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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

More than meets the eye

Sete Vidas Como os gatos

20
Mai09

Deus os fez, a crise os uniu.

Rui Vasco Neto

Facto, um: Alberto João Jardim é sempre um poço de surpresas, ponto. Facto, dois: nem todas serão más, digo eu, outro ponto. E este seria mesmo um ponto final sem qualquer discussão se não faltasse aqui dizer qual a surpresa desta vez, de resto o ponto a que passo agora e sem mais conversa.

 

Decidiu o Presidente do Governo Regional da Região Autónoma da Madeira mandar fazer uma lei que proíbe as empresas, da região e que apresentem lucros significativos nas suas contas anuais, de optarem pelo despedimento de trabalhadores como apenas mais uma medida de gestão, desta feita supostamente legitimada pelo omnipresente fantasma da crise. Esta é uma situação que Jardim considera tão 'inaceitável' que resolveu avançar com esta iniciativa legislativa que será agora sujeita à apreciação dos deputados da República, de cuja aprovação depende, para que possa então vir a ser aplicada naquela região autónoma. E isto só para começar, depreende-se, que aqui o céu é o limite.

 

Para mim, independentemente do que venha a suceder no final e em termos práticos com esta proposta de lei de Alberto João, há aqui um pormenor interessantíssimo e que me delicia, que me deixa curioso, confesso, e que por si só dá ao assunto o estatuto de história, venha ela a dar no que der. Ora, pensem comigo, se tendo sido exactamente esta uma bandeira recente do Bloco de Esquerda, publicamente defendida por Francisco Louçã com a sua costumeira convicção de justeza, não será agora de esperar da parte dos bloquistas o elogio público desta visão política e social de Jardim? Teria toda a lógica, convenhamos, pois se pensam igual, um e os outros em perfeita sintonia nesta matéria, quer no diagonóstico, quer na solução... e eu cá só vejo uma pessoa para essa tarefa, uma só de entre todas as figuras que compõem o estado-maior do Bloco, até pela relação (chamemos-lhe assim) que já mantêm os dois, pelo conhecimento que já levam um do outro, de tanto levarem um com o outro. Vai ser bonito de se ver, talvez até um nadita comovente, que digo eu, mesmo de ir às lágrimas, Alberto João Jardim e Daniel Oliveira finalmente unidos num mesmo abraço, sorrisos rasgados, um pensamento comum, uma mesma linha de acção, a descoberta da partilha na mais improvável das alianças políticas. Unidos pela crise, quem diria. Unidos pela crise.

19
Mai09

Sexo, pelo amor de Deus.

Rui Vasco Neto
18
Mai09

A natureza humana, esse mistério

Rui Vasco Neto

Neste como em qualquer tempo, as questões relativas ao Ensino e ao Conhecimento deveriam merecer de todos nós uma particular atenção, sobretudo agora que a sociedade global terá já aprendido que só pela cultura se muda alguma coisa, de facto, na vida das gentes que connosco co-existem neste mesmo tempo e espaço. Pois é exactamente nesse contexto que me parece verdadeiramente imperdível o colóquio sobre Educação que está agendado para a próxima sexta feira no Instituto Piaget, em Lisboa, com a presença de Edgar Morin, autor de um dos livros mais inspiradores e didácticos que li nos últimos tempos: «O Paradigma Perdido  -  a natureza humana» (ed.EuropaAmérica).

 

Como muito oportunamente nos fez Tomás Vasques o favor de seleccionar, aqui, Edgar Morin adianta o que se pode considerar um breve mas elucidativo resumo daquilo que ele próprio vem pregando sobre Ensino e Conhecimento, há perto de quarenta anos, nestas palavras retiradas de uma sua entrevista à agência Lusa: «O que proponho é fornecer as ferramentas de conhecimento para serem capazes de ligar os saberes dispersos. Conhecer apenas fragmentos desagregados da realidade faz de nós cegos e impede-nos de enfrentar e compreender problemas fundamentais do nosso mundo enquanto humanos e cidadãos e isto é uma ameaça para a nossa sobrevivência. Está demonstrado que a capacidade de tratar bem os problemas gerais favorece a resolução de problemas específicos.» Parece tão simples, posto assim, não é? Pois é. E eu sei porquê. Porque no fundo, no fundo, é mesmo tudo bem simples, na essência. A gente é que gosta de complicar, acreditem. Por isso marque na agenda, faça esse favor a si próprio: próxima sexta feira, Instituto Piaget, Lisboa, Edgar Morin, ou a maravilhosa aventura do conhecimento explicada por quem sabe o que diz a quem souber e quiser ouvir.

