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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

More than meets the eye

Sete Vidas Como os gatos

31
Mar09

Lisboa em camisa. Na Ópera.

Rui Vasco Neto

Em espectáculo, um protesto em coro de plateia tem que ter um toque de boçalidade, algo de rude e grosseiro para atear aquela multidão e puxar-lhe o fogaréu do descontentamento para lá de todas as regras de etiqueta social. Afinal somos matéria inflamável antes de sermos gente educada, antes do polimento, antes das convenções, do treino de obediência das boas maneiras, no fundo. E nem sequer é lá muito no fundo, em muitos casos, às vezes basta raspar um nadita e lá salta a capinha fina que mantém a besta oculta em alguns de nós, meio nadita em muitos casos. Não é um espectáculo agradável, quando acontece a sério, digo eu.

 

A única pateada com graça de que me lembro, assim de repente, aconteceu em casa do Conselheiro Torres, ali à Rua dos Fanqueiros, se a memória não me atraiçoa, quando o teatrinho da família onde brilhavam a menina Sabina e do Dr. Formigal, um drama pungente de nome 'O Pedro', foi abalado pela demora do elenco, pelas birras do Gil aguadeiro, pelo acumular de casacos no cadeirão destinado ao Bismarck português e pela impaciência da assistência, vinda lá da repartição do Conselheiro e que rebentou numa pateada d'arrebimbomalho magistralmente descrita por Gervásio Lobato no seu delicioso 'Lisboa em Camisa'. Não estive nessa, lamentavelmente.

 

Tal como não estive no CCB na passada sexta-feira, noite de "Crioulo, uma ópera cabo-verdiana". Sei que o espectáculo estava marcado para as nove horas da noite. Sei que começou com a mesma meia hora de atraso com que deram entrada no camarote VIP os dois primeiro-ministros, de Portugal e de Cabo Verde, que eram esperados mas não para fazer esperar a restante audiência, que lotava o recinto. E foi assim que aconteceu a famosa vaia, a tal que recebeu José Sócrates e comitiva naquela noite e se prolongou por alguns minutos, que devem ter parecido uma eternidade aos visados. Depois parou, claro, veio a ópera e o fim de festa, igual aos outros. Mas os ecos do assobio estavam lançados e com vento de feição a vaia cresceu de tom e de registo, engrossar é o termo: engrossou. E engrossou mesmo, o resto é o que se sabe, o que se leu e o que se ouviu e ouve até à náusea, quase-quase. Palpite atrás de palpite sobre o que Sócrates devia ter feito, o que não devia ter feito, o que pensou e não pensou e devia ter pensado, enfim, as razões do assobio em número incomparavelmente maior que o das maneiras existentes para preparar bacalhau, por exemplo. E qualquer dia em maior  número que os próprios bacalhaus, pelo caminho que a coisa leva. É o que eu digo, um destes dias dou por mim a gostar do Zé, salvo seja e passe a expressão. Porque pena dele já quase tenho, tal é a pobreza confrangedora do moralismo hipócrita que dita este tipo de ataques. É Lisboa em camisa, não outra vez: a de sempre, apenas.

30
Mar09

Até parece que o ceguinho é bruxo

Rui Vasco Neto

«Era ou não era engraçado que a TVI  tirasse da cartola o coelho da autenticação daquela gravação? E de preferência por confirmação do próprio Charles Smith, este mesmo que agora promete «desmascarar a perseguição e exigir responsabilidades, por todos os meios que a lei me permitir». Era ou não era de cair para o lado, uma destas, a acontecer? Claro que isto é só a gente a conversar, evidentemente, mas lá que tinha a sua piada, lá isso... bem, a ver vamos, já dizia o ceguinho. A ver vamos.»  Bem, a ver vamos era naquele dia, que hoje já está mais que visto, revisto e assumido. Então não é que aconteceu mesmo o tal coelho tirado da cartola de Queluz? Pois é, em mais uma notícia TVI, ficámos ontem à noite a saber que afinal Mr. Smith teria já confirmado, em declarações à polícia britânica, tratar-se de facto da sua voz e das suas palavras naquele DVD cuja gravação audio a TVI transmitiu sexta-feira passada. O ceguinho deve ser bruxo, digo eu, só pode. Ou então foi coincidência, também acontece muito, o nosso Primeiro que o diga...

