Bom dia. Hoje eu estou que nem posso com tanto esforço, caramba!
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...deste blog. No princípio era assim, um bom dia não se negava a ninguém, todos os dias. E foram dois anos cheios de bons dias, bons e maus, muitos, muitos dias até que um dia... parei para descansar. Mas atenção que foi só muitos, muitos dias depois de ter começado, afinal sei de quem tenha descansado logo ao sétimo, mal acabou umas coisitas... enfim, personalidades diferentes, é certo, mas também cada um faz o que pode e o resto é conversa, essa é que é essa e mais nada. Essa é que é essa, estão a ver? Essa, a conversa, é essa que agora está de volta, oito vidas como os gatos ou lá o que lhe queiram chamar, o certo é que hoje eu digo 'bora lá noutra corrida, outra moeda, mais uma voltinha que já estou farto de estar calado. So, here's the deal: para já quero que tenha um bom dia, é o mínimo, para começar. E depois daqui para a frente vamos vendo, parece-lhe bem?
Eis Portugal em Outubro, dezanove, ano de dois mil e dez, século vinte mais um. Nós por cá como sempre, lá vamos cantando e rindo como é da nossa natureza. E levados, levados sim, claro, sina eterna ou o triste fado do hoje como sempre, como dantes. Por estes dias, em cima da grande mesa da Nação jogam-se os dados do processo político que acabará por parir, espera-se, o Orçamento do Estado para o ano de dois mil e onze. Espera-se, disse e disse bem. Quem espera desespera? É um facto, nunca o velho provérbio foi tão realista e verdadeiro como agora, nesta circunstãncia em que até já o embaixador da patroa América faz pública a preocupação, sua e do boss Obama, com este aparentemente infindável desnorte nacional: «A nossa esperança é de que Portugal consiga chegar a um consenso no que diz respeito ao Orçamento do Estado e siga em frente», disse o senhor Allan Katz sem explicar para onde mas decerto para São Bento ouvir. Em bom português também o Professor Alberto Castro, catedrático na Católica, explicou hoje para a geral e com particular clareza: «Se o OE não for aprovado vamos ter uma quebra brutal na nossa reputação. Isso tem custos tão altos que nessa altura vai ser melhor uma solução FMI», avisou. Uma a uma somam-se as vozes, de todos os quadrantes políticos e de todos os estratos sociais, que alertam para a eminência de um desastre há muito anunciado. Sabe-se quem fala, vai-se desconhecendo quem ouça. Nas ruas, nos transportes, nos mercados, a conversa vira o disco e toca o mesmo medo comum, já que é por todos e por demais sabido que sempre que o mar bate na rocha quem se lixa é o pequeno mexilhão e nunca o grande polvo do poder. Sempre, sempre, nunca, nunca. Sempre os outros, nunca os uns. Talvez por isso mesmo sejam tão deliciosamente actuais as palavras deste soneto escrito por José Régio, lá no distante ano de mil novecentos e sessenta e nove, em memória do seu amigo Aurélio Bengala e não, garantidamente, com o pensamento no Portugal socrático do futuríssimo ano de dois mil e dez. Chama-se 'Soneto quase inédito', este saboroso naco poético de antologia que não resisto a partilhar convosco aqui e agora, neste momento único da proverbial tonteira lusitana, em que a História se escreve com o rigor de hoje, sim, mas com palavras de ontem. Intactas de sentido, perfeitas de oportunidade. E portuguesas, bem portuguesas, deste Portugal quase, quase inédito.
Soneto quase inédito
Em memória de Aurélio Cunha Bengala
Surge Janeiro frio e pardacento,
descem da serra os lobos ao povoado;
assentam-se os fantoches em São Bento
e o Decreto da fome é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento;
cresce a miséria ao povo amordaçado;
mas os biltres do novo parlamento
usufruem seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola,
certo santo pupilo de Loyola,
mistura de judeu e de vilão,
também faz o pequeno "sacrifício"
de trinta contos - só! - por seu ofício
receber, a bem dele... e da nação.
JOSÉ RÉGIO
(Soneto escrito em 1969)
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