 

17
Mai09

Sim, em Portugal a esperança tem rosto.

Rui Vasco Neto
16
Mai09

Entradas de leão

Rui Vasco Neto
16
Mai09

A Carraça

Rui Vasco Neto
Já fazia algum tempo, demasiado até, que a escritora Soledade Martinho Costa não arriscava uma perninha cá por estas Vidas, sete como dizem ter os tarecos e os miaus da história como eu. Lá nos vamos lendo um ao outro (com o prazer do costume) na correspondência privada que trocamos, valha-nos isso. Mas em boa hora apareceu esta 'Carraça', bom exemplo do olhar curioso que esta autora reserva ao mundo que a rodeia e da arte com que o regista em palavras. Assim marca a minha amiga Sol mais uma vez a sua presença nesta casa de letras, local de péssima fama, como é sabido, atribuída à visita regular e confirmada de loucuras várias que por aqui se juntam com inconfessáveis propósitos de mentes talvez dementes, até, nunca se sabe. O que é por si só e desde logo um garante de que estamos todos no sítio certo, digo eu. Não?
 
 

Em baixo: "Coisas da velha do arco: 'A Carraça'"
Sete vidas mais uma: Soledade Martinho Costa

 
 
Viviam juntos na mesma casa há já uns anos. Tinham vindo do Norte. Coisas de negócios, falências, necessidades, originaram a sua vinda para o Sul (Algarve). Objectivo? Reorganizarem a vida, que dinheiro já tinham tido com fartura. Marido e mulher, dois filhos, na casa dos vinte e poucos anos, e os pais do primeiro. 
Laurinda, a mulher do Saraiva, com quarenta e três anos, bonita, vistosa, cabelo negro, curtíssimo, olhos grandes, da mesma cor, rosto com traços a fazerem a inveja de muita mulher. Arranjada, decotada, moderna, sexi. Como tinha aptidão para a cozinha, arranjou trabalho num hotel como cozinheira. O Saraiva, que fora empreiteiro nos bons tempos, conseguiu trabalho no mesmo ramo. O filho acompanhou-o. A filha casou logo depois e o problema dela ficou resolvido. Voltou para o Norte. O pai do Saraiva, casado pela segunda vez, estava aposentado. 
Laurinda, apanhado o jeito de confiar em mim, fazia-me confidências sempre que vinha, nas folgas, limpar as escadas e os patamares. O casamento estava por um triz. Durava há vinte e cinco anos. Já não aguentava mais. Os problemas tinham surgido logo após o casamento: o marido eram noitadas, mulheres, dinheiro esbanjado, copos. Maus-tratos físicos, não. Psicológicos, muitos. Tinha ciúmes da Laurinda, criticava-lhe o vestir, o calçado, as pinturas. No Algarve as coisas não melhoraram. Pelo contrário. Laurinda chegava a sair de casa a meio da noite, em pijama, para ir acabar o sono (se é que o tinha começado) em casa de pessoa amiga.
- É uma tristeza a minha vida! – Dizia-me. E acrescentava decidida: - Vou deixá-lo. Arranjo casa e vou-me embora. E já o devia ter feito há muito tempo!
 
O Saraiva sabia dos propósitos da mulher. Chorava junto de quem tinha paciência para escutá-lo. A Laurinda era a mulher da sua vida. Nunca tinha amado outra mulher daquela maneira. «Se ela me deixar, mato-me, pode ter a certeza!», confessou-me certa vez. Impressionaram-me as suas palavras e as suas lágrimas. Implorou-me que intercedesse por ele junto da Laurinda. Falei com ela. Respondeu-me:
- É o costume. Ele faz sempre a mesma coisa. Chora, diz que se mata, mas é mentira. Gosta agora de mim! Se gostasse não me fazia a vida num inferno. Ajudava nos gastos da casa e não se embebedava!
Fiquei confusa. Tantas tinham sido já as confidências, que acreditei na Laurinda.
Certo dia contou-me que tinha arranjado casa:
- Finalmente, vou ter uma vida descansada! – Afirmou.
O filho foi com ela. Na casa que deixou ficaram os sogros e o marido. Tempo depois, os sogros voltaram para o Norte e o Saraiva ficou sozinho. Nas conversas que tinha dizia que deixara de beber. Chegou a oferecer a um dos seus amigos duas garrafas de aguardente de medronho «porque já não fazia sentido tê-las em casa». Homem de olhos tão verdes como nunca vi, começou a andar mais aprumado. Volta não volta, afirmava: «A bebida é que me fez perder a mulher. Por isso, acabou-se!». 
Com um pé dentro, outro fora do desemprego, habituado durante anos a ser patrão, o Saraiva não tinha grande vocação para empregado. Por esta altura, foi fazer um trabalho numa propriedade em Monchique. Chegada a hora do almoço, a pessoa que o contratou convidou-o a acompanhá-lo ao restaurante. Conhecedor da situação do Saraiva no que tocava a bebida, mandou vir uma garrafa de água e outra pequena de vinho. E logo o Saraiva:
- Ó senhor engenheiro, mande vir antes uma garrafa de litro. É que dias, não são dias!
E enquanto o senhor engenheiro bebeu metade de um copo de vinho tinto, o Saraiva bebeu o restante. Ao saber disto, pensei: «Lá se foram as boas intenções do Saraiva.». Com efeito, ninguém o vê a cair de embriagado, mas que tem sérios problemas com a bebida, isso tem. Coisa que vem de longe. Ainda que afirme (como é costume em casos similares) «não ser um alcoólico».
 
