Pinheiro da Cruz e Vale de Judeus renovam simpático convite.
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A Polícia Judiciária foi assaltada, o que já de si tem alguma graça. E não estamos a falar do hall de entrada ou de uma salinha de visitas qualquer, mas sim das instalações daquela polícia onde funciona a DCCB, supostamente os Pinkerton dos nossos detectives, os mísseis das nossas fisgas, a nata dos Dirty Harry cá da terra quando se fala de criminalidade violenta. Isso, convenhamos, já tem menos graça.
A mercearia lá do meu bairro também foi assaltada, levaram bolachas, champô e leite condensado, entre o que havia. Numa sapataria mais à frente os ladrões levaram sapatos, do café da esquina levaram tabaco e bolos e de uma obra em curso levaram as ferramentas todas de pedreiro que encontraram. Ora, corrijam-me por favor se eu estiver enganado, não me quer parecer que houvesse leite condensado na DCCB, tabaco também não (que o edifício é de não-fumadores e as forças policiais não vão ao casino como o Nunes e seguramente não desrespeitam a lei), shampô talvez mas sapatos também duvido, a não ser usados e odorosos. Assim, toda a questão se resume às ferramentas que possa ter levado este atrevido ladrão, sendo que dificilmente se encontrarão escopros e martelos na PJ, que é sabido trabalhar com ferramentas mais... sofisticadas, chamemos-lhe assim. O que nos traz de volta à questão primeira: que raio queria este maluco roubar da DCCB? Ou, mais e pior, quanto de quê conseguiu este maluco levar da DCCB, isso sim.
Pelo comunicado entretanto divulgado pela direcção nacional daquela força policial não ficamos a saber grande coisa, convenhamos. «O homem, um toxicodependente com 31 anos, entrou "furtivamente" no edifício da Direcção Central de Combate ao Banditismo (DCCB), em Lisboa, na madrugada de sábado e por meio de escalamento, tendo roubado alguns objectos, que foram recuperados posteriormente», diz e acrescenta, em princípio sem ser por piada: «Não foi revelado o valor do assalto». Pronto. É tudo o que nos é dado saber por aqui. Tudo tudo também não, diz ainda o comunicado oficial que «na sequência do assalto, a Polícia Judiciária (PJ) determinou a abertura de um inquérito interno para "reavaliação de procedimentos de segurança e apuramento de eventuais responsabilidades disciplinares», o que nos descansa a todos, evidentemente. E acaba com a informação aparentemente mais importante para a PJ: «O suspeito conseguiu fugir mas acabou por ser detido. Depois de ser detido, foi presente a um primeiro interrogatório judicial e foi-lhe aplicada a medida de coacção de prisão preventiva.» E pronto, notícia encerrada.
Os senhores não me vão levar a mal, mas a mim sobram-me umas perguntinhas que, à falta de melhor sítio para as poisar, ficam por aqui mesmo. Por exemplo: não há ladrão que não queira sair da Judiciária, o que raio levou este em particular a querer entrar? E depois, entra-se assim sem espinhas, num local onde só há polícias e se faz a instrução de processos que levam à cadeia cidadãos, na maioria criminosos? E armas, havia por lá? E levou-as, este ladrão, ou só fanou o Toffee Crisp do inspector e a sandes de presunto do senhor agente que tinha saído, coitado, talvez para um xixi? E o senhor ministro Rui Pereira, aquele do elogio fácil à bravura, vai assobiar para o lado desta vez, a ver se a coisa passa, ou vai ceder à sua reconhecida compulsão de dizer coisas sobre 'uma das melhores polícias do mundo' e bacorar umas coisitas a propósito?
Só mais uma, vá lá, a última, eu prometo: esta história é uma piada, ou é Portugal que é de anedota?
