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Sete Vidas Como os gatos

More than meets the eye

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Sete Vidas Como os gatos

06
Out08

Fim de festa

Rui Vasco Neto

E pronto, acabou-se a festa. Deste ano, que para o ano há mais, espera-se. Neste fim de luzes, para o bicar das migalhas e toda a má-língua que der tempo, ficou um dos da casa. Não desta casa blogosférica, apenas, esta peça é de outras artilharias, coisas mais antigas, quando ainda se lutava à chapada e toda a tecnologia de ponta tinha que levar uma pinga de óleo de vez em quando, senão chiava e não fazia pum. A nossa amizade vem da única tropa que eu fiz, um exército de amigos, todos da mesma arte, um batalhão pequeno e só de generais, (tudo sem álcool, não fumadores, digo, anacoretas, cenobitas, ascetas) que reinventou o conceito de tropa macaca ainda antes da ASAE, o que é notável, eu acho. Pois foi  exactamente um desses artistas que se deixou ficar para o final, diz ele porque só agora "me dá prazer e vontade de escrever", calculem. Quando o que ele quis na verdade foi olhar-me nos olhos e dizer-me um mundo de palavras que ninguém mais vai ler, ficam como vieram, "nos esconderijos de luxo das amizades vividas". Mas que eu vi e bebi com a contenção de sempre, que ele tão bem conhece. É o jornalista Nuno Miguel Guedes o meu convidado de hoje, nesta hora do fecho, neste fim de festa que foi rija. Não chegou atrasado, ele esteve por cá sempre, como uma banda sonora ou um par de olhos azuis. Só conseguiu foi pô-lo para fora agora. O texto, claro.

 

Em baixo: "Fim de festa"

Sete vidas mais uma: Nuno Miguel Guedes

 

 

Gosto, gosto desta hora do final de festa, cadeiras por arrumar, um ou outro folião náufrago e desesperado, à procura de uma felicidade que acabou na última música, no último copo. Gosto desta hora incerta, num limbo feliz entre o que foi e a nostalgia provável da lembrança. Gosto desta hora, as luzes e os sorrisos a apagarem-se devagar na memória, os rescaldos serenos e afectivos.

 

Só nesta hora portanto, com os vestígios dos confettis de palavras ainda espalhados pelo chão, me dá prazer e vontade de escrever. Só agora, meu amigo Rui, blogger de sete vidas e mais que venham, me apetece carregar as linhas de amizade, que é tudo o que mais me diz. Podia falar-te da realidade, do mundo feio feito por nós, podia escrever sobre a natureza humana de que ambos desconfiamos mas para a qual tu, suspeito, ainda entrevês salvação. Oxalá tenhas razão.

 

Não. Neste fim e começo de festa – o primeiro aniversário do blogue – só me ocorre egoisticamente escrever sobre o amigo que regressou estampadinho nas letras que dedicadamente põe por ordem todos os dias, para gozo dos nossos sentidos, para que muitas vezes possam mesmo fazer sentido. Porque há gente a sério atrás dos teclados, e nestas vidas «ponto-com», onde escolhemos fazer-nos passar de vez em quando, neste sete vidas reconheço uma, inteirinha e sem corantes ou conservantes – a de quem a escreve. Não sei que maior ambição se possa ter.

 

Podia falar de mil histórias, amigo Rui, amigo leitor. Mas essas permanecerão nos esconderijos de luxo das amizades vividas. Mas para que ninguém fique com inveja, eu garanto: quem passar por aqui e se deter no que é escrito fica a conhecer quem o escreveu.

 

Quanto a mim, e antes de me expulsarem da sala: parabéns pelo blogue, e muito prazer em reconhecer-te. 

 

Nuno Miguel Guedes

(blogger do Tradução Simultânea)

 

02
Out08

Casas da Câmara

Rui Vasco Neto

O texto que vão ler não é um bom texto. O texto que vão ler não é um mau texto. Agora os senhores estão à espera que eu diga que é muito bom, que é lindo ou excelente, certo? Também não posso ir por aí, não lamento. É que este não é daqueles textos que se podem definir quantificando as suas qualificações, bom, mau, excelente, execrável, muito ou pouco. Merece não mais nem menos, mas diferente, para que seja de justiça esta introdução. Meus senhores: que texto delicioso me enviou o Tomás Vasques para esta nossa festa de aniversário do 7Vidas! Que coisa bonita e saborosa. Uma grande lição de vida, para mais, extraordinariamente oportuna nesta altura dos dias da nação, em que andamos todos a discutir se pinga na sala das casas de alguns dos nossos concidadãos, e se por isso ou apesar diso eles merecem mudança ou complacência de senhorio. Um desconto ou uma esmola, um favor ou mera justiça. Grande, grande lição, este texto. Dada como eu gosto, particularmente, com superior inteligência, encontrada na boca do povo, e pelo lado mais inesperado de um assunto que se julgava ou queria estanque e de acesso único. São infinitas as cores do talento, qual arco-íris, está visto. Tantas quantos lados tem tudo na vida.