Noutra ocasião em que encontrei o Saraiva, diz-me ele para meu espanto:
- Hoje vou almoçar a casa da Laurinda!
Dias volvidos anuncia-me, alegre que nem um passarinho:
- Esta noite não dormi em casa. Fiquei em casa da Laurinda!
Será possível, perguntei a mim própria. Só tive resposta quando a Laurinda me confirmou que sim.
- Mas, então… – Argumentei.
Diz a Laurinda a rir:
- Mas há lá pessoa mais maluca do que eu? Não há! Pois é. Vai lá comer e tem direito a sobremesa e a café! Já me apareceu com a roupa para eu dar um jeito e esta parva que está aqui tratou-lhe de tudo. É uma autêntica carraça. Está bem como bem. Melhor do que nunca!
Concordei. Entretanto, o Saraiva acabou por deixar a casa onde habitava sozinho. Tempo depois voltei a falar com a Laurinda. Confirmou novamente:
- Ah, pois, agora almoça, janta e dorme lá em casa. É o que eu digo, não tenho juízo! Mas que hei-de fazer? Apareceu-me com a mala da roupa e mais uns sacos. O meu filho cedeu-lhe a cama e tem lá dormido. E não me dá um tostão. Na outra casa ainda pagava uma parte da renda, agora nem isso. Eu sempre sou muito parva! Mas já lhe disse a ele: olha que é por pouco tempo. Trata da tua vidinha, porque qualquer dia ponho-te a tralha toda na rua. Já o avisei! 
Cá para mim, devem ser os olhos verdes, verdes, do marido – ainda que não seja propriamente um «gato». E também os vinte e cinco anos de casamento. E também os filhos. E também o neto que vai chegar um dia destes. E também o amor, quem sabe o afecto, que liga ainda a Laurinda ao Saraiva, por mais que ela diga que não.
Se o Saraiva não sair de casa da Laurinda, como parece ser sua intenção, a Laurinda só tem uma hipótese: começar de novo à procura de casa. O problema está em que o Saraiva costuma dizer: «Eu, por aquela mulher, vou até ao fim do Mundo!».
Dadas as circunstâncias, acredito. Assim como acredito que deve haver poucos casos como este. Mais. Supondo que a Laurinda arranje uma casa «no fim do Mundo», com a prática que o marido tem em «falar-lhe ao coração», quando a Laurinda lá chegar, já o Saraiva lá está à espera dela!

 

09
Mai09

Donkey!!

Rui Vasco Neto

Só mesmo um burro deixaria a pasta do computador dentro do carro, na noite de Alfama. À porta do 'Mesa de Frades', para ser mais exacto. Na noite do dia da liberdade, para que não fique qualquer dúvida sobre a data, quando um dia contar esta minha burrice aos meus bisburretos. Pois desde esse dia que não venho por aqui, que não vejo correio, que não blogo, que nada faço em teclado algum, por manifesta falta de hardware. Até hoje, quando me telefonam a dizer que um dos meus posts passou a barreira nunca antes ultrapassada neste blog dos 100 comentários. Aí não resisti, vim meter o nariz, vim ver como é para poder contar como foi, fiel ao princípio básico da minha profissão. É o que vou fazer agora, com calma. Vou ver como é. Depois passo por aqui para contar como foi, ok?

 

Então até jazz.

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