«"Hoje é o dia que marca o príncipio de uma nova era". Foi assim que o ministro da Economia, Manuel Pinho, reagiu ontem ao chumbo do "Plano Paulson", o plano de emergência da administração Bush que previa injectar no sistema financeiro norte-americano 700 mil milhões de dólares. Para Manuel Pinho, o mundo tal como conhecíamos até agora acabou. "Durante 10 a 15 anos vivemos num mundo de prosperidade assente em quatro motores: num sistema de financiamento eficiente; na inovação; na expansão do comércio e na energia barata para todos. Pois bem, esse mundo acabou".
«O presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, foi hoje condenado pelo Tribunal Judicial do Funchal a pagar uma indemnização de 20 mil euros à eurodeputada Edite Estrela. Os factos remontam a Abril de 2004, por ocasião das eleições para o Parlamento Europeu, quando numa visita em campanha eleitoral à Madeira, Edite Estrela terá afirmado que a política do Governo Regional era de "betão" e que "esquecia as pessoas". A esta crítica, o presidente do Governo Regional ripostou dizendo que se tratava de "uma peixarada". O Tribunal considerou que o governante madeirense "excedeu na crítica política" e condenou Alberto João Jardim a uma indemnização a título de danos pessoais de 20 mil euros.»
Melhor do que ver o debate Obama/McCain só lê-lo, digo eu. Isso mesmo, ler o que os outros viram. O resultado recorda o fascínio dos fora-de-jogo antes da televisão digital, toda centímetros e cagagésimos, sem espaço para a discussão de tasca do é ou não é, tá-se mesmo a ver que não, é sim senhor. Quem tiver saudades dessas verdades múltiplas de uma mesma e única verdade deve fazer o tour dos comentadores, com paragem mais demorada nos acreditados em si próprios, em especial. Malta especialista e sagaz, de olho vivo nos mais ínfimos pormenores da recente prestação dos dois candidatos. Os mais divertidos torcem por McCain, na minha opinião, mais uma apenas, claro. E entre os mais divertidos dos mais divertidos o prémio vai destacado para o hilariante André Pessoa, do Cachimbo de Magritte, que a meu ver consegue momentos notáveis ao arrancar raros prodígios ópticos e não menos apurados raciocínios. Tem até um que eu acho particularmente imperdível, cada um que julgue por si, deixo-vos o video e os links. E um breve resumo, para conferir se é assim.
O video separa uns criteriosos oitenta e seis segundos em que McCain puxa de uma pulseira com o nome de um soldado morto no Iraque, que garante usar no pulso a pedido de uma mãe de New Hampshire, para enfeitar a necessidade de não retirar do Iraque por "não querer a derrota" nem "a desonra". São oitenta exactos segundos, em oitenta e seis, para a pulseira de McCain, até que acontece a grande gaffe segundo Pessoa, o André do Cachimbo. É Obama que interrompe McCain para dizer que também recebeu uma pulseira, "do sargento... aaa... da mãe do sargento Ryan Jopeck". Cá está!! Viram o engano? Espero que sim, tiveram seis longos segundos para isso, nem mais um para perceber se havia contexto posterior, nem isso agora interessa para nada, com certeza. Enganou-se enganou-se, pronto, Deus perdoará mas André não é para graças e grita a pergunta logo em título do post: «Se isto não é uma gaffe?». E mais não diz, no título. Mas no texto aponta a desgraça a dedo, nos tais seis segundos fatais de Obama: «Ver o fim do video», recomenda, para logo concluir: «Resta saber até que ponto a maior gaffe da campanha até agora penetrará o silêncio imposto pelos media.» Se me perguntarem, a coisa parece negra para o senador não menos, a acreditar neste comentador acreditado. Vendo nem tanto, talvez. Ora confiram, se tiverem seis segundos.