Em baixo: "Casas da Câmara"

Sete vidas mais umaTomás Vasques 

 

 

A propósito da recente polémica à volta das «casas da Câmara», lembrei-me de uma conversa, há meia dúzia de anos, num percurso de táxi. Cheguei ao aeroporto de Lisboa num dia de Novembro, ao fim da manhã. Um sol outonal enchia a cidade de luz em dia de S. Martinho. Apressado, apanhei um táxi para a Rua de S. Bento. Mal iniciámos a marcha, disse ao taxista, à laia de meter conversa: - que dia bonito! Respondeu-me, prontamente, com ar de censura, como a querer contrariar-me, olhando pelo retrovisor: – Para quem trabalha os dias são todos iguais. Depois de uns segundos de silêncio, retorqui: - Não seja tão amargo com a vida. Mesmo para quem trabalha há dias bonitos. Meu amigo – disse-me, num tom de voz menos agreste, olhando-me sempre através do retrovisor – Vou fazer um desabafo: eu estou amargo, é verdade. E sabe porquê? Destruíram-me a minha vivenda. Você sabe o que é isso? Destruírem a casinha onde eu vivi durante trinta anos? Não sabe. De certeza que não sabe, por isso diz que o dia está bonito. Mas, eu explico se não o incomodo: - Nasci em Trás-os-Montes, na aldeia do Pessegueiro, concelho de Bragança. O senhor não sabe o que é nascer por trás do sol-posto, entre montes, pedras, galinhas e cabras. Desculpe, vamos pela Gago Coutinho ou pela Segunda Circular? Como eu quiser? O senhor é quem paga, o senhor é quem manda. Vim para Lisboa com dezoito anos acabados de fazer, completamente ao deus dará, sem eira, nem beira. A minha mãezinha, que Deus tem, deu-me o dinheiro à conta para a passagem de comboio. Não tinha nem mais um tostão. Coitada. Uma vida inteira a labutar de sol a sol. Para quê? Só para ter comida para a boca. Mais nada. Cheguei aqui em Julho de 1966, lembro-me como se fosse hoje. Estava um calor de rachar e não conhecia ninguém. Fiquei embasbacado com tudo isto. Calcorreei a cidade durante dois dias e dormi duas noites nos bancos da Avenida da Liberdade. Mas os tempos eram outros, melhores tempos, digo-lhe eu. Não me julgue mal. Eu não gostava do fascismo, ninguém gostava do fascismo. Isto assim, em democracia, é muito melhor: podemos correr com eles quando nos dá na gana. Correr com os que estão no poder, compreende? Eu voto sempre nos que lá não estão para ver se isto melhora. E pode-se falar à vontade. Dizer mal deste e daquele. É outra coisa. Mas ia eu a dizer: dois dias depois de ter chegado a Lisboa já estava a trabalhar como trolha. E era jeitoso no trabalho. Cumpridor, como ninguém. Cheguei a servente de pedreiro antes de ir para a tropa. Fiz pela vida, compreende? Mas não queria passar a vida inteira a carregar com baldes de cimento e de areia. Com o dinheirinho que trouxe do ultramar comprei um táxi. Como vê sou taxista, um profissional competente, com carro próprio e os impostos em dia. O carro já está a ficar velho, mas não devo um tostão a ninguém. Não sou como essa gente que anda por aí a comer em bons restaurantes, com bons carros, mas estão cheios de dívidas aos bancos. Estive na guerra do Ultramar. Em Angola. Está a ver aqui no meu braço: LUANDA, 1971, está a ver? E vê aqui, por baixo do coração: AMOR DE MÃE. Gostava muito da minha mãe, coitada, que a sua alma esteja em descanso. Morreu no Pessegueiro, por detrás daqueles montes todos, sem nunca ter vindo a Lisboa. Só foi a Bragança duas ou três vezes na vida. A minha mãe emprenhou, tinha trinta anos, ali mesmo debaixo de uma árvore. E o raio do moçoilo, mal ela lhe disse que estava grávida, desapareceu que nem um raio. Até hoje. Dizem que foi para França e que por lá se acomodou com outra. A minha mãe não era mulher para lamúrias. Ele – o meu pai – nunca me procurou. Nem sei se ele sabe que eu existo. E o que ela sofreu sozinha sem despejar palavra, sem um queixume. Até morrer, coitada. O senhor não sabe a dor de alma que é uma pessoa estar na guerra, tão longe, e receber a notícia da morte da mãe. Só vi a campa um ano depois. Mas não era isto que eu lhe queria contar. Vamos pelos Estados Unidos