico britânico pediu o adiamento para poder apresentar «novas provas», que podem ser testemunhos ou pareceres jurídicos de entidades portuguesas, os quais se comprometeu entregar, devidamente traduzidos, até 22 de Agosto. Owen Davies está associado a vários processos ligados à defesa dos direitos humanos e de vítimas de tortura. No final dos anos 1970 procurou evitar a extradição de Astrid Proll, cidadã alemã condenada por envolvimento em crimes como membro do grupo Baader-Meinhoff, para a Alemanha. Owen Davies tem o título de Queen's Counsel (QC), uma distinção entre os advogados britânicos apenas concedida a um décimo do total da profissão, que normalmente tratam de casos mais importantes e complexos. 

 

Na tribuna, o juíz Tim Workman, um dos principais em Inglaterra, tem também ampla experiência neste tipo de casos de extradição. Recentemente, ficou conhecido por recusar a extradição para a Rússia do refugiado checheno Akhmed Zakayev e do empresário Boris Berezovsky, opositor declarado de Vladimir Putin. Em representação do Estado português esteve a procuradora da Coroa (equivalente ao Ministério Público) Melanie Cumberland. No ano passado, Cumberland argumentou com sucesso pela extradição de três membros suspeitos de pertencerem ao grupo separatista basco ETA.

 

24
Jul08

Bom dia. Hoje o mundo faz sentido, finalmente.

Rui Vasco Neto
23
Jul08

Emergência pipi

Rui Vasco Neto

Foi agora, há poucos minutos. Escrevo a quente, já vou avisando da circunstância. Parece-me justo, é evidente e humano que conte, que diabo, mas isso não muda em nada o meu contar. Conto como aconteceu, sem pintura nem retoque. Não é uma brincadeira, estou perante uma situação de emergência médica e com dois recursos tecnológicos invejáveis: um computador on-line e um telemóvel com um saldo de sete euros e trocos, bateria com carga à vontade. A emergência, em termos clínicos, tem contornos de extrema gravidade, num leque de possíveis evoluções, a exigir um diagonóstico imediato, nem que por exclusão, para decidir que passo exacto dar, certo, no escasso tempo ao dispor. Há que agir: cliché ou não, cada minuto conta efectivamente. Faço uma pesquisa das hipóteses de triagem médica via telefone e começo por uma, depois passo à que se segue e depois às que forem necessárias para encontrar a minha resposta, de urgência crescente.

 

Encontro a 'Saúde24' no 808242424, uma linha do Ministério da Saúde que faz 'triagem, aconselhamento e encaminhamento', num serviço de 'Assistência à saúde pública'. Sou atendido pela Enfermeira Maria Guiomar, correcta, concisa, educada e insistente no exaustivo protocolo de perguntas reservadas à identificação e dados pessoais de quem precisa de ajuda. O bom e velho 'preencher a ficha', só que em guichet virtual: é logo outro sainete. Tenho a consulta possível no par de questões técnicas que trago sem resposta e que lá consigo meter a custo entre o nome do pai e um código postal qualquer. Lamentavelmente a senhora não tem para me dar as respostas que eu procuro, mas nem por isso me deixa partir de mãos vazias. Dá-me o contacto do serviço de triagem da Urgência Central do Hospital de Santa Maria, o 21 780 5000, que eu agradeço em nome da minha aflição. E despede-se com a correcção intacta, do princípio ao fim da sua intervenção, pese embora limitada e insuficiente para a minha emergência. Mas eu, de mãos vazias, já me contento com pouco.

 

Terão passado uns bons vinte, trinta minutos desde que iniciei todo este processo, digitando a pesquisa. Durante todo esse tempo fiz apenas três chamadas, no total até aqui, duas delas curtas de três frases, quatro, talvez, contando o 'adeus e obrigadinho'. Agora ligo o 21 780 5000 com a fé renovada e o tempo a passar. Logo ao segundo, terceiro toque de chamada, a linha dispara uma gravação e os períodos telefónicos começam a contar: "Bem vindo ao Hospital de Santa Maria; para informações relacionadas com (pausa ligeira) Urgência Central, marque Um; Urgência Pediátrica, marque dois; Urgên.." Já nem ouvi o resto, para quê, se tinha marcado o 'um' logo à primeira? E já estava a chamar, foi logo: piiiiiiiiiii...  piiiiiiiiii...  Agora era só aguardar que atendessem e explicar as minhas duas questões urgentes, já desesperadas por esta altura, mas pronto, agora já estava a chamar, piiiiiiiiiii...  piiiiiiiiii... Agora era um instante.... piiiiiiiiiii...  piiiiiiiiii...

 

Vou abreviar a história, cortar nos pipis e seguir directo para bingo: pata que os pôs! Eu avisei que escrevia a quente, que a coisa foi agora, mesm'agorinha, nanja uma hora, meia talvez. Pois foi esse mais ou menos o tempo dos tais pipis, mais pi menos pi. Foram cinco, foram seis, sete minutos assim? Piiiiiiiiiii...  Piiiiiiiiii... Emergência... Piiiiiiiiiii... Foram dez, foram onze, doze, treze minutos? Piiiiiiiiiii...  Piiiiiiiiii... Emergência... Piiiiiiiiiii... Não sei, de facto, em bom rigor, quantos minutos passaram ou quantos pipis piaram no meu ouvido ansioso. Mas tenho um dado que talvez ajude a dar uma ideia da eficácia deste tipo de atendimento das emergências médicas: passaram, sem erro, entre quatro a cinco euros de pipis, mais um menos um, até que a chamada se acabou quando se acabaram os tostões. E os piiipiiis, claro, deixando-me a falar sozinho com a minha angústia. E sem respostas.