Viram? Cá está o falhanço, a derrapagem televisiva que é fatal em campanha. Mas só naquele post, não resisto a desvendar. Pois mais acima, neste outro, o mesmo André parece outra pessoa, bipolar a provar a sua causa, tolerante como um avô italiano ao sossegar McCain do mesmo que deve preocupar Obama: «(..)se os eleitores americanos se sentem hoje inclinados a votar num candidato político em função das suas habilidades televisivas, se identificam prestação televisiva e competência para o cargo, então temos de retirar as conclusões devidas sobre o declínio do seu sistema político.». Quer dizer então que, está visto que pois. Tudo não passou de um falso alarme, afinal, enfim, talvez. Uma mera cambalhota do raciocínio no trapézio do pensamento. Sem rede de sensatez, naturalmente, daí o espalhanço, coitado, caramba! Eu sei que é feio rir destas coisas, pode acontecer connosco, dizem. Mas bolas, oxalá que não. Já tenho a minha conta de figuras tristes.
(a história de outra visão do mesmo debate, também muito peculiar e interessante, aqui)
Mais uma vez, o 7Vidas merece honras de montra na loja Sapo. Eu cá fico feliz, claro. Grato, muito, pelo reconhecimento. Mas, em especial neste mês de aniversário, manda a mais elementar justiça que os agradecimentos devidos à equipa Sapo sigam em meu nome e no do meu amigo Daniel de Sá, residente cá da casa. E que sejam entregues com uma nota de rodapé, destaque não menos importante, a recordar que Setembro, aqui no 7Vidas, foi feito não só por mim, mas pelos meus convidados e pelos seus textos: Fernando Venâncio, Pedro Correia, Samuel, Luis Novaes Tito, Pedro Morgado, Valupi, Carlos Enes, Confúcio Costa e Shark. Até agora, claro, que este casamento cigano só acaba a 6 de Outubro, recorde-se. Por isso siga a dança, agora destacada. E os meus cumprimentos pelo evidente bom gosto deste batráquio. Lamentavelmente verde.
Os amigos adivinham-se, cada vez me convenço mais. Seriam umas cinco da tarde de ontem quando recebi o curto escrito do meu amigo Daniel de Sá: «Não vais dizer nada acerca da morte do Dias de Melo?», queria saber. Saiu-me um palavrão irrepetível. É que eu estava há horas e horas à roda da cauda, folha em branco, sem saber o que fazer e dizer. Desde que vi a notícia, anteontem. Não porque me faltem palavras, arranjam-se sempre; e juntando uns espargos frescos até compõem um raminho decente e a coisa passa, que eu sei. Mas havia dois factores inultrapassáveis. O segundo é a vergonha na cara que vou tendo, enfim, mais ou menos, não me passa pela cabeça alinhar no Manchester na vez do Ronaldo. E o primeiro, razão de ser do segundo, tem a ver com o respeito que é devido à verdadeira amizade entre dois seres, não aquela da palavra fácil, mas a outra, das (muitas) horas difíceis. Como era a de Dias de Melo e Daniel de Sá, dois nomes grandes da literatura nacional nada e criada nos Açores. Chutei de volta, disposto a implorar. Mas não foi preciso. É grande, o meu amigo Daniel. E sabe que eu choro com ele a perda comum a nós quatro, minha, dele, da nossa terra e da nação imensa da língua portuguesa.
Em baixo: "Dias de Melo, escritor livre"
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá
O remo que Dias de Melo não usou por profissão não terá feito falta na vida dos baleeiros do Pico. Alguém o terá manejado por ele. Mas a sua escrita não poderia ser substituída por nenhuma outra, por nenhuma de outro.
A minha admiração por ele vem do tempo em que eu era ainda um rapaz a sonhar que haveria de escrever umas coisas. Depois, na idade adulta, o destino juntou-nos numa grande amizade. Eu disse-lhe um dia que, felizmente, a literatura não era como o desporto, em que só há um vencedor. E lembrei o combate de Rocky Marciano com Joe Louis, em que, depois de Rocky ter vencido, voltou as costas ao adversário tombado no chão. Alguém o censurou por essa atitude deplorável. Mas ele, para quem Joe Louis fora um ídolo, respondeu que o fizera para ninguém ver que chorava.