da América ou descemos a Almirante Reis? Almirante Reis, Campo Santana, Rua das Pretas, Praça da Alegria? É muito mais longe, mas o senhor é quem paga, o senhor é quem manda. A vida é uma merda, digo-lhe eu, e desculpe-me falar assim. Veja só o senhor o que me aconteceu: vivia eu sossegado com a minha Rosa numa vivenda na Musgueira Norte. Conhece? Ali mesmo por detrás do aeroporto. Era de madeira, mas eu já tenho visto filmes americanos com bonitas casas de madeira onde vive gente rica. Era de madeira, mas tinha muito espaço. E pagava só quinhentos e vinte escudos por mês. Dois euros e meio nesta moeda nova. Vivi ali com a minha Rosa desde que vim de Angola. Quase trinta anos, amigo. São muitos anos. É muita vida. Não temos filhos. Coisas dela, está bom de ver. Às vezes, com voz mansa para eu não me enfurecer, a minha Rosa diz-me que posso ser eu o culpado, mas quem acredita numa coisa dessas? Quem tem de parir é ela, não sou eu. Concorda comigo, não concorda? Namorei com a minha Rosa desde os dezanove anos. Conhecia-a num baile na sociedade recreativa de S. Mamede, ali ao pé do Largo do Rato. Conhece? Aos domingos à tarde lá estava eu com a minha melhor roupinha. Ela era muito jeitosa e muito pretendida. A Rosa tinha boas mamas, e eu sempre gostei de mulheres com boas mamas. Quando regressei do ultramar casei logo com a minha Rosa. Ela esteve aqui à minha espera, como uma santa. Até me dá vergonha dizer isto, mas é verdade: ela é a única mulher da minha vida. E também eu sou o único homem da vida dela. Fui eu que a desflorei depois de casarmos. Não foi como essas poucas-vergonhas que agora acontecem com estes jovens: quando casam já dormiram juntos tantas vezes que estão à beira de se separarem. É por isso que agora há tantos divórcios, sabia? Eu sei porque li há dias num jornal. No meu tempo não era assim. Mas eu queria contar-lhe porque é que estou amargo. Veja lá: os senhores da Câmara, com essas modernices de quererem acabar com as barracas e quererem meter toda a gente em prédios de cimento, começaram a deitar abaixo aquilo tudo. Eu já lhe disse que não vivia num barraca? Aquilo era uma vivenda. Tinha dois pisos. Era toda de madeira, mas tinha dois pisos. Fui eu que construí o piso de cima com madeira que ia comprando aos poucos. Com estas mãos calejadas que aqui vê. E só pagava quinhentos e vinte escudos pelos dois pisos. Agora, meteram-me num andar pequenino e mal construído. Muito mal construído, garanto-lhe eu que percebo da poda. Fui servente de pedreiro antes de ir para a tropa. O táxi veio depois. Protestei, mas os senhores da Câmara disseram-me que para mim e para a minha Rosa chegava. Que haviam outras famílias que precisavam mais do que eu. Quem tem filhos tem direito às casas maiores, disseram-me eles. Isto assim dito até parece que faz sentido, mas não faz sentido nenhum. Gostava de ter filhos, mas a Rosa não lhe deu para isso. Nem sei a quem vou deixar o táxi. O que é que os senhores da Câmara sabem da minha vida para decidirem que aquele andar só com um quarto e uma sala chega para mim e para a minha Rosa? E sabe que mais, amigo? Está tudo mal construído. Está tudo tão mal construído que até as paredes são de “pladur”. Veja bem: agora, depois de me mudar para aquela casita, para acalmar a minha Rosa é um transtorno. Aí há dias, por causa da merda da casa, e peço desculpa outra vez, veio à baila a conversa dos filhos. E ela a querer, outra vez, passar a culpa para cima de mim. Sabe o que é que ela me disse? Que ainda estava a tempo de tirar as teimas indo para a cama com outro homem. Isto é coisa que se diga a um marido? Amigo, falo-lhe com o coração: se fosse na nossa vivenda, aquela que os senhores da Câmara demoliram, a Rosa tinha apanhado um soco nas trombas que até voava. Mas ali tive que me conter. Está a ver? As paredes são de “pladur" e eu tive medo que ela fosse parar à casa do vizinho. Já viu o transtorno que isto me causa? Já viu porque para mim não há dias bonitos? Porque tenho que viver numa casa da Câmara.