28
Mar09

Já dizia o ceguinho

Rui Vasco Neto

Este senhor é Charles Angus Smith, o gerente da Smith&Pedro, consultora do Freeport, que Portugal inteiro ouviu ontem à noite chamar 'corrupto' e 'estúpido' a José Sócrates. E que hoje veio desmentir em comunicado que alguma vez se tenha referido ao primeiro-ministro português de forma injuriosa. É o caso Freeport a subir a parada do diz-que-disse, agora com o país de olhos postos na bola, como numa final de ténis. Uma animação. 

 

«Mantive durante anos muitas reuniões com os administradores, nomeadamente Alan Parkins, algumas na presença de João Cabral e outros colaboradores para discutir questões relativas ao empreendimento», mas «é falso que alguma vez, naquelas reuniões, ou em qualquer outra oportunidade, me tenha referido ao primeiro-ministro de forma injuriosa, bem como a qualquer outro político, ou tenha oferecido, ou prometido contrapartida, ou vantagem, para obter o licenciamento do Freeport», garante Smith no referido comunicado. A declaração é no mínimo surpreendente, convenhamos, se nos recordarmos do teor da gravação que o país inteiro teve oportunidade de escutar ontem, no Jornal de 6ª da TVI , onde o britânico diz de viva voz o contrário do que agora afirma por escrito.

 

Por isso mal posso esperar pelas cenas dos próximos capítulos, quando Smith vier dizer que afinal não é bem ele naquela gravação, que é tudo uma grande mentira fabricada pela TVI . E logo a seguir virá José Sócrates, quase aposto, aproveitando esta deixa do tal Smith que nunca viu mais gordo mas que é agora seu colega de infortúnio, às mãos da sinistra cabala jornalística. Ora digam-me se nessa altura do folhetim, com meio país a acreditar e outro meio a duvidar, tudo pronto para votar, maioria a escorregar, era ou não era engraçado que a TVI  tirasse da cartola o coelho da autenticação daquela gravação? E de preferência por confirmação do próprio Charles Smith, este mesmo que agora promete «desmascarar a perseguição e exigir responsabilidades, por todos os meios que a lei me permitir». Era ou não era de cair para o lado, uma destas, a acontecer? Claro que isto é só a gente a conversar, evidentemente, mas lá que tinha a sua piada, lá isso... bem, a ver vamos, já dizia o ceguinho. A ver vamos.

28
Mar09

Havemos de ir a Viana

Rui Vasco Neto

Vem de Viana do Castelo a primeira proposta concreta, sustentada, ponderada, razoável e exequível que eu vejo em cima da mesa, de há muito tempo para cá, para resolver um problema específico da educação em Portugal. Um que é ponto de partida para muitos outros problemas que têm registo visível em situações aparentemente não relacionadas com aquilo que visa especificamente esta proposta de Luís Braga, presidente do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de Darque e autor do texto a que chamou 'Petição pela responsabilização efectiva das famílias nos casos de absentismo, abandono e indisciplina escolar'. Em dois dias, recolheu cerca de 500 assinaturas, sendo que o objectivo é reunir quatro mil para «obrigar» a Assembleia da República a discutir a questão em plenário. «Na prática, o que defendo é que os encarregados de educação têm de ser responsabilizados pela educação ou não educação dos alunos», disse o docente. «Os mecanismos criados devem traduzir-se em medidas sancionatórias às famílias negligentes, como multas, retirada de prestações sociais e, no limite, efeitos sobre o exercício das responsabilidades parentais, como é próprio de uma situação que afecta direitos fundamentais de pessoas dependentes». Não posso concordar mais. É agindo sobre as famílias do presente que podemos mudar alguma coisa nas famílias do futuro, e por elas o país. Havemos de conseguir, tenho fé.  

27
Mar09

Sete vidas como o Jardel

Rui Vasco Neto

 

 

Mário Jardel. Lembram-se dele? Jardel é Jardel, dele tudo se espera, faz parte do seu carisma. No palco para que nasceu, Jardel morre com a mesma facilidade com que renasce das cinzas. Irresponsável, genial, Jardel, quer tudo dizer o mesmo: isto que se pode ver neste video, hoje e ontem a par, o mesmo show de bola. Mário Jardel. Lembram-se dele? Pois está vivo e bem vivo, alive and kicking, porque este sim, este é que tem sete vidas como os gatos. Eu? Ao pé de Jardel sou mero aprendiz.   