Dias de Melo nunca teve de provar que era mais forte do que eu. E eu nunca tive de sentir a angústia de sair derrotado ou de tentar derrotar um bom amigo. Ele fizera de mim seu confidente. Nas muitas horas que passávamos ao telefone, contava-me e recontava-me histórias do seu Pico, dos seus baleeiros, de trancadores lendários, de mares embravecidos, de vidas em risco constante. E falava-me dos livros que ia escrevendo e dos que pensava escrever. Dizia-me, nos últimos tempos, que só queria conseguir mais um. Não conseguiu.
Dias de Melo ficará para sempre conhecido como o escritor das baleias e dos baleeiros. Nenhum baleeiro de Dias de Melo será jamais enterrado no chão do esquecimento. Ele garantiu a todos a perenidade da vida na memória das gentes. E, tal foi a força da luz que lançou sobre o palco da vida dessa gente do seu Pico, que como que se fez uma espécie de penumbra a respeito da baleação que houve em todas as outras ilhas dos Açores.
Mas Dias de Melo foi muito mais do que isso. Onde houvesse uma causa justa a defender, uma injustiça a combater, aí estava presente com a sua palavra iluminada e iluminadora, com o seu talento de escritor reconhecido como grande, enorme, sem precisar de peregrinar pelas “capelinhas” onde se decide o mérito na capital da Pátria e da cultura portuguesa.
O título engana, eu sei. Era só para dar uma palavrinha mas deu estas todas que se seguem, já se sabe, são como as cerejas, as palavras. Nem sempre doces, as deste meu convidado de hoje. Às vezes ácidas, outras divertidas, algumas amargas, muitas notáveis, umas quantas romântico-afrodisíacas (uma das suas especialidades). Mas todas sempre muito bem trabalhadas, de uma entrega total e de uma regularidade invejável e rara nesta blogosfera onde o seu Charquinho é referência obrigatória há quatro vezes este ano que eu agora comemoro, nesta festa de autores que seria bem mais pobre sem a sua presença. Felizmente veio, o Shark. Só para dar uma palavrinha, claro.
Em baixo: "Eu era só para dar uma palavrinha..."
Sete vidas mais uma: Shark
Vidas, sete ou apenas uma daquelas bem esgalhadas, existências cruzadas no caminho virtual que calcetamos com emoções escritas das que nos prendem a atenção.
Neste espaço de felinos encalhou um tubarão, atraído pela curiosidade que dizem matar gatos mas no caso em apreço apenas fortaleceu o autor para quem as palavras escritas só fazem sentido se existir alguém para as ler.
E eu rendo homenagem ao escriba que se dá a conhecer no talento que lhe reconheço e um ano decorrido não logrou desmentir. Pelas palavras que têm o condão de unir pessoas em torno de um prazer comum que cultivamos assim, mostras-me a tua e eu mostro-te a minha e a ninguém preocupa quem a tem maior ou a mais atrevida, a prosa, que apreciamos mais crescida quando a tesão nos invade os dedos e fazemos acontecer no teclado como na pele de uma mulher um pedaço de nós.
Sete vidas que se investem no tempo de uma só, com o empenho que as palavras denunciam. Oferecidas em frases trajadas a rigor, vestidas com o amor que com elas se faz quando se gosta tanto assim de comunicar.
E tu, autor desta pequena montra daquilo que fazes melhor, expões-te à verdasca virtual sem dares os flancos porque aqui acontece uma vida em que dás muito de ti e a malta gosta porque é bom e cabe-me nesta altura ser um dos porta-voz dessa comunidade de apreciadores para quem, bons entendedores, meia palavra bastaria.
Mas um ano é muito tempo nesta nossa realidade virtual e por isso ninguém levará a mal que lhe acrescente a outra metade de uma palavra qualquer para que ninguém alegue não perceber o objectivo único desta missiva lamechas que te ofereço, é toda tua.
E a palavra completa só pode ser uma. Aquela que te diz: continua!
Shark
(blogger do 'Charquinho')
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