 

Tomás Vasques

(blogger do 'Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos')

 

01
Out08

Gatos e Cães

Rui Vasco Neto

E pronto, entrámos em Outubro. Para o final desta festa de aniversário do 7Vidas faltam cinco dias e alguns convidados, que fizeram questão de marcar presença com as suas palavras. A escritora Soledade Martinho Costa é um desses casos. Ex-blogger do AspirinaB, de onde saiu para criar o seu Sarrabal, com vasta obra publicada e espalhada por várias editoras, a Sol é das visitas mais regulares cá da casa, faz parte do núcleo duro, chamemos-lhe assim, aquele que eu chamaria se fosse o Bush (credo!) para reunir de emergência e dar conselhos ao mundo. Wall Street afundar-se-ia na mesma, suspeito, mas a poesia e a literatura sairiam a ganhar, disso não tenho dúvidas.

Em baixo: "Gatos e cães"

Sete vidas mais umaSoledade Martinho Costa 

 

Tenho encontrado um pouco de tudo neste blog: brincadeira, humor, crítica, desabafos, notícias, poemas, textos eruditos. Mas, sobretudo, encontrei um coração grande, o do seu bloguista, aberto ao Mundo, lavrando o seu protesto contra as arbitrariedades, a incapacidade de amar o próximo, a incúria, a prepotência, a maldade, a tragédia, o drama.
 
A tocar na «ferida» e a deixar que as palavras, uma a uma, cheguem ao leitor menos atento ou sensível aos problemas alheios. Se nos calha uma dessas palavrinhas, quem sabe se o Mundo não pode melhorar um pouco mais? Se não nos dá um pouco mais de consciência, de responsabilidade, de solidariedade? Se o egoísmo deixa de governar o planeta em que vivemos?
 
O Rui, brilhante jornalista, tem feito isso. Com mão de mestre. Ao despertar em mim um sorriso ou uma gargalhada quando leio os seus posts, não quer isso dizer que não atinja o alvo sempre que as suas palavras fazem assomar uma lágrima aos meus olhos.
 
Em ambos os casos, um bem-haja e que conte muitos aniversários! Afinal, temos quase «a mesma idade», o meu Sarrabal fez um ano no passado mês de Julho (dia 23) e o 7Vidas agora, em Setembro.
 
Adoro gatos. Adoro cães. Não conheço o Gastão. Nem tenho o gosto de conhecer pessoalmente o dono do Gastão. Por email e por telefone, sim. A blogosfera tem destas coisas. Apenas conheço de longa data as sete vidas dos gatos. Uma de cada vez. Morrendo e renascendo. Embora rejeitando. Dizendo que não. Que não é mais possível. Que não se é capaz. Mas voltando sempre à vida mesmo depois de sete mortes. Para viver outras sete vidas, como os gatos.

 

26
Set08

Eu era só para dar uma palavrinha...

Rui Vasco Neto

O título engana, eu sei. Era só para dar uma palavrinha mas deu estas todas que se seguem, já se sabe, são como as cerejas, as palavras. Nem sempre doces, as deste meu convidado de hoje. Às vezes ácidas, outras divertidas, algumas amargas, muitas notáveis, umas quantas romântico-afrodisíacas (uma das suas especialidades). Mas todas sempre muito bem trabalhadas, de uma entrega total e de uma regularidade invejável e rara nesta blogosfera onde o seu Charquinho é referência obrigatória há quatro vezes este ano que eu agora comemoro, nesta festa de autores que seria bem mais pobre sem a sua presença. Felizmente veio, o Shark. Só para dar uma palavrinha, claro.

 

 

Em baixo: "Eu era só para dar uma palavrinha..."

Sete vidas mais uma: Shark  

 

 

São as palavras, essas gajas que se dizem e que de igual forma não entendemos na maior parte do tempo em que as escrevemos, o elo de ligação.

 

Vidas, sete ou apenas uma daquelas bem esgalhadas, existências cruzadas no caminho virtual que calcetamos com emoções escritas das que nos prendem a atenção.

 

Neste espaço de felinos encalhou um tubarão, atraído pela curiosidade que dizem matar gatos mas no caso em apreço apenas fortaleceu o autor para quem as palavras escritas só fazem sentido se existir alguém para as ler.

 

E eu rendo homenagem ao escriba que se dá a conhecer no talento que lhe reconheço e um ano decorrido não logrou desmentir. Pelas palavras que têm o condão de unir pessoas em torno de um prazer comum que cultivamos assim, mostras-me a tua e eu mostro-te a minha e a ninguém preocupa quem a tem maior ou a mais atrevida, a prosa, que apreciamos mais crescida quando a tesão nos invade os dedos e fazemos acontecer no teclado como na pele de uma mulher um pedaço de nós.

 

Sete vidas que se investem no tempo de uma só, com o empenho que as palavras denunciam. Oferecidas em frases trajadas a rigor, vestidas com o amor que com elas se faz quando se gosta tanto assim de comunicar.