27
Mar09

Mais um oventado contra a ministra

Rui Vasco Neto

Alunos da Escola Secundária de Felgueiras atiraram ontem, cerca das 19:00h, ovos à ministra da Educação. Maria de Lurdes Rodrigues não foi atingida mas dois alunos, de 16 e 17 anos, foram identificados pela GNR. A origem dos ovos também não chegou a ser apurada mas, em princípio e até prova em contrário, os investigadores parecem ter já descartado a hipótese destes terem sido postos pelos próprios alunos, não sendo assim de excluir a possibidade de haver uma ou mais galinhas envolvidas neste atentado. As investigações não prosseguem.

 

27
Mar09

O sorriso do dia

Rui Vasco Neto

Sinto-me bem mais tranquilo agora, confesso. Fui a correr comprar a primeira edição da Playboy portuguesa, com chegada às bancas marcada para hoje, apesar da capa pouco feliz, na minha modesta opinião. Não que a Mónica Sofia não tenha tudo  -  e quando digo tudo é mesmo tudo, aparentemente!  -  para merecer o destaque, nada disso. Mas é que a mesma capa faz chamada ao nome de Nuno Markl, que venho a descobrir depois ser apenas colaborador permanente da nova publicação. Tudo bem por aí, só podem vir coisas boas dessa colaboração, que o Nuno é brilhante em tudo o que faz. Só que eu, não sei porquê, ainda tive por uns instantes o receio de que o nosso Markl também se tivesse descascado para a objectiva da Playboy, não sei, passou-me pela cabeça. Agora estou mais tranquilo, pronto. A revista só sai amanhã, afinal, mas em matéria de nus está garantido: há Mónica mas não há Markl, graças a Deus. Melhor assim, digo eu. É certo que até somos amigos, mas bolas, o humor há-de ter limites, ou não?

 

27
Mar09

Dia Mundial, outra vez?

Rui Vasco Neto

Uns quantos como eu ainda acredito que existam, mas um que seja mais do que eu é difícil, não possível de todo. Distraído, quero eu dizer. A leste, na lua, chamem-lhe o que quiserem, mas lá que é facto que eu de vez em quando estou cá mas não estou embora pareça mesmo estar, lá isso não tem discussão.

 

Vem este arrazoado todo a propósito do Dia Mundial da Poesia, que de repente começo a ver referenciado em toda a parte, uma menção aqui, um post ali, um artigo além, um poema acoli, enfim, uma coisa absolutamente descabida se pensarmos que o Dia Mundial da Poesia foi há pouquíssimo tempo atrás, não tenho dúvida, lembro-me muitíssimo bem, até porque por acaso fiz uma coisita até engraçada aqui no 7Vidas, que tenho até ainda bem presente na memória, como não, pois se foi há meia dúzia de ... sei lá, dias não digo, mas uns mesitos, talvez, não mais, ora deixa lá ver, também não é difícil descobrir a data exacta, basta ir ao arquivo do blog e procurar o poema, não custa nada, dou por mim a concluir. Assim fiz. Encontrei logo, sem espinhas. E eu tinha razão, a data lá estava a provar que não foi assim há tanto tempo. E que data lá estava, então? Pois 21 de Março de 2008, nenhuma outra.

 

Os senhores percebem agora o meu problema? Será coisa grave, será da idade, será que conto com o vosso apoio se piorar? Espero que sim, daí o desabafo, que aqui fica junto com as tais palavras que eu recordava por me terem saído limpas, espontâneas, sentidas. E há pouquíssimo tempo atrás.

 

 

Quero às palavras como às amantes
(mais a umas do que às outras
confesso e é natural)
que as palavras, mesmo loucas,
mentirosas, inconstantes,
são melhores do que as amantes:
não me fazem tanto mal.

Dizem-me que hoje é o dia
de lembrar a todo o mundo
o universo dos poetas:
as palavras! Que, no fundo,
são de todos, dos patetas,
dos tristes, dos geniais,
dos uns que lhes querem mais
que os outros que as maltratam
(e às vezes com elas matam)
a quem escapa a fantasia
que mora nas entrelinhas...

