23
Nov07
Que grande António!
Rui Vasco Neto
(SOL, hoje)
O homem é um génio. O homem é um prodígio, uma revelação, um portento, um messias que ali está. Eu não o mereço, você não o merece, nós não o merecemos, eles não o merecem. Portugal viveu anos de cegueira, décadas de nevoeiro intelectual cerrado que só terminaram com a chegada deste homem bom e iluminado que nos vai salvar a todos, finalmente. Não, por acaso não estava a referir-me ao professor Cavaco. Eu falo desse mago dos números, desse gestor iluminado, desse visionário pragmático e de excelência que dá pelo nome singelo de António Correia de Campos e serve a Pátria lusitana ao leme da pasta mais complicada de todas as pastas de todos os governos de todos os tempos: a Saúde dos portugueses. Complicada até agora, que daqui em diante não tem espinhas. Agora é sempre a andar, é sempre em frente, a caminho do progresso e do desenvolvimento, que digo eu? Com este homem atrevo-me a sonhar: é o fim de todas as doenças que se adivinha possível com António Correia de Campos.
Eu sei que vai haver quem proteste contra esta ideia do senhor Ministro da Saúde, quem não seja suficientemente António para a compreender. Quem venha falar de minudências, como o facto da Constituição da República assegurar o direito à saúde "tendencialmente gratuita", quem venha com balelas sobre os princípios do 'Estado Social' ou quem conteste a visão de dioptria larga que mostrou António Correia de Campos, nunca é demais recordar-lhe o nome, esse grande António. Que nunca os portugueses esqueçam este nome nem aquele rosto rosado de empenho em tratar-nos da saúde, para que da memória colectiva deste país não se apague o dia em que um ministro socialista descobriu no povo o capital necessário para pagar os seus próprios cuidados de saúde.
Na voz da oposição ou nas palavras do recente relatório do Tribunal de Contas sobre o «Acompanhamento da Situação Económico Financeira do SNS de 2006», a análise crítica ao ministério de Correia de Campos não traz cores muito saudáveis à sua própria fotografia.
Lembrei-me deste texto, velho de um ano, mas actual.

Só de pensar no tempo perdido sinto arrepios. Deve ser disso, não pode haver outra razão para o frio de morte que me assolou a espinha desde que escutei as palavras deste grande António ontem na televisão. Chegaram-se-me as lágrimas, quase, quase. O homem disse que estava 'empenhado numa cruzada' e eu não duvido. Falou no 'milagre' que era preciso para salvar o sector da saúde, na responsabilidade de todos nós e noutras coisas bonitas, com palavras também bonitas e uma gravata encarnada que não era feia de todo, que eu já a tinha visto quando a televisão o mostrou anteontem, ali, todo António, na inauguração do novo hospital privado de Belmiro de Azevedo. As palavras que disse nessa altura também me pareceram jeitosas, congratulando-se "com este tipo de parceiros privilegiados que a saúde precisa em Portugal" e visitando o novo espaço que está a partir de agora ao dispor dos portugueses. Pagando, evidentemente.
Talvez tenha sido nessa altura que teve a ideia, o rasgo, o golpe de génio. E hoje contou a toda a gente a sua solução. Então não é que aquele grande António descobriu que a fonte de financiamento que falta ao Serviço Nacional de Saúde está afinal á vista de todos nós? Basta olharmos para um espelho. Isso mesmo, faça a experiência, olhe para o espelho. O que está a ver é a cara do financiamento, o rosto do pagador. Genial, é o que é! Olhem que eu já conheci muito António na vida, mas um António desta envergadura nunca tinha visto. E tudo tão simples, o ovo de Colombo do financiamento hospitalar. Se os utentes usam o Serviço Nacional de Saúde, os utentes pagam o Serviço Nacional de Saúde. É fácil, é barato e dá milhões que não saem das contas do Estado mas sim do bolso do contribuinte que é o utente. È certo que o utente já é contribuinte mas agora vai poder contribuir para ser utente e aí é que está a simplicidade da coisa. Perceberam?