 

E tu, autor desta pequena montra daquilo que fazes melhor, expões-te à verdasca virtual sem dares os flancos porque aqui acontece uma vida em que dás muito de ti e a malta gosta porque é bom e cabe-me nesta altura ser um dos porta-voz dessa comunidade de apreciadores para quem, bons entendedores, meia palavra bastaria.

 

Mas um ano é muito tempo nesta nossa realidade virtual e por isso ninguém levará a mal que lhe acrescente a outra metade de uma palavra qualquer para que ninguém alegue não perceber o objectivo único desta missiva lamechas que te ofereço, é toda tua.

 

E a palavra completa só pode ser uma. Aquela que te diz: continua!

 

 Shark

(blogger do 'Charquinho')

 

21
Set08

A amizade

Rui Vasco Neto

A acreditar no próprio, 'Confúcio Costa terá, ao que tudo parece indicar, nascido'. As suas 'Intermitências da Corte' são um mundo de reflexão dado à estampa em conclusões de truz. Nesta aguarela de autores, que por este mês se juntam aqui no 7Vidas com o fraco pretexto de um aniversário, Confúcio, o Costa, é mais uma tonalidade inconfundível e imprescindível ao retrato de grupo, neste Setembro em festa que vai ficar para a blogoposteridade. Em nada deslustra o resto da pandilha que por estes dias me traz blogofeliz. Aliás (mais uma vez a acreditar no próprio) somos até semelhantes, eu e ele: “Somos, de facto, muito iguais. Ambos temos a certeza, inabalável, de que somos únicos.” É assim o meu convidado de hoje.

 

Em baixo: "A amizade"

Sete vidas mais uma: Confúcio Costa

 

 

A amizade pode ter muitas faces. Mas tem, sobretudo, a face que não se vê. A face de estar – sem necessitar de estar; de sentir – sem necessitar de tocar.

De gostar – sem necessidade de importunar.

 

A amizade pode ser muitas coisas: um abraço, um carinho, uma palmada nas costas, um berro, um conselho. E letras. Sim: a amizade pode ser letras. Só isso: letras. Umas atrás das outras. E, no entanto, todas à frente. De nós, claro. E dos outros também.

 

A amizade pode ser – e é – muitas coisas. Mas não é, com toda a certeza, deixar de responder o mais simnoro dos sim’s (ou: em inglês, dos sin’s – sem ponta de pecado) quando nos é pedido que o sejamos: amigos.

 

E oferecer a amizade é oferecer aquilo que a amizade é – aquilo de onde ela nasceu, cresceu e se reproduziu (em parágrafos de diálogo por dialogar). Sim: em letras.

 

E é em letras – nas que acabaram de passar – que se expressa o sim. O sim de estar aqui – a abraçar sem braços e a dizer olá sem voz – a amigar em hora de celebração.

 

É um ano – sim. Mas já parecem muitos. Porque os anos, entre amigos, não se contam em tempo. Os amigos, entre os anos, são uma forma de tempo.

 

Confúcio Costa

(Blogger do 'Intermitências da Corte')

 

20
Set08

O Gato das Sete Vidas faz um ano

Rui Vasco Neto

Somos colegas de profissão e fomos colegas de estação, na TVI, ele na redacção e eu, curiosamente, vivendo a única experiência que fiz na apresentação de entretenimento, em 28 anos de jornalismo. Para mim é das vozes mais fiáveis, na área da Saúde, onde escava informação há um ror de tempo (com trabalhos verdadeiramente notáveis n'O Independente', ainda antes da TVI), bichinho álacre e sedento, num perpétuo movimento. Convidei-o para se juntar à exposição de aniversário do 7Vidas, pois claro, a comissão de festas de Carimbais de Cima teria feito igual, tenho a certeza. Saiu-lhe o texto antes mesmo da resposta, que veio a seguir: «Não é preguiça, essa saudável parideira de virtudes, ou desapreço pelo retratado. Ainda ponderei escrever outro texto mas, por incrível que possa parecer-te, convenci-me de que não sairia tão próximo do que penso como o primeiro». Por mim está tudo bem, isto é assim mesmo, houve um senhor que trouxe um bolo de ananás e eu fiquei feliz na mesma. A questão não é essa. Mas tinha mesmo que lhe dar para os retratos, pergunto eu?

 

Em baixo: "O Gato das Sete Vidas faz um ano"

Sete vidas mais uma: Carlos Enes

 

Para o escravizado mordomo de um cão com blog era irresistível tornar-me assíduo do gato. O Petra faz que não gosta, como lhe compete, por isso visito-o às escondidas. A melhor hora é a terceira da madrugada, com o copo de plástico do último bombay da esplanada do miradouro a verter para o teclado. É como entrar numa casa de fado e gostar da música.