 

Anote o número, rápido, pode um dia precisar. Vamos, anote, nunca se sabe, eu precisei (e bem me lixei) deste 21 780 5000. Emergência. Piiiiiiiiiii... Piiiiiiiiii... "Bem vindo ao Hospital de Santa Maria, para informações relacionadas com (pausa ligeira) Urgência Central, marque Um; Urgência Pediátrica, marque dois; Urgênpiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii"

 

22
Jul08

A aventura dos portubaixeses sem acordo no país do dito

Rui Vasco Neto

O Presidente da República Portuguesa fez ontem saber que tinha já promulgado o Acordo Ortográfico, ratificado pelo parlamento em Maio passado. Pois nem mesmo assim os ciganos da Quinta da Fonte regressaram ao Bairro da Apelação. A notícia da promulgação presidencial deste novo Acordo em nada os abalou e muito menos os fez abalar do jardim onde acamparam desde o início da grande guerra. O que até se compreende, tem a sua lógica, há que reconhecer.

 

Afinal, este Acordo não mudou nada na situação desta gente, deste bairro, deste país de conflito e miséria que existe por detrás das praias algarvias, dos arraiais minhotos, das novelas da TVI, do Bom Jesus de Braga, do novo plantel do Benfica, do Santuário de Fátima e do Acordo Ortográfico. É Portugal-de-Baixo, um fundo de país com capital na Apelação, um bairro do circuito 'Vá para baixo cá dentro' que espelha um país com outras questões a exigirem outro tipo de acordos que não este, que nada muda ou resolve na vida dos portubaixeses. Mas seja, em tempo de Acordo vamos às palavras, descobrir as diferenças.

 

Vejamos, por exemplo, as palavras 'ódio', 'ciganos', 'racismo', 'revolta', 'pretos', 'segregação', 'vandalismo', até mesmo 'segurança'; elas não sofrem quaisquer alterações no novo léxico da nação. E 'guetto' nem sequer é palavra portuguesa, pelo que ninguém que seja alguém na política (governo ou oposição) alguma vez sequer a admitirá na conversa, seja qual for a conversa e se houver conversa (o que nã se vê jêtos, como se diria num Acordo Bejense). E há mais: o 'esgoto' mantém-se tal como estava, o 'medo' fica o de sempre e nos 'tiros' também ninguém mexeu. Só a 'decepção' é que é diferente desta vez, mas não muito: caiu o , apenas, acontece muito neste tipo de problemas, foge para o chinelo, por regra. E a reacção também terá ficado menor, talvez menos vitaminada sem o C. De resto, não muda a 'merda' nem mudam as 'moscas'. E na Quinta da Fonte também não vai ser um acordo ortográfico a trazer a mudança para o dia-a-dia de sempre. E assim, sem desacordo que se lhes conheça quanto ao Acordo mas na ausência de um acordo que lhes garanta a quantidade de impossível necessária para uma solução que satisfaça toda a gente, (os uns, os outros e o país inteiro que segue a novela), os ciganos não voltaram ontem para o bairro. E dizem que não voltam hoje, nem nunca mais. Que não há acordo possível. Eu julgo perceber do que falam, para lá de concordar ou discordar do que dizem. Quero entender, sobretudo. E antes de tudo.

 

Os moradores dos bairros que fazem este país de misérias tantas e tão tristes Apelações, constituem a massa humana de que é feita esta estrutura social distorcida, viciada de geração em geração, culturalmente viciosa e amontoada por grosso em favos distribuídos 'às famílias' num sorteio de colmeias e colmeias de semi-gente, arrumada assim em vidas novas juntinhas para poupar espaço e em troca das vidas velhas em barracas condenadas que estavam a empatar o progresso. São bairros que acabam por ser autênticas extensões dos estabelecimentos prisionais, na prática (ou vice-versa, pouco importa), que o Portugal porreiropá conscientemente aceita e cuja existência consente, pese embora o nojo que o leva a olhá-los o menos possível, sempre sem os ver, por pudor só ausente em campanhas eleitorais. Mas não sem condições implícitas, subentendidas e conhecidas por toda a gente, a saber: não dar demasiado nas vistas, não envergonhar a malta em frente às visitas, não estragar o retrato de família, cá dentro ou lá fora, e sobretudo não chatear quem manda, nunca. É como quem diz 'low profile', na terminologia do poder. É como quem diz 'não fazer merda', numa linguagem de policiamento de proximidade, repetidamente explicada aos portubaixeses e muitas vezes por palavras.

 

É neste equilíbrio delicado que co-existem fogo e estopa, anos e anos e vidas a fio, porta com porta em meios-metros de rua e paredes-meias de casa, num milagre diário imposto pela maior das necessidades: a sobrevivência. Pois bem, está visto que no Bairro da Apelação o milagre apagou-se, por estes dias, entre os portubaixeses. Portugal segue o drama por alto, como um jogo da 2ª Divisão-B e em zapping com as novelas da noite, que a coisa promete. As forças de segurança estão no local, o aparato é beirutiano, Portugal-de-Baixo é zona de guerra. Esquecidos da sobrevivência e turvos de raiva, fogo e estopa pegaram-se no esgoto e atearam o incêndio mais preocupante deste Verão. São velhos ódios, ressequidos de gerações e misturados com toda a espécie de pressões e frustrações de uma existência madrasta, mais os velhos truques das negociatas sujas e escondidas, tudo tão somente à mercê de um sopro de preconceito que lhes dê de feição e alastre a tragédia ao impensável. E depois de tanto ver e ouvir o senhor Ministro Rui Pereira a dizer coisas sobre firmeza e sobre dead lines que não só não morrem como estão sempre a nascer, pergunto a mim próprio se estará alguém com atenção aos ventos lá em baixo ou se está tudo distraído a bater palmas uns aos outros cá em cima.

 

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