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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

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Sete Vidas Como os gatos

06
Jun11

No dia em que o rei fez anos...

Rui Vasco Neto

 

... houve arraial e foguetes no ar, dizia a canção no tempo em que o Zé Cid era o Nick Cave possível. Pois hoje não houve arraial cá na casa mas quase, que o nosso Gastão completou a bonita idade de 7 anitos e a festa foi merecida, mais de dois mil e quinhentos dias passados ao meu lado, é obra. E quando digo ao meu lado é mesmo literalmente ao meu lado, quase todas as vinte e quatro horas de cada dia, como sabem os próximos e mais toda a gente por esse país fora que fez connosco todas as horas de todos os dias destes nossos últimos seis anos e meio a par e passo. Como sabem os meus, na ilha de S.Miguel em geral e em Ponta Delgada em particular, essas ruas e caminhos que palmilhámos sempre juntos durante mais de dois anos e onde confirmámos a aprendizagem da nossa... huum... relação, pronto. Sim, a nossa relação, assumo, fosse eu o Herman e diria sem medo que foram precisas paletes e paletes de gajas para finalmente vir a descobrir a companhia perfeita, lamentavelmente com pila e pelo, diga-se. E quatro patas.

 

Sete anos, quatro patas, nenhuma patada, nem uma só para amostra; um recorde que desafia qualquer relação por mais perfeita que seja. E a nossa não o é, garanto-vos, temos os nossos altos e baixos como qualquer casal, sei lá, ele dorme no tapete com a mesma frequência que alguns amigos meus, por exemplo, e por mais de uma vez já ficou a dormir na rua por razões que até o olfacto menos apurado entenderia, coisa que já acontece menos entre a malta minha amiga, pelo menos por este motivo em concreto. No resto somos como todos, cada um com o seu gosto em particular, eu não ligo nenhuma às àrvores que ele não dispensa e ele não passa cartão às mulheres que eu já devia ter dispensado, se tivesse um dedo de juízo. Que não tenho, dizem, e aí está a prova neste parceiro que escolhi para o meu dia a dia e que ressona nas minhas noites, esta espécie de certificado oficial de pancada que tem um peso indiscutível: 50 kilos.

 

Sete anos. Credo, sete anos! Sete anos todo o terreno, mar, terra, ar, na fartura e na pobreza, na saúde e na doença,  mal, bem, assim assim... juntos por toda a parte, que diabo, até ao cinema já fomos os dois. Sete anos de aventuras já passados e muitos ainda por vir, espero eu. Talvez um nadita menos aventurosos não fosse má ideia de todo, afinal eu posso estar para aqui um jovem mas o meu Gastão já nem tanto, enfim... Só por isso, claro.

 

 

 (para mais tarde recordar aqui ficam as imagens do bolo e dos 32 segundos que a festa durou...) 

 

06
Jun11

Bom dia. Hoje eu cumprimento o Engº Sócrates...

Rui Vasco Neto

... pela dignidade da sua postura na hora do discurso de derrota. Saberão os poucos(?) que já tiveram que assumir derrotas pessoais em directo na televisão quanto custa cada palavra, cada pausa, cada segundo passado no desamparo daquela exposição ao vento hostil do desagrado público. Fazê-lo de cabeça erguida e ainda deixando no ar a nota positiva da necessidade de ausência de ressentimentos no coração para que a vida possa continuar rumo a uma felicidade assumidamente desejada foi uma prova dura e difícil que José Sócrates superou muito melhor do que outras passadas em que igual discernimento não o acompanhou na hora do sim ou sopas. Tivesse a sua postura sido outra ao tempo e talvez ontem tivesse acontecido um sim em vez da sopa que foi. 

02
Jun11

Eu, ganso.

Rui Vasco Neto

Alguém cuja opinião eu muito respeito e oiço, sempre com redobrada atenção, disse-me esta semana que me bastaria a inteligência de um ganso para conseguir alcançar um determinado objectivo que me proponho atingir há vários anos sem sucesso. Mais explicadinho, que eu só tinha que ser ganso e seguir o bando e tudo correria às mil maravilhas para o meu lado. Eu cá embatuquei, confesso. Caí de quatro. Fosse um burro a dizer-mo e eu ficar-me-ia pelas bordas da fábula e fugiria de buscar sentido mais profundo em tão tresmalhada analogia. Mas não, longe disso, foi mais um mocho arraposado quem me falou, olhos bem abertos e esperteza em muito superior à minha, características que aliadas à inteligência prática de que é particularmente dotada a sua sub-espécie fazem deste bicho um animal de respeito, nesta selva em que existo e resisto. Daí que fiquei a pensar, a ruminar, bufando para dentro mas sem ceder ao grasnado de irritação que seria normal e expectável neste animaleco que sou em circunstâncias deste calibre. Mas não fiquei convencido, tenho que confessar. Arrepiado sim, convencido pouco, confuso muito. E um nadita irritado, assumo. 