O gato é um escritor de canções. Letras longas, feridas fundas, densidade, lucidez e estilo. Uma incarnação improvável de Bruce Springsteen, Tom Waits, Albert Ayler, Chico Buarque e David Byrne. Ele que me desculpe, mas não consegui meter aqui a Mayra Andrade. Estou a sério e julgo ter encontrado a precisão jornalística.


Vi o gato uma vez na vida, na noite de Lisboa. Não me recordo do assunto, mas sei que nos entendemos. Não tem tanto a ver com estar de acordo como com estar-se acordado numa corda de trapézio a que se chama vida. Ele tem sete, por isso salta melhor e mais vezes. Fortuna dele, pequeno prazer de quem o visita, azar de quem o atiça.

 

Carlos Enes

(blogger do 'Fragmentos do Apocalipse')

 

19
Set08

Chama

Rui Vasco Neto

Ah!, meus amigos, que noite linda tive eu ontem sem o esperar! Perdi-me em Alfama, encantado, no fado do 'Mesa de Frades' e da Carminho, no talento do Pedro Castro, nos pormenores do 'meu' Diogo Clemente e na alegria de reencontrar a minha gente (quase) toda junta, numa daquelas noites raras que daqui por vint'anos alguém vai contar que aconteceu. Cantámos uns quantos, muitos muito bem, mas quando chegava a vez do Camané, por exemplo, o silêncio que se fazia parecia diferente, não sei, interior, talvez. Uma espécie de reverência de quem se sente na presença de algo maior, porque genial. Não sei se me expliquei bem, mas como a seguir vem este texto do valupi, pensei que talvez os senhores entendessem melhor aquilo de que falo. Ou, melhor, por que me calo.

 

Em baixo: "Chama"

Sete vidas mais uma: Valupi 

 

Imagina-te do lado de fora do Universo vai para 14 mil milhões de anos; ou coisa que o valha, que nessa desolada condição chega uma altura em que se perde a conta até aos milénios quanto mais aos anos. Repara na agitação das galáxias, sempre a cirandar à volta umas das outras, a namorarem, a fundirem-se. Olha com mais atenção, e acredita: por cada estrela, deves antecipar a existência de 10 planetas. Sim, é variado e não há falta de espaço, esteja este vazio ou por ocupar. Mas bastava um dos calhaus, aquele um pouco mais de azul. Cerra os olhinhos, consegues ver? Está cheio de gente. E de paisagens. De esperança. Pois, isso já não consegues ver. Tens de te aproximar da gente para que a esperança se aproxime de ti.

 

Agora, ainda aí onde te foste encafuar um quarto de hora antes de se inventar o tempo, e donde ficaste a olhar divinamente parvo para o Universo, imagina que te ofereciam a possibilidade de nascer nessa terra chamada Terra. Ou num dos seus sete mares. E que podias escolher a forma de vida. Ser peixinho ou passarão, árvore daninha ou erva-gigante, gatinho assanho ou leão de leite. E que tal nasceres com a capacidade de falar? E até de escrever, já agora e se não for muito incómodo? Que farias com um cérebro tão matreiro que conseguisse transformar açúcar em declarações de amor? Não respondas já, calma. Demora um segundo inteirinho a pensar na proposta.

 

O meu amigo Rui Vasco Neto, com quem nunca me encontrei ou falei ao telefone, celebra 1 ano do 7Vidas e deu-me a honra de participar nas festividades. Desconfio que os blogues não vão conseguir descobrir a cura para as doenças, acabar com a fome e as guerras ou tão-só baixar o preço dos combustíveis na Galp. Mas sei que eles juntam inteligências, memórias e vontades segundo duas antiquíssimas leis:

 

1- Os opostos atraem-se.

2- Os iguais procuram os iguais.

 

Assim foi e é. O que fazemos nos blogues, o que fazemos uns com os outros em liberdade, não passa de mais uma tentativa para manter esta paradoxal chama acesa. Para uns será luz, para outros calor. Nuns casos leva-se para a cozinha, noutros para o meio da rua. Faz-nos companhia, queima-nos. Porque tudo o que nos ajuda também nos pode destruir. E o que parece matar-nos pode ser a própria salvação.

 

Já não arrisco nada com esta conclusão: Rui, dá cá lume.

