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«Acompanhei o caso como jornalista. Ana Sofia, 21 anos, alentejana, bonita, filha única, andava a estudar em Lisboa, como eu andei durante quatro anos. Numa tarde maldita interromperam-lhe o curso. Foi espancada, violentada, asfixiada e brutalmente assassinada por André Casaca, um ex-namorado movido a drogas pesadas, que no fim ainda tentou incendiar-lhe o corpo e meteu-a mesmo num caixote do lixo de Telheiras.
A besta, que eu vi, apareceu em tribunal sem pinga de arrependimento, altivo, arrogante, a defender uma tese de acidente. Tinha decorado o discurso de uma vítima. Mas as entranhas impediram-no de esconder, a cada palavra, o vento tempestuoso e frio dos carrascos. Os advogados dele ainda tentaram fazê-lo passar por maluquinho, que se escreve inimputável na retórica jurídica, mas não colou. Apanhou 22 anos de cadeia, onde seguramente continuará a andar movido a drogas (porque é proibido fumar em espaços fechados, mas para o Estado há espaços mais fechados do que outros). (...)
Mas apesar da falência técnica do carrasco, as contas não ficaram saldadas. O tribunal mandou uma última factura aos pais da Ana Sofia. Tomem lá 15 mil euros de custas judiciais porque estamos no Século XXI e temos Justiça. É o preço a pagar por quem não resolve a coisa à maneira antiga, sangue por sangue, morto por morto.»
(Estas palavras não são minhas. Foram escritas por Carlos Enes, colega jornalista e amigo, aqui, onde aliás se pode e deve ler o resto deste testemunho impressionante sobre um caso de duplo horror.
Horrível, a história de Ana Sofia. Não menos, o estado da Justiça em Portugal.)