Afinal tenho eu manias de fera com muitos quilómetros de National Geografic, papa-léguas em savanas e montes bem distantes do eixo Rossio-Entrecampos para dar agora por mim exposto neste espelho que me olha de frente e reflecte de esquina, rasando alguma lógica mas aterrando em cheio nos antípodas do meu imaginário, no deserto mais inóspito das minhas convicções!!! Pelo sim pelo não obriguei-me a considerar o argumento, ponderei até a possibilidade de acerto, por mero exercício de humildade. Mas nada a fazer, por mais voltas que dê à metáfora a analogia parece-me tão descabida e disparatada como da primeira vez que a escutei, pese a sapiência do bico que a palrou. Porquê? Passo a explicar.

Não é que eu não compreenda onde quer chegar a comparação, qual o sentido útil a retirar da relação de semelhança e até o superior alcance e objectivo do bitaite que agradeço, raso e reconhecido. Mas para o conseguir entender parece-me manifestamente escassa a inteligência que Deus deu às aves em questão, pelo que o palpite cai de maduro muito antes de me deixar verde de raiva, para começar a conversa. E depois há a questão das diferenças inultrapassáveis  -  e atenção que não falo de penas e pelos, braços e asas, pernas e pescoço, nada que se pareça. Falo sim da elegância que me falta e lhes sobra, da gansualidade que nos separa, da territorialidade que os caracteriza e a mim me passa ao lado, do hábito que têm de comer tudo o que lhes apareça pela frente enquanto eu me mantenho criterioso e cada vez mais esquisito no bicar (mesmo no Verão, quando a caça ronda descapotável e disponível) e, last but not least, falo do saboroso foie gras em que se transformam os seus dias no mesmo final que a mim me vai seguramente comer inteiro e intacto nestes maus fígados que me vão mantendo vivo e orgulhosamente resistente à padronização da raça, essa sempiterna tentação de todo o poder reinante em qualquer cadeia alimentar deste mundo de Deus e do Diabo.

Daí que digo não ao conselho, ganso nunca, decididamente obrigado mas não, obrigado. Tanso talvez vá sendo, aqui e ali, que a selva é densa e eu serei pitosga na visão de mim próprio e míope de espírito nas curvas da tentação. Isso sim, aceito. Mas o meu canto de cisne há-de ecoar para além do estampido da manada ou eu não terei vivido de todo, quando chegar a hora do balanço final das minhas penas. E se há moral a tirar deste lafonténico e bem intencionado palpite, eu cá só vejo uma e pouco mais de troco: é que até o bicho mais esperto e informado mete a pata, de quando em vez. E essa, sinceramente, já cá se sabia.

02
Jun11

Lúcido e brilhante, como sempre.

Rui Vasco Neto
01
Jun11

Já agora, aproveito para vos recordar que...

Rui Vasco Neto

Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate. De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.

01
Jun11

Os dias mundiais deste mundo

Rui Vasco Neto

Talvez por ser meio do contra, dizem, esta coisa dos dias mundiais disto e daquilo sempre me incomodou um nadita, confesso. É que vem o dia mundial da árvore e toda a gente ama a natureza, vem o dia mundial da SIDA e toda a gente esquece o preconceito, vem o dia mundial da música e vira o disco e toca o mesmo e eu na minha, sem saber o que fazer com o resto do ano em que anda tudo nas tintas para a nobreza de princípios que fez acontecer as efemérides e a borrar a opa usada no dia da festança nacional. Isto até para o ano, claro, todos os anos. 

Assim, por norma de mau feitio só dou feriado ao cepticismo quando chega o Dia Mundial da Criança, talvez pela indiscutível justeza do destaque ou talvez pela secreta esperança que ainda vou alimentando, muito em segredo, de que este mundo dos homens venha algum dia a entender a sério que só cuidando dos rebentos se poderá vir a obter colheita de jeito e sem tanta fruta podre como a que em tanto por aí se tropeça, no passo a passo dos dias a caminho do futuro.

Seja pelo que for, a verdade é que todos os anos o meu coração celebra este dia que supostamente deveria recordar à humanidade esse direito inalienável que todos os homens têm de ser meninos em tempo próprio, condenando ao eterno despropósito a dedicatória de Soeiro Pereira Gomes nesse 'Esteiros' que tanto marcou a minha aprendizagem da alma humana, mais um curso que nunca terminarei. Este ano não foi excepção e iniciei as festividades a preceito, lembrando o rosto de cada um dos meus filhos ao nascer. Depois estiquei a festa ao procurar o bébé que todos fomos em cada ser que hoje cruzou o meu caminho, mesmo no meio deste imenso desencontro em que vivemos. E só guardei os foguetes quando vi esta notícia de hoje, dia 1 de Junho, Dia Mundial da Criança. Aí toldei-me de luto e anuviei o entusiasmo e a fé na minha espécie. Só por aguardar confirmação de um juízo superior mantive a esperança intocável, nem permiti que ela ouvisse uma palavra sobre o assunto. Por isso e por outra razão, mais egoísta, mais minha e só minha: é que para o ano há mais, mais dias, mais crianças, mais mundo. Mais e melhor, quero acreditar.

 

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