 

Valupi

(blogger do Aspirina B)

 

17
Set08

Sete Vidas

Rui Vasco Neto

No mapa das minhas referências blogosféricas, Pedro Morgado marca a norte. O seu 'Avenida Central', lugar de inteligência, dispensa encómios meus, sobra quem os faça por razões tão boas quanto variadas. Na hora de organizar a lista (de que Schindler se riria, certamente, de tão curta, comparada com a dele) de convidados para esta festinha caseira, o seu nome impôs-se sozinho, praticamente, tão natural era a sua escolha. O seu 'presente!' veio rápido e decidido: «Desafios? Vamos a isso!», foi a resposta, imediata. E hoje mandou esta prendinha que vai já para a mesa, antes que arrefeça: «O texto é curto e constitui-se como uma pequena homenagem ao blogue que muito aprecio», acrescenta, em breve nota privada; «Estou numa semana inteiramente preenchida com trabalho». Perante isto, mesmo que eu tivesse palavras, nesta altura, não sei como faria para as juntar ao que sinto num agradecimento capaz e que escapasse aos salamaleques ocos do costume.

 

Em baixo: "Sete Vidas"

Sete vidas mais uma: Pedro Morgado

 

O simpático convite de Rui Vasco Neto para me associar ao primeiro aniversário do blogue «Sete vidas como os gatos» não poderia deixar de ser correspondido. Não havendo bolo nem champanhe e já que «quem não tem cão caça com gato» festejemos com palavras.

 

Se é verdade que «sete vidas tem o gato», também não é mentira que há por aí demasiada gente que não tenha uma única no pleno gozo dos seus direitos e com a expressão cabal de todas as suas potencialidades. O inferno na terra, via regeneradora para uma qualquer espécie de vida do além, vai-nos sendo imposto com demasiada frequência pelos algozes da (sua) moral e dos (seus) bons costumes. Pelo contrário, sabendo-se que «de noite todos os gatos são pardos», este gato de sete vidas mantém a identidade a qualquer hora e mia com frontalidade contra a hipocrisia reinante pelo que não constitui perigo de vender «gato por lebre».

 

É gato, mas não é gato escaldado nem de água fria tem medo. Felizmente.

 

Pedro Morgado

(blogger do 'Avenida Central')

16
Set08

Matreco

Rui Vasco Neto

Trago-vos a vida de um colega, desta vez. Dois colegas, se contarmos com o autor da história dessa vida, Luís Novaes Tito, profissional de barbearia com nome feito na praça (à custa de muito escanhoar) e amigo cá da casa. Ao ponto de me ter feito oferta desta prosa, para juntar à festa deste aniversário, em que nos conta a vida de Matreco, o tal colega a que me referi no início da conversa. Pois este colega Matreco é o segundo felino a ter honras de vida contada com mão de mestre, aqui no 7Vidas (o primeiro foi Malino, de Daniel de Sá, lembram-se?). Mas Malino não queria ser deputado, como este novo colega com 'seis vidas queimadas'. «Um dia, caro Rui Vasco, escreverei as memórias do Matreco», diz-me Luís Novaes Tito em recado privado. «Para já e porque as sete vidas dos gatos são como as cerejas junto a minha à vossa voz com esperança de que, mesmo no “no-sense”, não venha a ser dissonante. Segue com um abraço e com a vaidade de ter sido seleccionado como Blog-amigo dessa casa», remata o meu convidado de hoje. Siga a festa, portanto. E olhem só p'ra mim todo vaidoso também!

 

Em baixo: "Matreco"

Sete vidas mais uma: Luís Novaes Tito

  

 

Matreco, felino riscado de bigodes rijos, tinha por particularidade deitar-se sempre de costas viradas para os convidados, rabo enrolado sobre a coxa direita e fingido, como só o Matreco sabia fingir, de olhos verdes fechados para pensarem que dormia.

 

O Matreco nunca chegou a Deputado. Preferia sair para as gatas em noites de farra sem dar nas vistas e por lá foi perdendo vida após vida entre brigas e disputas pela miúda mais gira das vadias do bairro.

 

O Matreco era vivaço, sabido. Em tempos de abundância formou sindicato, fez-se líder, alambazou-se de petiscos, encheu a pança e intitulou-se doutor, daqueles com Dr.

 

O Matreco está a ficar velhote. As artroses já não lhe permitem veleidades maiores. Deixa-se ficar de costas viradas, olhos verdes fechados, de rabo enrolado sobre a coxa direita. Sabe-se acordado porque quando dele se fala roda as orelhas na direcção do som que pronuncia o seu nome, curioso por saber o que dele contam.

 

Com seis vidas queimadas o Matreco que nunca chegou a Deputado deixou-se de gatas e sonha em ter sossego na vida que lhe resta. Está acomodado e já gosta de festas.

