Distância, precisa-se.
"O passado é um país distante", diz a canção. Pois o meu mais parece ali Ayamonte, este passado que mora aqui tão a meu lado, aqui tão perto afinal, que às vezes (muitas como hoje) julgo viver na raia deste meu tempo, privado dessa distância para me proteger, menos até dos outros que de mim. E esse é o meu presente, fraca oferta, de resto.
"O passado é um país distante", garante o poeta. E eu, que até queria muito acreditar que assim é, dou então por mim a pisar chão estrangeiro com a frequência escusada de cada memória, no embalo de cada recordação e por mero vício de sofrer, chego a concluir. Ora digam-me lá se não é de louco este viver, se não é pateta este sentir! Porque o passado é um país distante, claro, longínquo, mesmo, mas só se nós assim o decidirmos, firmes, com aquela firmeza que resulta no único garante de independência para a permanente invasão de culpas que a consciência permite que aconteça, fraca guarda fronteiriça que mostra ser, a pobre. Só assim o passado é um país distante, que apetece revisitar de quando em vez. Só assim. Mas só, mesmo. Assim, no fundo.