As palavras não são minhas
mas se fossem, eu garanto
esta intenção verdadeira:
às palavras quero tanto
(ai! tanto lhes quero, tanto!)
que não marcaria um dia
para as palmas mundiais
mas antes a vida inteira
milhares de vezes um dia!
E não seria demais
para lembrar a Poesia.
 

26
Mar09

O crime dos McCann

Rui Vasco Neto

Há uma duríssima lição de vida, para Gerry e Kate McCann, naquilo que vem acontecendo nestes últimos dias na aldeia da Luz. Da grande campanha de sensibilização para o desaparecimento de Maddie lançada pelos McCann na zona da Luz, Lagos, pouco restava ontem à tarde além de meia dúzia de cartazes afixados em estações de autocarro e outdoors. A população local tratou de rasgar e arrancar os restantes, deitando-os para o lixo e dando a cara pela sua atitude, sem qualquer pejo, convictos da justeza do que faziam. Ao Correio da Manhã foram várias as pessoas que assumiram responsabilidades no sucedido, incluindo comerciantes que publicamente retiraram os cartazes das suas montras. O adjectivo mais usado para caracterizar a campanha dos McCann é 'palhaçada' e o motivo comum a todos tem a ver com alegados prejuízos que dizem estar a sentir por quebras no turismo devido ao caso Maddie. Seja qual for a verdadeira razão, a existir uma, o facto é que se trata de uma tomada de posição que é no mínimo estranha, se pensarmos que está em causa o desaparecimento de uma criança. Daquela criança, em particular. E é assim que chegamos à tal lição de vida que referi lá atrás. Ora pensem comigo.

 

Toda a revolta latente neste 'já chega!' gritado pelos habitantes da Luz tem destinatários óbvios. Kate e Gerry McCann foram condenados pelo colectivo da opinião pública nacional por crimes de arrogância e estupidez, à falta de provas definitivas de que são assassinos de facto. O colectivo deu por provado, nesta sessão com já quase dois anos de massacre mediático, que os pais de Maddie foram ingleses, triste e terrivelmente ingleses na forma de lidar com o que lhes estava a acontecer naquele momento em Portugal e junto dos portugueses. Ao preconceito que Kate e Gerry revelaram possuir em relação aos portugueses, desde o primeiro minuto da sua desgraça, respondem agora estes com outro de igual calibre contra este tipo de gente com pose superior que vem para o nosso país tratar os indígenas abaixo de cão e como 'estúpidos comedores de sardinhas', como nos caracterizou o popular jornalista Tony Parsons, que não têm berço ou competência para tutear com os súbditos de Sua Majestade. Talvez por isso os portugueses da Luz lhes voltem ostensivamente as costas quando agora, dois anos de desprezo e arrogância depois, colam nos seus cartazes um pedido de tardia humildade: 'Ajudem-me', um apelo pensado para ser dirigido directamente à população local. Que deu resposta pronta, como se vê, aquela que lhes foi ditada pelo sentir. Só Maddie, a própria, terá impedido que assim tivessem feito há mais tempo, acredito piamente.

 

Gerry e Kate McCann estarão a colher o que semearam, tudo o indica. Mas importa não esquecer Maddie, pelo caminho. Por isso a atitude destes nossos compatriotas da Praia da Luz vale o que vale, mostra o que mostra, é o que é. Nem por isso particularmente digna ou dignificante, para Portugal ou para os portugueses. Não parece coisa nossa, da nossa gente, da nossa maneira de ser. Compreende-se, claro, percebe-se porque e para quem está tudo isto a acontecer. Terá até alguma justificação factual, não o discuto. Mas raramente importa quem começou primeiro, numa escalada de preconceito, como pouco importam as mesquinhices da vida quando nos encontramos cara a cara com a morte. E a estupidez, inglesa ou outra, só gera estupidez, portuguesa ou outra, nada mais, não traz nada de bom para ninguém, para uns ou para outros. E não ajuda Maddie, acima de tudo, cuja situação (seja ela qual fôr) dispensará por certo a existência de duas facções, muito menos rivais, onde era suposto existir unidade e solidariedade num empenho comum. Foi por isso lamentável, este episódio, absolutamente lamentável. E vou mais longe. Mesmo tendo como referência o inenarrável casal McCann, estes nossos algarvios foram muito, mas mesmo muito ingleses, neste incidente dos cartazes. Demasiado ingleses, se é que me faço entender.

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