 

 

Luís Novaes Tito

(Blogger d' "A Barbearia do Senhor Luís")

 

10
Set08

O vento nas asas

Rui Vasco Neto

Se há festa cá na loja eu convido o Cantigueiro, pois claro, não tem que saber. Porque ele canta e toca, a grande pecha dos artistas que nunca sabem quem é o convidado, se ele se o estojo da banza? Nada disso, porque ele é seguramente dos primeiros visitantes, clientes, comentadores do 7Vidas e um dos mais fiéis, valha a verdade, até ao dia de hoje, isso sim. Mas (não há bela sem senão) se não toca tem que escrever, é isso ou votar PSD nas próximas eleições, ou então não entra, foi assim que eu pus a coisa ao meu amigo Samuel (às vezes temos que ser duros, mesmos com os amigos). Ele resolveu em três tempos;  «Ainda um pouco apardalado com o convite, resolvo, antes que caia em mim, responder rapidamente com este pequeno texto que cometi quase a correr e ainda sob o efeito da vaidade.», começa por me escrever. Depois oferece-me esta pérola de sinceridade que vão ler, dupla entrega, texto mais coração. E ainda termina como quem pede desculpa por dizer que sim: «Atendendo a que não sou escritor e a última coisa que quero é descer o nível da escrita na festa do "sete vidas como os gatos" (a sério), farás desta espécie de história o que entenderes melhor.» Pois é. É assim que os pequenos são grandes, é o que é.

 

Em baixo: "O vento nas asas"

Sete vidas mais uma: Samuel

 

 

A sua vida preparava-se para mudar para sempre, mas isso ele não tinha como saber naquela altura. Por esse tempo era um miúdo franzino, calado, de cabelo grande e encaracolado, uma barba meio improvável e uma tendência já provada para não dar os passos mais convenientes. Os últimos anos passara-os a dar alguns desses passos largos que o levavam para o desconhecido, mas que tinham a vantagem de o afastarem do lugar em que não queria estar, a igreja evangélica de que o pai era pastor, profissão que se preparava para lhe deixar como (única) herança. Era, decididamente, uma idade um pouco “parva” para assumir a aventura de ficar sem Deus, sem Igreja e na prática, sem família (“Antes quero ver-te num caixão...”), mas foi o que fez.

 

Ainda em casa dos pais, nova cidade, nova repetição de ano escolar, no íntimo a certeza de que desta vez não ia repetir os anteriores chumbos por faltas (com notas para dispensar), cenário magnífico, os Templários, a roda do Mouchão, empatia instantânea com meia dúzia de novos colegas extraordinários, a começar pelo poeta apaixonado por Allen Ginsberg, que lia os versos das cantigas de Bob Dylan muito mais vezes do que as ouvia e finalmente, um grupo de professores absolutamente sem precedentes.

 

Foi a altura da descoberta, pela mão de alguns desses professores, de cantores até aí desconhecidos, temas nunca antes ousados, a surpresa da Filarmónica Fraude (produto local), a temeridade de começar a cantar nas escadas da românica Igreja de Santa Maria dos Olivais algumas das cantigas desses cantores, sobretudo de um deles (vício que manteria para o resto da vida), ainda olhando mais para os dedos da mão esquerda que tropeçavam em acordes descobertos na véspera, do que para o generoso público de amigos e amigas.

 

Alguns desses recitais começaram a ter lugar noite fora, em casa de alguns desses estranhos professores, que de uma forma surpreendente o convenceram  de que estavam genuinamente interessados em saber o que ele pensava, coisa que nenhum outro adulto fizera até então. No dia seguinte, vestiam novamente a formalidade obrigatória numa escola dirigida por um deputado da Assembleia Nacional “marcelista”, mas já nada apagava a cumplicidade gostosamente clandestina que fazia correr mais depressa o sangue em cada cruzamento pelos corredores, em cada troca de olhar na sala de aula.

 

Com uma professora desse grupo, cultivou uma relação verdadeiramente inaudita, que incluía, por exemplo, o hábito de dar grandes passeios de automóvel. Por vezes, duravam todo o fim de semana. Num desses passeios, cujo itinerário foi mantido em rigoroso segredo, depois de muitos quilómetros que pareciam ir acabar numa visita ao forte de São Filipe para ver de uma assentada Tróia e Setúbal e ouvir histórias de Fenícios e Romanos, pararam num prédio com um ar vulgar, subiram uma escada e ela tocou a uma campainha, com ar de mistério. Abriu a porta uma senhora bonita e pequena, que com ar cúmplice disse lá para dentro “É a tua amiga de Tomar...”. Apareceu então à porta aquela figura informal, de cabelos revoltos e óculos colados com adesivo, cujos olhos riam antes do resto do rosto, e a professora, com ar de genuíno gozo “Pronto, aqui está! Este é que é o Zeca Afonso que tu cantas!

 

Ficou embasbacado (até hoje, parece...) e sentiu um frio bom nas costas, igual ao que devem sentir as gaivotas quando o vento certo resolve soprar no momento exacto em que abrem as asas.

 

A sua vida mudou para sempre.

 

Samuel

(do blogue "O Cantigueiro"

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